quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O mercado de Nenê

Nenê: enigma da vez no mercado da NBA
No ano passado foi aquele frenesi todo com LeBron James, Dwyane Wade, Chris Bosh, Amar'e Stoudemire. Para 2012, a boataria já é forte para cima de Dwight Howard, Chris Paul e Deron Williams. 

Posicionado entre essas tropas de astros está nosso Nenê Hilário, tido como a grande atração do mercao de agentes livres que foi aberto oficialmente nesta quarta-feira, com os times podendo entrar em contato com empresários e atletas.

Quando abriu mão de um contrato garantido de mais de U$ 11 milhões, muitos poderiam considerar que o sãocarlense havia surtado. Mas longe disso. Agenciado por Dan Fegan, das raposas mais felpudas nestes negócios, o brasileiro sabia que o timing não poderia ser melhor para entrar no mercado. A despeito das incertezas proporcionadas pelo lo(u)caute, uma vez que a poeira abaixasse, como abaixou agora, ele seria a bola da vez.

Seus principais concorrentes pelos milhões (e milhões, e milhões, e milhões...) de dólares disponíveis no mercado são o espanhol Marc Gasol, o gigantão Tyson Chandler e o ala-pivô David West. No momento, é Nenê quem desperta maior interesse, com seis times, além do Denver Nuggets, já envolvidos em negociações: os campeões do Dallas Mavericks, Golden State Warriors, Houston Rockets, Indiana Pacers, Miami Heat e New Jersey Nets.

Ao Yahoo.com, em entrevista a Marc J.Spears, repórter que acompanhava o Denver Nuggets como setorista em sua temporada de novato na liga, Nenê afirmou que não é o dinheiro que vai guiar sua decisão e que, se quisesse, já poderia se aposentar com um bom pé de meia feito.

Pode ser meramente uma frase para pressionar o Nuggets a quebrar a banca em sua manutenção ou forçar que Nets e Pacers (os dois times dessa lista que no momento têm espaço em sua folha salarial para fazer um alto investimento) gastem aos tubos por seu serviço. Pode ser também que o jogador esteja sendo sincero, e tal, abrindo chances para que algumas potências flertem com sua contratação.

Nenê também alegou na entrevista que a direção do clube do Colorado – enrolado durante toda a temporada passada pelo dramalhão em torno de Carmelo Anthony – demorou para conversar com seus procuradores em busca de um novo acordo, demonstrando certa chateação por isso, que teria sido um tratamento injusto. O tom, em geral, foi de alguém que está preparado para deixar a cidade (se não for apenas uma tática de negociação, vale ressaltar de novo).

Se for este mesmo o caso, o que cada um desses seis clubes poderia lhe oferecer em termos de oportunidades (esportivas, deixando as financeiras de lado)? Vamos examinar:

DALLAS MAVERICKS
Mark Cuban sempre foi chegado a torrar uns bons trocados em pivôs. DeSagana Diop, Erick Dampier, Evan Eschmeyer (clique aqui, por favor!), o imortal Shawn Bradley, entre tantos outras figuras inesquecíveis. Nenê obviamente é mais produtivo que toda essa cambada. Mas o palpite da casa é que ele seria apenas um plano B no caso de os texanos não chegarem a um acordo para manter Tyson Chandler, o que também parece improvável, já que o espigão foi fundamental na campanha do título.

Shawn Bradley: tamo junto em Dallas!

GOLDEN STATE WARRIORS
Procura-se um pivô desesperadamente. A equipe californiana talvez não tenha um grandalhão decente desde os tempos de Nate Thurmond e seu título nos anos 70, sem brincadeira. Manute Bol, um decadente Rony Seikaly, Adonal Foyle, Todd Fuller, Felton Spencer... A lista é interminável e folclórica. O letão Andris Biedrins parecia a solução, mas entrou numa espiral bizarra nos últimos anos, vendo sua confiança moídíssima. Aqui, um Nenê teria status de Shaquille O'Neal. Mas valeria apenas trocar Denver por Oakland? O Warriors tem um novo grupo de donos que promete investir pesado. Stephen Curry é um armador de muito potencial. Se a intenção do sãocarlense é brigar no topo, porém, aqui seria um regresso.

HOUSTON ROCKETS
É o time dos nerds. Gente formada no MIT na gestão. O clube que lidera a revolução estatística da NBA. Devem amar Nenê, que se dá bem em qualquer índice métrico divulgado nos EUA. Lá, ele poderia fazer parceria com Luis Scola, se não se incomodar em dividir espaço com o carrasco de sua última passagem pela Seleção no Pré-Olímpico de Las Vegas 2007. Chegaria com status de estrela, como referência ofensiva ao lado do ala Kevin Martin. Sua presença poderia ser o fator a empurrar o Rockets de volta aos playoffs no Oeste. Hein, hein?

Houston, we have a solution: Nenê poderia unir forças com algoz Luis Scola 
INDIANA PACERS
Mais um clube que teve uma ótima década de 90 na NBA, passando no momento por um projeto de reformulação. Chegou aos playoffs do ano passado, mas com uma campanha abaixo da média. Tem, de todo modo, uma base promissora. Nenê, aqui, seria deslocado para a posição de ala-pivô, a não ser que se desfizessem da torre chamada Roy Hibbert. No Leste, teria mais chances de convocação para um All-Star Game. E poderia ganhar um bom salário. Que tal?

MIAMI HEAT
Um "Big 3" de conluios não parece o suficiente na Flórida. Os frescos percisam de mais ajuda. Nenê cairia dos céus. Será? Nenê aqui certamente ficaria perto do título, mas... A que preço? Literalmente ou não. Já foi um sacrifício dividir a bola entre James, Wade e Bosh. O brasileiro se contentaria com um papel de Joel Anthony? Que é basicamente o seguinte: apanhe o rebote, dê o toco, tome porrada por nós no corta-luz e se contente com as migalhas de rebote ofensivo. Não sei bem o quão feliz o pivô ficaria ou mesmo o quão capacitado ele é para desempenhar essa função. Bleargh.

"Olha, Joel, vê se faz assim e assado", aponta LeBron. Nenê vai topar?
NEW JERSEY NETS
Recusados por James, Wade, Bosh e, por fim, por Anthony no ano passado, a franquia do russão Prokhorov está desesperada atrás de reforços. Aguardam com ansiedade a entrada de Dwight Howard no mercado. Mas será que eles abortariam seus planos ambiciosos de dominação da América para fechar com Nenê agora? Talvez fosse uma contratação para agradar ao armador Deron Williams, quem sabe. Sob a batuta do trilhardário magnata, esse paulista poderia esperar uma série de mimos e regalias.

Algumas cartas estão na mesa. Agora é só esperar uma ou duas semanas para ver o que o enigmático Nenê tem em mente.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Gerações do NBB

Num esforço de reportagem daqueles... Envolvendo números, mas não sem a ajuda da calculadora... A navegação pelo ainda defasado site do NBB (que foi o que serviu de base para a pesquisa, então esperamos que todos os inscritos estejam ali cadastrados) ... Chegamos a um apanhado das gerações envolvidas neste NBB, entre os jogadores, com a média de idade de cada equipe. Na falta de um recurso gráfico mais interessante, vamos apelar ao texto corrido. Então, por favor... Paciência com a casa.

OS CAÇULAS


Paulistano de Pedro e Arthur: terceiro time mais joven no NBB4

De bate-pronto: o time mais jovem do campeonato, em sua quarta edição, é o Minas Tênis, com uma tenra média de idade de 21 anos. Ex-candidato ao título, o tradicionalíssimo clube apela para os garotos de sua base, ao menos sem fechar as portas. O lado bom dessa história é que duas apostas de Rubén Magnano, o ala Bruno Irigoyen, gaúcho de Porto Alegre, e o ala-pivô Cristiano Felício, mineirinho de Pouso Alegre, terão seus minutos garantidos para progredirem na marra. Vale seguir a dupla bem de perto. Em meio a tantos garotos que alternam entre 17 e 19 anos estão apenas dois veteranos: o armador Mark Borders (29) e o ala-pivô Leandro (30).

Um enredo idêntico ao que acompanha o Joinville nesta temporada, o segundo time mais jovem, com 22,5 anos. A diferença é que o clube catarinense apresenta uma base mais experiente, com Shilton, Tiagão e Luiz Felipe, além de Audrei e André, dois atletas de apenas 24 anos, mas om uma certa rodagem na elite.

