sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Efeitos do Pan: Marcelinho complementar

Nada como mais um fiasco do basquete brasileiro para retomar o blog. Porque não adianta apontar para a vaga olímpica, para um time misto, ou seja lá o que for. Foi um fiasco no Pan. As duas derrotas com viradas incríveis e impagáveis foram muito feias e serve para se tirar muitas conclusões, afinal, e vamos falando de tudo aos poucos:


- Marcelinho Machado, e cada um na sua


Quatro anos depois do Rio, Marcelinho se despede do Pan com revés
Avaliando por números, o Pan foi ainda mais desastroso para Marcelinho Machado. Seu percentual de quadra foi brutal: de 50 arremessos realizados em quatro partidas, ele encestou apenas 15. Tumba! Aproveitamento de 30%. Na linha dos três pontos, vamos ladeira abaixo com 26%. Se descontarmos o jogo de consolação contra o Canadá, sua média de arremessos despenca para 25%.

O que isso nos mostra? Que o papel Machado como predador em competição internacional já não tem mais cabimento. Talvez seja uma conclusão irritantemente óbvia para as hordas de detratores do jogador durante toda a década passada – “Então só agora que o gênio descobriu isso?”, "E quando foi?", ou algo do tipo. Mas essa foi realmente a primeira vez que o veterano flamenguista sofreu tanto para pontuar, diante de uma concorrência não tão assustadora assim.

Foi um rendimento que deve ser considerado inaceitável para o próprio camisa 4, especialmente na competição em que foi dominante em suas últimas edições, sendo o maior campeão pan-americano da modalidade. Difícil recordar de 2007, em que supostamente ele estaria fazendo sua despedida da Seleção, jogando em casa, e não imaginar que não haja um certo arrependimento por aceitar a convocação para Guadalajara.

Marcelinho nunca foi o jogador mais elástico, explosivo ou veloz em quadra. Construiu sua reputação – e um currículo – de cestinha com a altura superior em sua posição (enxergando por cima da linha defensiva), um arremesso belíssimo e a inteligência em quadra. Reforçando: inteligência. O ala sabe em geral o que faz em quadra e rende muito bem quando deixa o jogo chegar até suas mãos em vez de apanhá-lo com voracidade.

À parte de Huertas, era o único jogador de perímetro do Brasil nas últimas formações da seleção que conseguia armar pick’n rolls com nossos pivôs, com bom tempo de bola na execução do passe. O problema é que sua vocação para a cesta muitas vezes parecia uma força maior em sua cabeça. Como se o lado negro da força o compelisse à decisão de jogadas.

(O tema, na verdade, é um tanto complexo e poderia render muito mais parágrafos: o quanto essa vocação vem do próprio atleta ou da cultura recente do nosso basquete, por exemplo, seria uma questão que já nos lançaria muito longe aqui e que talvez visitemos no futuro, com o tempo devido).

Aos 36 anos, contudo, a capacidade atlética do flamenguista vai ficando ainda mais limitada e sua progressão, com um passo mais lento. Sua altura ainda lhe traz benefícios em determinados duelos pessoais – como aconteceu quando John Calipari deixou Ronald Ramón em sua perseguição na disputa pela vaga olímpica em Mar del Plata. Mas, contra um time mais impositivo com o dos D-Leaguers dos EUA na metrópole mexicana, suas limitações físicas vão pesar contra.

Se Nezinho está na berlinda, o caso de Machado me parece diferente. Ainda tem a confiança do argentino para compor o grupo de Londres-2012. Com ou sem Leandrinho na equipe, sua utilização na equipe se encaminha cada vez mais para a de uma figura complementar. Ele ainda vai ter seus dias de atirador implacável, esporadicamente, mas o tempo de basqueteiros irados com seu jogo parece bem distante.

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