terça-feira, 30 de agosto de 2011

Sobre essa Venezuela

Em vez de apenas fazer a dança da chuva e pregar o caos após o sufoco desta estreia, também podemos falar uma coisa ou outra positiva sobre essa Venezuela que o Brasil enfrentou na estreia. 

Estamos falando de uma renovada e saudável equipe, ainda que estejam no quinteto titular o veterano Oscar Torres, o sucessor de Carl Herrera na NBA, na qual chegou por pernas próprias, como free agent em uma época sem muitos latinos presentes, e Hector Romero, que não prece em sua melhor forma, lento ao sair do chão, e explosão é sua principal característica.   O dono do time agora é Greivis Vasquez, de 24 anos, e imagino que os brasileiros não tenham o que contestar aqui. 

O armador do Memphis Grizzlies fez gato-e-sapato da defesa de Magnano nos três primeiros quartos, até que naufragou no quarto período – talvez por uma combinação de falta de pernas, excesso de confiança (querido Greivis, com seu time atrás no marcador, restando menos de quatro minutos, parece não ser o melhor momento de tentar assistências feito Magic Johnson no meio do garrafão...) e marcadores mais atentos. Acertou bolas espantosas diante de braços tupiniquins estendidos à sua frente. Sem precisar carregar a bola a todo santo ataque, teve liberdade para se movimentar pela quadra, e entrou quando quis no garrafão brasileiro (bateu 11 lances livres). 

Aí recorremos a uma anedota, rebobinando a fita em quatro anos, por favor. Trocamos os cassinos de Mar del Plata pelos megacassinos de Las Vegas, lá no deserto de Nevada, sede daquela fatídica Copa América. Vasquez iria entrar apenas em seu ano de sophomore (segundanista) pela universidade de Maryland, e já tinha um papel proeminente no time nacional que iria abriria sua campanha contra um rival favoritíssimo – os Estados Unidos. Era o segundo ano do projeto de retomada do país, e Kobe Bryant fazia sua estreia pela seleção. Kobe, dos mais velhos da turma, decidiu liderar por exemplo: entrou em contato com os scouts norte-americanos  e perguntaram em quem ele poderia ficar de olho. Acostumados a avaliar jovens talentos para suas franquias, eles estavam familiarizados com Vasquez e responderam de prontidão que o então jogador de 20 anos poderia ser um bom alvo. Pois Bryant se dedicou desde o primeiro ataque a marcar Vasquez de modo implacável, cobrindo a quadra toda atrás do garoto. Como se precisasse… A atitude inflamou o restante do Team USA, que saiu atropelando todos os seus adversários por dois anos seguidos até sofrer contra a Espanha para ganhar o ouro em Pequim-2008.

Pois bem. Hoje Vasquez é também um profissional da NBA, escolhido na primeira rodada do draft do ano passado, e já teve atuações destacadas na memorável temporada dos Grizzlies. Talvez Kobe não seja mais tão intimidador aos seus olhos, muito menos o combativo Alex, que tentou de tudo, mas não viu sua pressão surtir muito efeito desta vez, algo raro de se testemunhar quando está mergulhado nesse tipo de missão.

Há ainda duas revelações (aqui avaliadas pelo que apresentaram contra o Brasil e não pela grife do basquete universitário): como citado no post anterior, Greg Echenique, de 20 aos, tem um corpanzil que requer cuidado no choque e está quase sempre bem posicionado próximo ao aro, para apanhar rebotes e converter curtas assistências, embora possa ter dificuldade para finalizar contra pivôs de maior envergadura. Echenique joga pela universidade de Craighton.  Já David Cubillan é um escolta mais focado na finalização de jogadas, de baixa estatura, mas cuja presença é balanceada por Vasquez, que passa de 1,95m de altura. Inventivo na hora de finalizar no garrafão, ele é formado pela universidade de Marquette. São dois jogadores que certamente vão acompanhar Vasquez nos próximos torneios. 

Do elenco presente em Mar del Plata, apenas três jogadores estão acima dos 30 anos (Torres, Romero e o ala-pivô Axiers Sucre). O ala José Vargas, cestinha versátil e chato de se marcar, tem 29. O restante é de 25 pra baixo. 

Outro fator importante a ser considerado é a mudança no banco de reservas da equipe. Néstor Salazar deixou o cargo de técnico depois de exercer a função desde 2003, sendo 2009 um ano sabático. Em seu lugar veio Eric Musselman, norte-americano que cresceu com o jogo ao seu redor, já que o pai, Bill, teve uma looooooonga carreira no ramo (foi o primeiro técnico do Minnesota Timberwolves, trabalhou nas ligas menores como CBA e certamente tinha muitos causos para contar). Musselman assimilou um pouco do espírito do pai, se aventurando pela mesma CBA, pela USBL e NBADL, tendo também dirigido o Golden State Warriors e Sacramento Kings. Vê-lo saltitando ao lado da quadra em um pé só – o outro está protegido por uma tala, depois de ter sofrido uma lesão nos treinamentos venezuelanos – dá uma ideia de sua dedicação ao esporte e da energia que pode oferecer ao renovado grupo.

Digamos que a Venezuela não é conhecida como o país mais contante no basquete. Mas há uma promissora base aqui a ser trabalhada. 

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