O Paulistano, surpresa do início da temporada, é o terceiro mais jovem, com 23,3 anos, mesclando ótimos valores de suas categorias de base com um núcleo de jogadores mais experientes, embora não tão badalados, como o ala-pivô Felipe (o líder do time), os pivôs Adriano Machado e Guillermo Araújo e o ala Alex.

Curioso constatar que nenhum dos clubes estreantes apareça aqui. A Liga Sorocabana tem 25,3 anos de média, exatamente a mesma do CETAF, enquanto o Tijuca, com Olívia e tudo, tem 26,7.

OS FAVORITOS
Flamengo: a base mais velha, liderada por Marcelinho, 36
Dos candidatos ao título, apenas o Bauru aparece com média de idade abaixo dos 25 anos: embora o "abaixo" valha mais ao pé-da-letra mesmo, já que seu número é de 24,9. Destaque para os escoltas (ou ala-armadores, ainda não está muito claro) Gui e Lucas, ex-Sorocaba, de, respectivamente, 19 e 21 anos, dois atletas explosivos e muito promissores.

O resto? Bem, não é coincidência que estejam entre os mais velhos do campeonato. O Flamengo é quem agrupa, em média, os vovôs: 29,2 anos, liderados pelos 36 de Marcelinho. Aos 24 anos, Caio Torres é seu atleta mais novo.

Em sequência aparecem o Franca (nenhuma surpresa, claro), com 28 anos de média, e o Brasília, com 27,3. Ambos os clubes contam com atletas de idade juvenil no plantel, mas fica a dúvida se eles estão lá apenas para fazer volume – ou, no caso candango, para jogar em condições de risco –, ou se fazem parte dos planos de seus treinadores quando esses tiverem força máxima para usar. Se não fizerem, a média de idade aqui ganha controno irreal. O mesmo raciocínio vale para o Pinheiros (25,3): o novato Davi está inscrito, mas suas perspectivas de tempo de quadra são mínimas, então a base que joga, de fato, é um pouco mais velha.

Douglas Nunes, Gui e Lucas: sangue jovem pelo Bauru

EXTREMOS
Rogério Klafke, incansável, é o ancião do NBB, com 41 anos, que vão virar 42 no dia 26 de março de 2012. Ele é mais velho que seu treinador Demétrius e bem mais velho que o comandante do Paulistano, Gustavo de Conti. Mas talvez os dois quisessem trocar de lugar com o ala para ainda marcarem seus pontinhos, não?

Na outra ponta do espectro, está o pivô Lucas Dias Silva, do Pinheiros, de apenas 16 anos e 2,03 m de altura que deve espichar mais um pouco. Nascido em 6 de julho de 1995. Então confere: 16 anos, ou um Juan Figueroa mais jovem que Rogério.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Ponto de referência

Betinho: menos bolas de três e mais agressividade em vitória sobre Franca


Sabe aquela comparação básica que o professor de física usa para elucidar – e tentar cativar – o aluno que só quer saber de estudar Humanas? Tem aquele pedestre que vê o busão descendo a rua a mil, enquanto o passageiro, quase dormindo no banco com a cabeça encostada no vidro, olha para este mesmo pedestre e com a impressão de que é aquele infeliz ali no ponto a estar em velocidade alta. A moral da história: tudo depende do ponto de vista. Ou pelo menos algo assim, né?

Pois bem, essa comparação, na verdade, não pode ser empregada de modo algum quando abordamos a vitória do Paulistano sobre o Franca, nesta segunda-feira, em casa.

Porque sob nenhuma referência o início de três vitórias e um derrota do time da capital era esperado, considerando sua tabela, assim como nenhum francano poderia imaginar que sua equipe sairia com uma campanha inversa nas quatro rodadas iniciais. Fica difícil de relativizar qualquer coisa aqui.

Para Franca, resta apenas a expectativa pela estreia de seu trio de norte-americans, e que eles sejam realmente muito bons, porque a avaliação que tiramos de seus resultados iniciais é de que o trem está desgovernado em quadra. Reforçando: olhando apenas pelos resultados e estatísticas, pois este tonto aqui perdeu a oportunidade de ir ao ginásio do refinado clube de São Paulo para assistir ao cotejo.

Depois de tomar uma surra do Pinheiros, o placar agora foi de 82 a 71 para os garotos dirigidos por Gustavo de Conti, depois de o time local ter vencido os três primeiros quartos por 18 pontos de diferença. Uau.

Sem Fernando Penna para ajudar Helinho na armação, Franca cometeu mais erros que seus jovens adversários (12 contra apenas oito) e teve dificuldade para organizar seu ataque interior, convertendo apenas 42% de seus chutes internos, um aproveitamento muito baixo para os padrões nacionais e bem abaixo do oponente (58%!).

O ala Betinho foi o cestinha do Paulistano, com 19 pontos, dessa vez equilibrando mais sua balança ofensiva. De seus 12 arremessos, apenas dois foram dos três pontos (dois erros, por sinal), ao mesmo tempo em que marcou seis dos dez arremessos de dois pontos. Além disso, foi o jogador que mais bateu lances livres na partida (dez, convertendo sete), o que denota uma agressividade louvável.

Mas essa vitória não foi de um jogador. Foi de um esforço coletivo salutar, em que todos os dez jogadores utilizados por De Conti pontuaram. Isso, mesmo: dez jogadores em ação, divididos entre os 11min14s do pivô Adriano e os 27min55s do ala-pivô Felipe. (Uma nota para comemorar: o armador Elinho jogou  dez minutos a mais que o norte-americano Jeff Addai). Da mesma forma que quase superaram o Flamengo na rodada de abertura do campeonato. Da mesma forma que já bateram o então invicto Uberlândia e o Tijuca.

Daqui para a frente, o Paulistano já perdeu o status de surpresa (alô, Gonzalo). Seus oponentes vão estar mais ligados (juvenil!?). Tanto melhor: é de duros testes assim que a equipe vai precisar para se desenvolver e seguir na briga pela liderança em alta velocidade, para todo mundo ver.

sábado, 26 de novembro de 2011

Adeus, Leandro

Leandrinho ficou próximo de sua família no Rio de Janeiro, reabilitou seu pulso em quadra e, não, só com fisioterapia, seguiu remunerado e mostrou que um clube brasileiro pode ousar e contratar um jogador top, se estiver bem antenado e relacionado.

"Estou feliz, foi muito bom esse tempo que fiquei aqui. Estou feliz, deu uma carga nova", disse o ala ao SporTV, revigorado pela experiência rubro-negra. Foram quatro jogos seus pelo NBB, com três vitórias e uma derrota, e três pela Liga Sul-Americana, com dois triunfos e um revés. Seria imprudente que ele voltasse a jogar mais uma vez antes de seu embarque.

É uma pena que o astro tenha de se despedir dessa lua-de-mel  em uma partida que só vai existir nos registros, mas que não aconteceu de fato, em mais um papelão do basquete brasileiro. Lamentável também que o Flamengo não tenha feito o barulho devido com o jogador, depois da festa que foi sua contratação.

Segundo a repórter Janaína Xavier, com o fim iminente do lo(u)caute da NBA, seu retorno está previsto para o dia 9 de dezembro. Em Toronto, tem neve, mas o jogo é duro sempre.

Revigorado, Leandrinho dispara rumo a Toronto

Uma jornada bizarra do NBB

Papelão. Vexame. Ridículo. Amador. Absurdo. Inacreditável.

Escolha uma.

O que dizer sobre o acontecido na rodada do NBB deste sábado, no Rio de Janeiro? Para quem não viu, no grande clássico do campeonato, o time de Brasília foi para o duelo com o Flamengo, mas não foi. Como assim?

Bem, o técnico José Carlos Vidal alegou que seus atletas estavam preocupados com uma quadra escorregadia e hesitantes em começar a partida. Mas toparam. Depois de cinco ou seis minutos, o treinador decidiu sacá-los para colocar os reservas, e sem volta.

Uma partida que prometia equilíbrio, então, acabou em um vareio para os rubro-negros. Com Marcelinho, Leandrinho, David Jackson, Federico Kammerichs e todo mundo ativo.

A partir daí temos diveras questões, sendo algumas delas as seguintes:

1) Por que o maior jogo do NBB tem de ser realizado no acanhado ginásio do Tijuca, com uma Arena Multiuso disponível? O ambiente do Tijuca é realmente mais convidativo, fácil de chegar. Dá um ar intimista para a transmissão da TV, considerando o risco de um megaginásio vazio lá em Jacarepaguá.

2) Para evitar um ginásio vazio, era preciso que o marketing entrasse na jogada. Mas todas as fichas de marketing da liga está depositada na poderosa Rede Globo, sua parceira de guerra. Numa semana de Fórmula 1 no Brasil, penúltima rodada do Brasileirão... Quem disse que o modestíssimo NBB teria algum espaço? Mesmo em sua programação regular. A culpa é da Globo, no caso? Claro que não. Está na outra parte negociação. De todo modo, não deixa de ser irônico que um troféu "20 anos SporTV" tenha sido apresentado ao final da pelada.

3) Não passou na cabeça de ninguém que a quadra, com tanto calor e gente no ginásio, pudesse ficar impraticável? Num jogo dessa importância? Com a parceira, amiga de fé e irmã camarada transmitindo? Como aceitar um ginásio em que um placar não tem a contagem centenára? Isso não é pitoresco, engraçado. Eu não ri pelo menos.

4) O jogo teria de ser na casa de um dos novatos do campeonato? Qual o plano de contingência para Flamengo e Tijuca daqui para a frente na liga?

5) A liga vai se pronunciar a respeito, né?

6) Do ponto de vista técnico... Dá para ver que Brasília não tem um banco de reservas aproveitável. Depende muito do quarteto de selecionáveis e de algumas peças complementares. Numa eventualidade de lesões, seu padrão deve despencar. O pivô Ronaldo é interessante, pelo porte físico e a disposição, mas é mais um caso de falta de fundamento claríssima,  como o do armador Raphael.

7) Com um coletivo de luxo pela frente, o que tão de "espetacular" se via em quadra, para o comentarista gostar tanto? Ao menos ele acertou na mosca ao questionar o comportamento do técnico José Carlos Vidal, que "abandon" de fato seu time em quadra. Ele só dirige uma equipe quando tem seus melhores escalados? Que raios. Ajuda a explicar um pouco a situação de garotos como Ronald e Raphael.

8) Imparcialidade em jogo. De novo, o melô do pouquinho. Gente, não foi culpa de Vidal, está acima disso. Não foi apenas uma "situação esquisita".

Foi algo entre... Papelão. Vexame. Ridículo. Amador. Absurdo. Inacreditável.

Já escolheu a sua?

Um dia de Jordan

Por uma noite que seja, Marcus Jordan atuou como um MJ.

Marcus Jordan foi o protagonista numa noite de gala para a família real do basquete dos EUA
Sem lances espetaculares, mas com cestas decisivas. Foram deles os dois lances livres que colocaram a universidade de Central Florida (UCF) na frente do placar contra Connecticut (UConn) a 3min11s do fim, numa virada impressionante da equipe que chegou a ficar 17 pontos atrás dos atuais campeões da NCAA. No fim, vitória por 68 a 63, daquelas pra guardar na primeira gaveta do criado mudo da memória.

Marcus terminou o jogo com 20 pontos, sete rebotes e sete assistências, e seu time soma agora quatro triunfos e um revés. Antes de encestar seus dois lances livres, ouviu de um companheiro: "Ele me disse que eu tenho esse arremesso no meu sangue", contou. Tá no sangue mesmo.

Em sua terceira temporada no basquete universitário dos EUA, aos 20 anos, o ala-armador vai somando suas melhores médias, com 17,3 pontos e 4,3 assistências, mas com rendimento abaixo da média nos arremessos (40,4%), algo recorrente.

Esse MJ tem prospectos duvidosos para seguir carreira no basquete, mas um ano a mais para progredir em seu jogo e ver o que lhe o esporte lhe reserva. Diferente de seu irmão mais velho, Jeff Jordan, de 23 anos, que joga ao seu lado na UCF, mas pretende sair da universidade como um advogado.

Jeff foi jogador de Illinois por três campanhas, mas desistiu de seguir com a vida de estudante-atleta, pelo menos com a seriedade que a maioria de seus companheiros e concorrentes encara. Conseguiu a transferência para a Flórida para acompanhar o caçula. Contra UConn, porém, ele teve uma atuação importante, dando descanso a Marcus e estabilizando a armação da equipe.

Na mesma noite, a NBA chegou a um acordo preliminar com o Sindicato dos Jogadores para que ocorra, enfim, a temporada 2011-2012 da liga, aliviando a barra do pai MJ, apontado como um dos vilões de toda a confusão do lo(u)caute.

Foi uma sexta-feira de gala para a família real.

Jeff e Marcus Jordan, herdeiros

O projeto Fabrício Melo

Toco de Fabrício Melo por Syracuse: envergadura na cobertura do lado contrário
Para os agraciados com a ESPN HD (culpado!), a noite desta sexta-feira, usualmente reservada para a NBA, nos ofereceu um intrigante tira-gosto no basquete universitário: o pivô Fabrício Melo ao vivo em ação pela universidade de Syracuse, em duelo muito equilibrado com os CDFs de Stanford, no Madison Square Garden.

Foi a primeira vez que pude assistir ao pivô gigantesco, menina dos olhos de milhares de seguidores fanáticos de box scores online, a patrulha do futuro, essa rapaziada que sonha longe em ver Lucas Bebê, "Fab Melo" (gente, vamos deixar isso para os americanos, que tal?) e seja qual garoto mais for a promessa da vez com a camisa da Seleção, embora todos sejam muito crus e pivôs, a posição em que talento não falta para Rubén Magnano.

Segundo consta, Fabrício teve uma das melhores partidas de sua jovem carreira – está apenas iniciando sua temporada de segundanista na NCAA –, arrancando muitos elogios do comentarista Fran Fraschilla, da ESPN, ex-treinador do basquete universitário e figura muito experiente no trabalho com atletas de sua idade, participando de campos de treinamento como instrutor nos EUA e na Europa. Fraschilla celebrou especialmente a mudança radical no físico do jogador, um tanto gordinho em seu ano de calouro.

Um corpo mais atlético para Fab Melo... Ops, Fabrício Melo
Porque é assim: um seven-footer autêntico, o brasileiro é daqueles que deixam os técnicos e entendidos salivando, com um talento natural cada vez mais raro (a altura não lhe atrapalha a movimentação, uma envergadura impressionante, que o tornam um gigante diante de tantos pivôs baixos no basquete universitário). Ao mesmo tempo, ele precisa de muito desenvolvimento. Um loooongo desenvolvimento. Ele ficou 32 minutos em quadra e somou seis pontos, nove rebotes, três tocos, três roubos de bola e uma assistência.

Destes números, o que deve ser mais celebrado são os 32 minutos de jogo. Explicamos por um fator cíclico: 1) quanto mais tempo ele puder jogar em partidas de alto nível, melhor para seu progresso; 2) trabalhou bem na pré-temporada, afinou o corpo e ganhou em durabilidade – antes, jogava cinco minutos seguidos, e já estava mortinho de almeida; 3) com melhor condicionamento e mais experiência, tende a cometer menos faltas (foram apenas duas) e aí fecha-se o ciclo: ele não precisa ser retirado de quadra.

Fabrício, como se diz, "ancorou" a defesa de Syracuse no Garden. Seu técnico, o veteraníssimo Jim Boeheim, é uma autoridade no que se refere a marcações por zona, tanto que foi convocado pelo Coach K para ser seu assistente em suas aventuras pelo mundo FIBA com a seleção norte-americana. Pois Boeheim vai ter ainda mais facilidade para aplicar seus sistemas se o seu pivô se mantiver com esta forma. Com seus atributos físicos, o jogador é uma figura ideal como ponto central de uma defesa 2-1-2 e, ainda mais importante, numa 2-3, quando colocado mais próximo do aro para protegê-lo em cima da bola e no lado contrário. Ali ele fez um estrago contra Stanford, alterando uma série de arremessos e fechando espaços para infiltrações dos adversários (daí os três tocos e três roubos de bola).

Fabrício vai buscar a bola lá no alto
Mas ainda há uma caminhada paciente pela frente. Em uma ânsia de impor seu tamanho em quadra, o brasileiro por muitas vezes perde seu posicionamento com facilidade, é fintado e aí fica sob o risco de cometer muitas faltas bobas, atrapalhando o ciclo ali de cima. Desta forma, também se afasta muito da tabela e permite uma série de rebotes ofensivos às suas costas. O tamanho, por fim, lhe permite a captura de alguns rebotes sem o bloqueio adequado dos oponentes – o que nunca deve ser feito, pois, se tiver de lidar com um adversário mais forte e inteligente, acaba abrindo caminho para que o rebote escape de seu time.

Essa é a parte defensiva. No ataque, a paciência precisa de uma escala budista. Syracuse tem tantas opções, especialmente com o ala senior Kris Joseph, que tem o jogo completinho, e com o ala-armador Dion Waiters, um craque em formação, que uma jogadinha para o Fabrício é coisa bem rara. O grandão também não estabelece posição próximo ao garrafão com facilidade. Desta forma, não sabemos o quão bem ele pode jogar de costas ou frente para a cesta, embora o percentual de lance livre (41,7%, uuugh) deixe bem claro que o chute não é seu forte. Por fim, para alguém que participa tão pouco do ataque, a média de 1,7 erro por jogo é muito alta, especialmente se levarmos em conta que contribui com apenas 0,7 assistências por jogo.

Se ainda temos uma longa temporada pela frente, o mesmo vale para a curva de aprendizado de Fabrício Melo. Os primeiros sinais, em números, são bem positivos (sua média de tempo de quadra subiu de 9,9 minutos do ano passado para 22, os rebotes de 1,9 para 5,7 e a de pontos de 2,3 para 6,2). Mas estamos diante, inegavelmente, de um projeto de longo prazo. Seleção? NBA? Tudo muito longe. É bom pensar nisso antes de detonar a convocação de um Caio Torres.

Um paredão para a zona de Boeheim. Trocadilho infame, ok
PS: Deliberadamente, nenhum comentário aqui sobre os problemas extraquadra do brasileiro, acusao de agredir uma ex-namorada. O que rolou de fato? Não sei. Tá no Google para quem quiser ler. 

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Antes tarde

Franca foi buscar reforços para sua envelhecida base lá fora, com veteranos dos EUA
Bom, eles finalmente estão prontos. O ala Eddie Baden, Jermaine Johnson e o ala-armador Kevin Sowell podem estrear pelo Franca neste sábado contra o Pinheiros, em um dos dois clássicos do dia pelo NBB.

É difícil julgar o quanto essa trinca pode contribuir ao clube mais tradicional do país sem nunca tê-los visto em ação antes. Basden é de quem temos mais referências, mas muito longínquas, de uma temporada pelo Chicago Bulls em 2005-06. Formado pela inexpressiva Universidade de Charlotte, ele chegou ao Bulls com a fama de um jogador de forte presença defensiva e bom chute de longa distância, com alguns prêmios somados nos tempos de atleta-estudante nesse quesito.

Depois de ter jogado apenas um ano na liga norte-americana, ele passou por alguns clubes de médio para grande porte na Europa, como Besiktas na Turquia, Cholet na França e Maroussi na Grécia, além da D-League. A pergunta que cabe aqui é se essas contratações se justificaram pelo selo NBA no currículo ou se suas atuações valiam o investimento.

Sobre Sowell, de 30 anos, estamos falando de um veterano que já rodou por Argentina, Venezuela, Líbano e estava em ação na República Dominicana, de onde foi retirado o vídeo reproduzido aqui, com alguns de seus melhores momentos.  Os lances dão a entender que é um jogador com tino voltado para pontuação, explosivo, que deve assumir a lacuna deixada por Vitor Benite, revezando com Penna e Helinho no perímetro:


Sobre Johnson, não adianta mentir: dispomos de pouca informação confiável sobre o seu jogo.  Um pivô não muito alto, de apenas 2,03 m (ou 2,01 m, dependendo da fonte), 26 anos, que se formou na Universidade de Charleston (também não muito tradicional) e passou por México e Portugal – o que, talvez, ajude em sua adaptação ao idioma por aqui –, com números sólidos em ligas fracas.

Instaurar três atletas na rotação de um clube sem pré-temporada alguma não é uma tarefa tão fácil assim, e vamos ver o que Hélio Rubens vai conseguir com os estrangeiros.  Franca precisava, de todo modo, de sangue novo em sua base e, especialmente, de maior capacidade atlética e mobilidade, área em que jogadores formidáveis como Drudi, Helinho e Márcio deixam a desejar um pouco. Os reforços chegam para dar conta disso?

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Cinquentinha para Deron

Alguns jogadores da NBA desembarcam na Europa só para saber, semanas depois, que aquela ideia de dominação dos "europeus lentos, não-atléticos" não era tão simples assim. Mesmo aluns dos mais renomados andaram trupicando, como no caso do armador Deron Williams, o nome de maior prestígio a migrar pelo Atlântico. No início de outubro, em um de seus primeiros jogos pelo Besiktas, um dos clubes mais tradicionais da Europa, o jogador amargou uma eliminação da EuroCup (o segundo principal torneio do continente) com um desempenho pífio diante do belga Dexia Mons-Hainaut.

Bom, mais de um mês depois... A história é outra. Pelo menos para Deron. Nesta terça-feira, agora pelo EuroChallenge (o terceiro em ordem de importância), ele anotou 50 pontos, com apenas dois desperdícios de bola e 17 arremessos convertidos em 23 tentativas. Eficiência impressionante. Confira o baile de Williams:

terça-feira, 22 de novembro de 2011

O fantástico mundo de Ron Artest - Quarentena

Antes da criação do VinteUm, um projeto mais modesto, mas seguramente mais divertido era criar um blog todo voltado ao ala Ron Artest, do Los Angeles Lakers. 

Como já mencionado neste espaço, a leitura do site HoopsHype é obrigatória para qualquer fã de basquete, devido ao acúmulo absurdo de informação oferecido diariamente, com tweets e declarações dos jogadores, jornalistas, dirigentes e trechos de reportagem do mundo todo. As novelas das negociações de LeBron James e Carmelo Anthony foram certamente as líderes em manchetes nos últimos anos desse site agregador de conteúdo. Afinal, é o tipo de assunto que rende boato, respostas a boato e os boatos que, então, brotam desse processo. 
Mas há também um personagem que dia sim, dia não vai estar presente por lá, geralmente no pé dos boletins de rumores, puxando a fila dos faits divers. Ron Artest, senhoras e senhores. 
Sucessor natural de Dennis Rodman na prática do lunatismo – embora com personalidades e natureza completamente diferentes, num mano-a-mano que deve ser explorado em uma ocasião futura  –, Ron-Ron vai ganhar o seu próprio quadro aqui. Nos tempos em que a ordem é racionar na vida em sustentabilidade, o jogador não nos priva de sua condição de fonte de humor inesgotável.

Agora chega de introdução:

Procurando o que fazer com as crianças
Tem gente que faz ou só sabe fazer muito pouco da vida. Estou habituado lê o HoopsHype o dia todo. Há aqueles que pasam o dia todo no sofá e aqueles que, vai entender, ficam o dia todo malhando. Jogadores de basquete, por outro lado, estão habituados a... Jogar basquete e pouco mais. No caso da turma da NBA, o lo(u)caute que se arrasta de modo sôfrego força a rapaziada a se mexer. Alguns conseguiram emprego no exterior e seguem batendo sua bolinha. Outros ainda estão indecisos, sem saber que rumo tomar. É o caso de nosso Ron-Ron.

Vira e mexe, ele aparece inspirado no Twitter pra desabafar, nos contar qual o seu paradeiro e tranquilizar – e divertir, claro – a todos. Desta vez ele admitiu que está fulo da silva com a paralização da liga e saiu a desafiar os donos dos clubes a uma série de jogos um contra um. Seria interessante saber o que ele faria com Michael Jordan, não? Para Mark Cuban, o bilionário fanático proprietário do Dallas Mavericks, o pedido foi para uma disputa de queda-de-braço. Algo bem maduro.

Tudo isso tem um motivo: "Quero jogar em vez de cozinhar. Estou parecendo uma dona de casa de Atlanta", confessou. Bem, convenhamos: a ideia de um Artest trajando avental e preparando tortas de maçã de fato não é das mais absorventes. "Sinto falta de dar airballs e de driblar a bola na minha perna, e o Kobe falando: 'Ronny, pare com isso'", completou. 

Depois de flertar com um clube da Inglaterra, apesar desta falta que lhe faz o basquete, Ron-Ron hoje afirma que não pensa mais em sair dos Estados Unidos. Suas preocupações, de um modo surpreendente, são muito maiores, e cai por terra a frase besta acima de que jogador de basquete só faz jogar basquete. "Se formos bater uma bola no exterior enquanto o locaute não acaba, isso ainda não vai contribuir para o futuro da América", disse. "Prefiro visitar escolas e falar da importância da educação do que caçar jobos de basquete se o locaute nunca terminar."

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

De abalar os nervos

O armador Romário fica encurralado contra veteranos do Brasília
Se os garotos do Paulistano tiveram um início de campanha promissor, incomodando o Flamengo ao extremo, a equipe de Joinville perturbou os atuais campeões do Brasília por outros motivos e vai ter uma longa estrada pela frente para percorrer se quiser repetir a competitividade a que se habituou nos primeiros anos de NBB.

Por "grupo renovado" em Joinville, que fique claro que não foi uma opção estratégica. Leia-se que o clube catarinense se virou do jeito que deu para montar seu elenco depois de perder seu principal investidor. No fim, sobraram poucos jogadores com alguma experiência, e a garotada da base mostrou hoje que, nervosismo pela estreia à parte, não está pronta para receber extensas doses de tempo de quadra.

Vão lidar com uma sobrecarga de trabalho: o ala Audrei, que precisa diversificar seu arsenal ofensivo e depender menos dos chutes de longa distância, o escolta André, acostumado a ser peça complementar, tem de lidar com a maior pressão dos defensores, e o armador Luiz Felipe, que deve advogar mais em causa própria daqui para a frente.

Enquanto não adquire entrosamento e cancha, o Joinville tenta compensar essas carências com garra. O problema é confundir agressividade com agressões propriamente ditas, como aconteceu contra o Brasília. Mesmo o técnico José Neto, geralmente uma figura calma no banco, passou do ponto ao instruir em diversas ocasiões que seus atletas fizessem faltas, que fossem mais combativos. Simples assim.

Na verdade,  não era gana ou vontade o que necessitavam, mas, sim, fundamentos defensivos.  Especialmente dos calouros, correndo sem parar, falhando em flexionar as pernas, marcando de modo desequilibrado. Broncas não bastam para compensar essa lacuna. Só resultaram, no fim, em nervosismo e algumas faltas descabidas.

Ponto. Posto isso, são indesculpáveis os lapsos e descontrole de um time com a tarimba do Brasília diante desses garotos. Alex tomou algumas pauladas feias, Arthhur também, mas nada que justificasse tantas faltas técnicas e intencionais, especialmente no terceiro quarto.

Também abala os nervos o ritmo frenético que o jogo teve em muitos momentos, quando a baderna se instaurava em quadra com uma sucessão de erros, desarmes, que evidenciavam os fundamentos falhos no drible e em passes. Ainda mais quando um time conta com quatro selecionáveis entre seus titulares.

Ok, foi só a primeira rodada. Mas também não foi a primeira vez que vimos esse tipo de comportamento desbaratinado. A coisa aperta quando sabemos que certamente não foi a última.

Sobre Wei'er-Qian Dele, JR Shimisi e o espelho chinês

Wei'er-Qian Dele: 43 pontos e 22 rebotes pelo Zhejiang Guangsha

A liga chinesa abriu sua temporada neste fim de semana, com muitos dos milionários da NBA de olho. Dependendo dos efeitos do lo(u)caute, o torneio asiático é o principal candidato a acolher mais exilados, já que seus clubes têm mais dinheiro para investir  e menso compromisso com a química de seus elencos. Para eles, basta apresentar o passaporte com a silhueta de Jerry West estampada, que já vale um contrato.

Dois ex-companheiros de Nenê no Denver Nuggets, os alas JR Smith e Wilson Chandler, foram dos primeiros a migrar para o Oriente, já que eram agentes-livre, mesmo, nos Estados Unidos e decidiram garantir alguns milhões de dólares (líquidos) de cara, em troca de vida fácil.

Vida fácil? Em quadra, pelo menos. Vejamos a estreia de Chandler ("Wei'er-Qian Dele") pelo Zhejiang Lions: 43 pontos, 22 rebotes, quatro assistências e três roubos de bola. Sabe quantos arremessos? No total, 34! Dos quais converteu 18.  Seu time venceu por 118 a 115 o Tianjin Golden Lions.

Fora de quadra, porém, as coisas podem ser um pouco diferentes. Que o diga JR Smith ("JR Shimisi"), que, desavisado e avoado que só, não sabia do tipo de censura online que pode ocorrer no país, como o acesso proibido ao Twitter ou ao YouTube em desktops. Shimisi ficou puto da vida quando soube disso e mandou um recado para a "Querida China", sobre como essas restrições eram irritantes. Sobre o tradutor disponbilizado em tempo integral e dois cozinheiros que o Zhejiang Golden Bulls lhe forneceu, não falou nada, claro. 

Para piorar, o mesmo Smith lesionou seu joelho logo em seu jogo de estreia, quando tinha 20 pontos diante do Guangdong Southern Tigers. A gravidade da lesão é incerta – gente, é a China –, mas o jogador teve de ser retirado carregado pelos companheiros.  Segundo o gerente geral do clube, Zhao Bing, Smith abandonou a delegação e partiu para Pequim para passar por uma avaliação médica, recusando o acompanhamento do médico da equipe. 

"Ele não precisava se comportar desse jeito", disse Bing em entrevista ao Wall Street Journal. Em uma rede social chinesa, Sina Weibo, porém, o dirigente mandou um recado mais alarmante: caso não volatasse, o norte-americano "sofreria as consequências". Glup. Smith, ou Shimisi, no caso, não se mostrou muito preocupado, não: "Minha principal meta é me recuperar! Se você não entende isso, então talvez devesse escolher outra profissão! Meu objetivo não é sair! É vencer!", exclamando sem parar.

Vai saber. Em Denver, nas montanhas do Colorado, Smith já foi um problemão para George Karl administrar. Eles falavam o mesmo idioma, mas talvez não a mesma língua. 

A turma da NBA na China, via Wall Street Journal: Yi Jianlian está em casa,
Kenyon Martin ainda não estreou, assim como o baixinho Aaron Brooks

domingo, 20 de novembro de 2011

O melô do pouquinho

Durante esse lo(u)caute da NBA, sua maior parceira na mídia, a ESPN, com quem compartilha conteúdo livremente, não hesitou em descer o porrete em todos os lados envolvidos nessa confusão, incluindo a direção da liga. No Twitter, blogs ou em artigos no site da emissora, o comissário David Stern foi achincalhado.

Ainda falta muito para isso acontecer no Brasil, é uma pena, em todas as esferas, e as relações da Rede Globo com o NBB não fogem disso.

Na rodada de abertura do campeonato no renovado ginásio do Tijuca, muita gente compareceu, num ótimo espetáculo da torcida do Flamengo. Estava tudo muito bonito e promissor. Quando a bola subiu, porém, vimos novamente as falhas de sempre. Básicas de tudo, mas imperdoáveis para um campeonato que chega a sua quarta temporada, mesmo com a rodada sendo realizada na casa de um de seus estreantes, com piso renovado e bonitão.

Essas falhas não podem ser tratadas  à base do "pouquinho", já firmado em nossos corações pelo comentarista Caio Ribeiro, no futebol. Que é o seguinte: na dúvida entre emitir uma opinião para valer e correr o risco de pisar em calos, é melhor apelar ao diminutivo. "Faltou um poquinho de qualidade no passe, de capricho na finalização, de atenção do treinador". Tudo é um poquinho aquém do que poderia ser, para não ser tão grave assim.

Como aconteceu no sábado, na Tijuca. Problemas com placar e cronômetro já não podem ser mais tolerados – o locutor do ginásio em algumas ocasiões precisou cantar o resultado para o público –, não é algo que caiba em um torneio profissional, ao contrário da maneira que as questões foram encaradas.

Assim como fica difícil de aceitar que, novamente, os clubes tenham problema com a inscrição de seus atletas, especialmente os estrangeiros. Sério: há quanto tempo já não ouvimos a história de que Franca tem reforços dos Estados Unidos para colocar em quadra, mas isso não vai acontecer porque a documentação deles não foi regularizada não em tempo?

Com  o Pedrocão novinho da silva, o time de Hélio Rubens não terá força máxima sabe-se lá até quando, algo triste quando pensamos que estamos falando da maior instituição do basquete brasileiro. Especialmente no momento político conturbado que o clube vive, o atraso em colocar os gringos em ação é ainda mais temerário.

Não se trata de uma exclusividade francana, porém. Em um jogo em que brigou até o fim com o Paulistano, talvez o norte-americano Jeffery Addai pudesse ter feito a diferença para definir um triunfo excpecional. Mas ele não pôde jogar, também sem o aval da liga. Burocracia demais? Demora das diretorias para definir as contratações? Jogadores com voo atrasado? Vai saber.

Vamos além: a três dias da abertura do campeonato, os elencos de CETAF e dos estreantes Liga Sorocabana e Tijuca não estavam online no site da LNB. Eram os únicos em tal situação. Até os norte-americanos de Franca e Addai estavam lá. O que nos leva a deduzir que o fechamento do plantel dessa trinca pode ter ficado realmente para a última hora, assim como foi definida a exclusão do Vitória a menos de dez dias do início (e o professor Paulo Murilo não pôde evitar seu desabafo).

O NBB já tem idade – e prestígio, penso – o suficiente para passar por cima feito trator desses assuntos, sem condescendência alguma.

Hélio, do Fla, enfrenta marcação de Thiago, do Paulistano, com o relógio funcionando

Hettsheimeir impossível

Rafael Hettsheimeir, outro jogador depois de brilhar em Mar del Plata
O Pré-Olímpico de Mar del Plata serviu para apresentar Rafael Hettsheimeir para o (grande?) público esportivo brasileiro, mas também valeu para encher o garotão de confiança.

Soletrando: H e t t s h e i m e i r.

Neste domingo, o pivô voltou a liderar o CAI Zaragoza em vitória sobre o Manresa por 81 a  74 pela Liga ACB, com números novamente assustadores: 22 pontos, oito rebotes e 70% de aproveitamento em seus arremessos, em 33 minutos.

Tanto melhor para Magnano e a Seleção, Rafael afirmou em entrevista ao site da liga espanhola que vem trabalhando em expandir seu repertório, se arriscando cada vez mais na linha de três pontos, alguns pés atrás da zona intermediária onde já se sete confortável desde os tempos de COC-Ribeirão Preto.

Contra o time catalão, ele chutou três bolas de longa distância e encestou uma. Seu rendimento no fundamento ainda está longe do ideal, mas ele assegura que tem treinado muito esse fundamento e que percebe uma evolução clara. Que seria só questão de tempo para estes chutes começarem a cair em jogo para valer.

Esta é, sem dúvida, a melhor temporada de Hettsheimeir na Espanha, em seu sexto (!) ano no país. O pivô garante que hoje apresenta sua melhor forma física. Se mantiver esse ritmo e confiança, vai chegar a Londres para brigar para ser titular, e os medalhões que se virem.

Mi (nueva) casa

Splitter, com as cores do Phoenix Suns, retorna ao basquete espanhol co tudo
Nem parece que mais de um ano se passou, que ele tenha ficado tanto tempo assim no banco de Gregg Popovich em San Antonio, que ele jogou o Pré-Olímpico de Mar del Plata lesionado. Um dia depois de desembarcar de volta à Espanha, Tiago Splitter queria ir mesmo para a quadra, já se sentindo em casa. 

Splitter acertou contrato som a equipe mediterrânea durante a semana, chegou à cidade no sábado cercado por repórteres no aeroporto e comprovou seu status de estrela na Liga ACB, para alegria de Rubén Magnano, que não podia ver seu principal jogador estancado por mais uma temporada.

Em sua estreia inesperada pelo Valencia, antes mesmo de sua apresentação agendada para segunda-feira, agora vestido de roxo e laranja e com o número sete às costas, o catarinense somou 12 pontos e 10 rebotes, em 28 minutos, e contribuiu em uma vitória apertada sobre o Murcia (86 a 83). Ele saiu do banco, ocupando a vaga do compatriota lesionado Vitor Faverani, mas ficou mais tempo em quadra que o titular ucraniano Serhiy Lishchuk, que jajá deve perder seu lugar.

O brasileiro teve o melhor índice de eficência de sua equipe, com 22 pontos no quesito, apesar de ter perdido dois lances livres e cinco chutes de quadra. Tudo isso sem ritmo de jogo, claro. 

Splitter, chegada de popstar a Valencia, depois de um ano apagado pelo San Antonio

sábado, 19 de novembro de 2011

Nem tão júnior assim

Irado, o técnico Gonzalo Garcia expulsou o microfone do SporTV aos tabefes em seu primeiro pedido de tempo, soltou cobras e lagartos e, no meio de sua intempestividade, o costumeiramente pacífico argentino protestou contra o papelão que seus jogadores proporcionavam em quadra diante de um "time juvenil". Ou algo nessa linha, em referência ao jovem elenco do Paulistano.

O jogo estava em seu início apenas, e mal sabia o gringo que ia demorar um bocado de tempo para o Flamengo assumir as rédeas daquele confronto pela rodada de abertura do NBB 4, no Rio de Janeiro. Um bocado mesmo: o time da casa só foi assumir controle do marcador para valer com pouco menos de dois minutos para o fim.

Que fique claro: o Fla só ganhou essa partida por uma combinação de três fatores que escapavam ao controle do furioso Garcia:

1) maior experiência de seus atletas: o Paulistano tem um dos três elencos mais jovens do campeonato. Quando pressionados no finzinho do jogo, os adversários não souberam reagir propriamente.

2) talento individual superior de três peças: Leandrinho (mais sobre ele neste domingo...) fez a diferença no terceiro quarto para virar o placar, David Jackson (uma mecânica linda de arremesso) desequilibrou na quarta parcial e Federico Kammerichs cuidou do que sabe fazer: o serviço sujo na defesa e no ataque.

Leandrinho desequilibrou quando decidiu ir para a cesta
E o ginásio da Tijuca cheio, num ótimo sinal para o Flamengo
3) o apoio de sua torcida: que, na verdade, funciona por uma combinação dos dois fatores acima, já que os veteranos da casa se energizaram com uma  entusiasmada arquibancada – um ótimo sinal, aliás – e os garotos de São Paulo se deixaram levar pela correria e pressão em alguns momentos do segundo tempo, antes de seu técnico poder interferir com pedidos de tempo.

Pois, de resto, o argentino tomou um banho de Gustavo de Conti por uns bons 30 minutos (o treinador do Paulistano só pecou nos minutos finais, quando passou a armar jogadas para a linha dos três pontos muito cedo, pelo menos dois ataques mais cedo, quando dois pontinhos lhe seriam muito mais úteis para encostar no marcador).

Pelo que mostrou no jogo de estreia, ou o Flamengo estava muio despreparado (sem ideia alguma do que veria pela frente, e daí o desabafo "contra juniores"), ou ainda há muito para Garcia trabalhar com esse elenco.  Seu time estava mais para um catadão de cestinhas do que qualquer outra coisa que lembre um conjunto. Leandrinho e Jackson fizeram um estrago, mas não em ações combinadas. Foi cada um de seu modo, e cada um em sua vez. Quando Marcelinho voltar de suspensão, na terceira rodada, o palpite aqui é que uma bola será pouco.

Em termos de elenco, avaliando seus 12 jogadores principais, o Fla tem o melhor do NBB. É preciso saber se eles vão cosnseguir jogar juntos. Uma partida só não o suficiente para fazer nenhum julgamento definitivo. Mas, apesar da derrota, o início do Paulistano foi muito mais louvável e admirável, com uma defesa sólida, combativa e um ataque eficiente e solidário, apenas atrapalhado por alguns rompantes de Betinho de longa distância, por excesso de confiança/teimosia/falta de visão de quadra. Algo que precisa ser corrigido urgentemente, antes que seja tarde.

O pivô Artur bate de frente com o selecionável Caio Torres, sem se intimidar ou ser dominado

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Oito anos depois

(Texto feito para o iG, adaptado aqui)


Depois de oito anos, Leandrinho volta a disputar uma competição naciona neste sábado, contra o Paulistanol. Sua última participação havia acontecido no 14º campeonato organizado pela CBB (Confederação Brasileira de Basquete), em 2003, defendendo o Bauru.
O clube paulista havia sido campeão em 2002, com veteranos como os alas Vanderlei, hoje coordenador da seleção, e o norte-americano Jeffty Connely (marido da jogadora de vôlei de praia Ana Paula) e o pivô Josuel, mas acabou passando por uma reformulação, apostando em um renovado elenco na temporada seguinte. 
A experiência ficava por conta do armador Raul Togni, pai de Raulzinho, que joga na mesma posição e está na lista de selecionáveis de Rubén Magnano para disputar os Jogos de Londres 2012. O resto da equipe, dirigida por Guerrinha (ainda em Bauru, era basicamente formado por uma série de promessas, como o pivô Murilo Becker e o ala Jefferson Sobral, que tentou a sorte no basquete norte-americano, mas sem sucesso. Nesse grupo, porém, não havia dúvida de que o paulistano era a grande aposta. 
Leandrinho, pré-Brazilian Blur, 19 anos, bate pra cima no
Nacional da CBB em 2002, em campanha do título do Bauru
Leandrinho terminou o campeonato com médias de 28,2 pontos em 20 partidas, sendo o segundo certinha. Na ocasião, aos 20 anos, ficou atrás apenas do meu, do seu, do nosso Oscar Schmidt, que anotou 33,1 pontos pelo, vejam só, Flamengo. Além disso, ele foi o quarto melhor em assistências, com 7,0 por partida, atrás de Valtinho (ainda em atividade pelo mesmo Uberlândia) e dos já aposentados Demétrius (atual técnico do Limeira) e Ratto (treinador do Uberlândia no ano passado). Sim, houve um dia em que Leandrinho fez sete assistências por jogo.
Em termos de recordes individuais, Leandrinho marcou 48 pontos em um confronto com o Limeira no dia 14 de fevereiro de 2003, tendo atuado por todos os 40 minutos. Foi a melhor marca daquele campeonato. Nesta lista individual, também dividiu o topo com Oscar, que anotou 46 e 45 pontos em dois jogos, enquanto, o jovem do Bauru teve teve uma atuação de 44 pontos contra Araraquara, que valeu como a quarta melhor do Nacional.
Foi neste mesmo ano em que o jogador optou por se aventurar nos Estados Unidos, então agenciado pelo advogado Michael Coyne, o mesmo que havia emplacado o pivô Nenê na NBA em 2002. Leandrinho fez treinamentos particulares orientado em Ohio por Ron Harper, tricampeão pelo Chicago Bulls, e partiu para o tradicional giro de testes pelas franquias da liga antecedentes ao Draft – em um deles, em Memphis, por sinal, bateu de frente com o então pouco badalado Dwyane Wade, que chegou a pedir para o "rachão" ser encerrado devido ao estilo agressivo do brasileiro, choramingando com Jerry West, que adorava tudo o que via em quadra. 
No fim, Wade foi selecionado na quinta posição do processo de recrutamento de novatos pelo Miami Heat (três posições abaixo de Darko Milicic! Uma atrás de Bosh!). Leandrinho, ainda menos conhecido, era muito bem cotado para o finado Seattle Supersonics, que acabou optando por Luke Ridnour. No fim, o brasileiro foi o 28º da lista, pelo San Antonio Spurs, a pedido do Phoenix Suns, para o qual foi imediatamente trocado.


No Arizona, lembremos, Leandrinho foi lançado inicialmente como armador, sendo reserva de Stephon Marbury por boa parte de sua primeira temporada, até assumir o posto de titular quando o astro foi despachado em mala direta para o New York Knicks. Depois, na primeira encarnação do "Seven Seconds Or Less", jogou como substituto do canadense Steve Nash até ser deslocado, aos poucos, a uma função mais de finalizador.
Foi jogando ao lado de Nash que ele viveu seus melhores momentos na NBA, os anos de Brazilian Blur, especialmente na temporada 2006-2007, quando teve médias de 18,1 pontos e 4,0 assistências, vencendo o prêmio de melhor sexto homem da liga. 
Após sofrer uma queda de rendimento em 2009-2010, lutando contra uma série de lesões e perdendo espaço considerável para Goran Dragic, que também já não está mais por lá, acabou negociado com o Toronto Raptors.  Pelo time canadense, ele anotou 13,3 pontos por jogo em 2010-2011, com apenas 24,1 minutos de média, lidando durante toda a campanha com uma lesão crônica no punho direito. Foi por essa lesão que pediu dispensa do Pré-Olímpico de Mar del Plata.
Assim que a Fiba liberou os atletas da NBA a procurar novos clubes no exterior, Leandrinho foi o ligeirinho de sempre para fechar com o Flamengo. Em suas primeiras partidas pelo clube carioca, vem sendo aproveitado pelo técnico argentino Gonzalo Garcia como... Armador, claro. 
Vamos todos observar com muita atenção, e ansiedade, se Garcia vai conseguir encontrar um equilíbrio entre o estilo bastante ofensivo (eufemismo, gente) de seu novo astro e Marcelinho Machado, até então o dono do pedaço. O ala David Jackson também se destaca por ser um bom pontuador. E o Duda vai ter de se virar de outro jeito.
Leandrinho tem despedida marcada do Flamengo: assim que o lo(u)caute da NBA se encerrar. O que pode ser em dezembro, ou depois da Copa do Mundo de 2014. Vai saber. 
O desafio para o brasileiro vai ser, no tempo em que estiver com a camisa rubro-negra, justificar as expectativas por sua condição de atleta estabelecido na NBA. Talvez ainda mais difícil seja, quem sabe, superar seu rendimento de oito anos atrás. Como o da bandeja aqui:

Dois pontos contra o Vasco do cestinha Leandrinho, em 2001

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

O jeito Nocioni de ser

Entre todas as consequências delicadas envolvendo o lo(u)caute, gente perdendo o emprego, uma liga flertando com o abismo, há também a vontade dos jogadores procurando alternativas para fazer o que gostam – que ainda é jogar basquete, acreditem.

Mas para eles jogarem fora da NBA também há muito do que cuidar. Seguros a serem pagos, contratos minuciosos, valores astronômicos de salário, embora pálidos se comparados ao tanto de dinheiro que ganham nos EUA... Mas o Andrés Nocioni não quer saber de nada disso, gente.

Chapu, Chapu, Chapu, Chapu, Chapu, Chapu...

O Chapu (o apelido vem do Chapulín Colorado e não de nenhuma tradição guerreira de índios argentinos, uma pena) vai defender o Peñarol, de Mar del Plata, em um torneio local, o Super 8, sem proteção extra alguma para os seus serviços.

Para ele, tudo seria "complicado e muito caro para o clube, que, no fim, não poderia cobrir o valor total". "Além disso, levaria alguns dias a mais para eu poder jogar e isso me impediria de disputar o torneio Super 8. Tomei essa decisão porque amo jogar basquete e preciso jogar", disse o ala do Philadelphia 76ers.

Nocioni ama jogar e ele ama jogar dando trombadas em todo mundo, brigando por rebotes feito um maluco, criando uma série de inimigos, que não apreciam muito seu estilo combativo, em quadra.

Vai sem seguro, mesmo.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Com o Dusko não?

Tiago Splitter está de volta à Espanha. Assim que o sindicato dos jogadores anunciou que ia levar a disputa com a NBA para o pau, o catarinense não perdeu tempo e, menos de dois dias depois, acertou com o Valencia, onde vai fazer companhia ao ala-pivô Vitor Faverani, talentoso ala-pivô que poderia aprender uma coisa ou outra com o compatriota em termos de profissionalismo enquanto se recupera de uma fratura no pé esquerdo.

A grande surpresa da notícia aqui diz respeito a dois fatores:

1) Tiago realmente ignorou o Saski Baskonia, de Vitoria (ou "Caja Laboral");
2) Mas não foi com o Unicaja Málaga com quem fechou;

Tiago Splitter escapa de Ivanovic e vai tentar elevar o basquete do Valencia
Os rumores eram fortes de que o pivô acertaria com o time de Málaga – era nisso, inclusive, que apostava Rubén Magnano na sexta-feira passada e boa parte da mídia espanhola nos últimos dias. No fim, o clube anunciou que a pedida salarial foi um pouco além do que estavam dispostos a pagar. Desta forma, Splitter está fora da Euroliga deste ano e vai competir apenas na Liga ACB, que é fortíssima, de qualquer jeito.

Ver seu filho pródigo assinar com o Valencia também deve doer ainda mais para os diretores do clube basco, com o qual o brasileiro teve vínculo por quase dez anos. Foi em Vitoria que ele chegou aos 15 anos de idade, vindo de Blumenal. Foi lá que se formou como jogador e ganhou a maturidade que lhe diferencia entre os selecionáveis.

Segundo o noticiário espanhol, Splitter, no entanto, nem quis abrir negociações com sua velha casa. O motivo seria a aversão aos métodos empregados pelo técnico Dusko Ivanovic, com quem trabalhou no início e no fim de sua passagem pelo ex-TAU Cerámica.

Em 2010, foi sob o comando do montenegrino que o brasileiro viveu o grande momento de sua carreira, segndo campeão espanhol e eleito o MVP da temporada regular e dos playoffs. Então por que a rejeição? Bem, nunca estive presente a uma sessão dessas, mas a lenda conta que Ivanovic é um dos técnicos mais linha-dura do mundo e que seus treinos são massacrantes.

Para Magnano, depois de ver Splitter com preparo físico limitado em Mar del Plata, talvez não houvesse melhor comandante para deixá-lo prontinho para as Olimpíadas. Por outro lado, não podemos nos esquecer do excesso de lesões que o catarinense encarou nas últimas temporadas.

Em Valencia, ele vai trabalhar com Paco Olmos, espanhol de 42 de idades que começou sua carreira de treinador nas divisões menores do clube e comandou seu time principal à sua primeira participação em uma final da Liga ACB em 2004 (derrotado pelo Barcelona). Ele voltou à cidade neste ano e tem em mãos um elenco que era candidato aos playoffs, mas não ao título.

Seus principais atletas são o armador sérvio Stefan Markovic, o ala-armador francês Nando De Colo, o escolta espanhol Rafa Martínez, o ala espanhol Victor Claver e o ala norte-americano Nick Caner-Medley. O ucraniano Serhly Lishchuk deve perder sua vaga no quinteto titular.

Certamente o clube espera que, com Splitter em seu elenco, possa ganhar posições na tabela e deixar a sétima colocação, com quatro vitórias e três derrotas. Os oito primeiros disputa a Copa do Rei no meio da temporada e se classificam para os mata-matas no ano que vem.

Para Magnano, quanto mais longe o pivô e o time forem, melhor.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Do ultimato ao basta

No dia 14 de janeiro de 1964, um punhado de jogadores da NBA estava cansado de ver ignoradas as demandas s de seu recém-criado sindicato, por melhores condições de trabalho, um plano de pensão e todo o pacote de sempre. Resolveram, então, organizar um boicote ao 14º All-Star Game, em pleno vestiário do Boston Garden, justamente a primeira edição do evento a ser transmitida em rede nacional.

A tensão era imensurável nos corredores da arena. Por que os jogadores não davam as caras? Qual seria o tamanho daquele fiasco? O proprietário do Los Angeles Lakers desceu aos vestiários e puxou de canto o grande astro de sua equipe, o ala-armador Jerry West e o ameaçou: ou vai para a quadra, ou nunca mais vestiria aquele uniforme. West disse que, então, não poderia mais jogar com as cores roxo e amarelo. O incidente se repetiu com outros jogadores.

A partir dali, o sindicato ganhou força, e a liga, com a silhueta do próprio West estampada em seu logo, nunca mais foi a mesma.

O Logo 
Doa a quem doer, uma coisa não dá para negar: a decisão dos ateltas da NBA de bater de frente com os proprietários das franquias tem esse paralelo histórico.

Os jogadores do Campeonato Italiano e do Campeonato Espanhol de futebol já fizeram greve por conta própria, insatisfeitos com condições financeiras e técnicas que tinham pela frente na temporada, a NFL e a NHL também tiveram discussões sérias nos últimos anos, mas nunca um grupo de "empregados" se postou da forma como nesta segunda-feira. Eles fecharam a porta na cara dos chefes, quando os opositores imaginavam que encontrariam o café já fresquinho e os bolinhos de chuva à mesa.

Obviamente, não dá para exagerar na romantização, já que boa parte dos durões que decidiram levar ao tapetão a disputa por um bolo formidável de receitas são milionários, com a vida de seus bisnetos garantida. Quando o confronto destes aponta para um grupo de bilionários, porém, a relativização entra em jogo.

Não precisamos ter medo de generalização: a relação entre os donos dos clubes e seus atletas sempre foi conduzida pela singela equação de eu-mando = você-obedece. No mundo do esporte, em que trabalho se confunde com entretenimento, não deveria ser tão simples assim.

O tradicionalista dentro de você vai dizer que o "clube X está acima de qualquer fulano", que "os atletas passam, os clubes ficam". Quantas mesas redondas já não foram encerradas com a capitulação dos indivíduos perante as instituições? Se formos pensar em nossas paixões clubísticas brasileiras, talvez seja difícil deixar esse preconceito de lado. Neste caso, como a briga feia está milhares de quilômetros acima de nós, há um distanciamento mais do que suficiente para pensarmos com a cabeça e, não, com o coração.

Os clubes são mais duradouros, quase sempre. Mas, sem estrelas, sem sucesso, o quanto eles durariam?  Imagino que haja um certo limite para o "jeito Curintia de ser". Algumas torcidas podem se orgulhar da raça apresentada por seu elenco, mas até quando essa admiração vai se prolongar se a equipe não conseguir ser competitiva? Alguns persistentes vão seguir na luta, bravamente. Esporte não vale apenas por vitórias. Só não dá para ignorar o fato de que, no global, com o passar das gerações, esses times perderiam uma parcela significativa de seguidores. Há inúmeros casos por aí, especialmente no futebol brasileiro.

O Boston Garden é dos poucos ginásios em que o clube pode ser maior que o astro
Nos Estados Unidos, mais especificamente na NBA, essa tradução do conceito de "clube histórico superior" talvez só valha para o caso de franquias consagradas como Boston Celtics e Los Angeles Lakers. As diversas alternativas de entretenimento no país – e a grave crise econômica – não dão a boa parte de suas 30 franquias o luxo de depender exclusivamente do afeto de sua base de fãs. Em geral, se o time não vai bem por anos, seu departamento de marketing vai ter de ralar para encher os ginásios.

Aí entram em ação as estrelas. Pode ser um superjogador (LeBron James) ou uma figura cujo carisma vai além do que seu jogo oferece (Anderson Varejão): o certo é que os clubes precisam vender algo a seus torcedores. E, por mais que o sentimento anti-LeBron e as promessas do proprietário Dan Gilbert tenham sido o suficiente para lotar a Q-Arena por toda uma temporada em Cleveland,  não há sede revanchista que resista a temporadas seguidas de mais de 50 derrotas.

Em termos de basquete, então, só dá para fazer campanhas de sucesso com estrelas em quadra? Também não chega a tanto. O time com a química certa pode ir longe. Mas, se recuperarmos a lista de campeões da liga, fica menos desagradável advogar que um time com a química certa e atletas da elite da elite funciona melhor ainda, não?

De novo: ainda há puristas, apaixonados em extinção pelo basquete ou pela camisa, que vão renovar anualmente seu carnê de ingressos, independentemente do produto oferecido em quadra. Mas já faz pelo menos 20 anos que as clubes da NBA se enxergam como franquias e, não, como meras instituições esportivas. O modelo de operação predominante, desde o boom no mercado interno dos anos 80 com Magic Johnson x Larry Bird e a expansão global, na década posterior, com Michael Jordan, Nike, ESPN e Dream Team, é de negócios.

Os negócios, nesse caso, dependem muito mais de seus "empregados" do que em qualquer outra área. Sem West, Elgin Baylor e outros em quadra, o título All-Star não faria sentido algum. E quem se interessaria por só mais um Game? Por isso, impossível não resgatar o episódio de 47 anos atrás (biografias recentes de Jerry West, Bill Russell e o imperdível livro The Breaks of the Game, de David Halberstam, contam bem a respeito).

O Sindicato dos Jogadores anuncia sua decisão de levar o locaute aos tribunais
De lá para cá, a NBA cresceu timidamente (final dos anos 60, início dos anos 70), quase quebrou (final dos 70), se reorganizou e se expandiu (anos 80), chegou ao ápice (anos 90), se estancou (00's) e agora vinha em uma retomada de crescimento. O salário médio dos jogadores saltou estratosfericamente. Em muitos casos, é possível dizer que muitos desses atletas roubaram seus clubes, com um desempenho pífio que não justificasse seu megacontranto. O mercado voltou a sair de controle. A renda anual, por outro lado, também nunca foi superior. Havia, de todo modo, a necessidade de uma renegociação. Nesse ponto, os proprietários exageraram. Eles alegavam que tinham prejuízos de US$ 300 milhões anuais com o atual sistema. Os jogadores cederam e abriram mão de um valor superior a essa quantia. Não obstante, esses empresários quiseram mais e mais com novas propostas que iam além da questão financeira que desagradaram, e muito, à outra parte.

Quando as tratativas se encerraram em ultimatos por parte da liga, de que tempestades estariam por vir, com os homens de negócios bilionários confiantes de que a outra parte cederia de prontidão, na marra, houve um erro grave de cálculo. Cada ameaça tinha o intuito de acuar o outro grupo. Em vez disso, esses atletas, superestrelas ou não, resolveram dar um basta.

O romantismo certamente não é o mesmo dos tempos de West. Mas a atitude tem o mesmo significado.  Agora só nos resta saber o quão significante será a sua repercussão.