sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Do contra

Bem, as opiniões estão aí para serem confirmadas ou contrariadas, não?

Um dia depois de se defender neste espaço que a Seleção precisava depositar boa parte de suas fichas de jogo ofensivo na conta de Marcelinho Huertas e Tiago Splitter, a República Dominicana achou que essa era realmente uma grande idéia, e obrigado. 

A dupla da Seleção foi submetida a um caminhão de pressão nesta sexta-feira. Os dois foram subjugados fisicamente em confrontos individuais, e, enfim, a primeira derrota brasileira no torneio, depois de jogos suados contra Venezuela e Canadá, veio. 

Aqui você pode entender o "enfim" como um mero torcer-contra, ou procurar assimilar o ceticismo que os dois primeiros jogos despertaram. Para um grupo com pretensões olímpicas, que havia supostamente feito um "grande Mundial", penar diante de Venezuela e Canadá não parecia nada promissor ou empolgante, por mais que as escapadas nos cinco minutos finais ajudassem a anuviar a cabeça, fazendo aquele perigoso convite ao superpatriotismo que só aparece nessas horas – É Brasil, tamo na torcida!

Dessa vez não teve arrancada no quarto período. Dessa vez as bolinhas caíram ainda menos. Por outro lado, a bagunça no ataque continua (pouco movimento ou criatividade em jogadas cantadas), a fragilidade e desatenção nos rebotes é clamorosa e os novatos já vão sendo colocados de escanteio por Magnano. E esses fatores estão todos eles interligados, encadeados. 

Os quartos finais decididos em favor do Brasil vieram com uma postura agressiva na defesa, um abafa para cima da bola que ajudava na criação das chamadas cestas fáceis, geralmente criadas no contra-ataque, situação em que nossos alas agem com naturalidade. O que aconteceu contra os dominicanos foi que as pernas já não estavam lá de prontidão. Marquinhos jogou por 30 minutos, Huertas, por 38 minutos, e Giovannoni, por 39. Alex e Splitter foram 'limitados' a  28 minutos mais por faltas (o catarinense estava com duas já no primeiro quarto, enquanto o ala terminou a partida com quatro) do que por opção do argentino, que perdeu a confiança nos seus garotos. Rafael Luz e Augusto Lima viram seus minutos caírem sucessivamente a cada partida. O mesmo teria acontecido com Hettsheimeir não fosse o acúmulo precoce de faltas do titular catarinense. No fim, Magnano não conseguiu retomar seu quinteto inicial com a mesma energia das partidas anteriores, apesar da folga de quinta-feira, o que ficou evidente nos erros incomuns nos poucos contra-ataques encaixados. Em vez de virar o placar, perdemos a parcial por quatro pontos, em um embate muito físico.

Sem essas investidas fulminantes, verticais rumo ao aro, a anemia do ataque brasileiro de meia-quadra dá as caras. Quando nossos laterais, sedentos, não estavam despejando arremessos de três pontos tortos (desnecessário nos alongarmos aqui), a equipe apostava basicamente em jogadas de isolamento para Splitter próximo ao garrafão. Mas, opa!, não era isso o que se defendia na quarta-feira? Hmm… Um pouco disso, sim, mas não tudo. Canalizar o jogo no atleta do Spurs não quer dizer exatamente bolas em situação de mano-a-mano. Contra oponentes mais fortes e atléticos, ainda com seus movimentos enferrujados pelo longo tempo inativo e, para piorar, com um lance livre horroroso, o pivô não foi eficiente. Faltaram mais jogadas de dupla com Huertas, ou em jogadas que o utilizassem vindo do lado contrário da bola, o tipo de jogada que é de fato o seu carro-chefe, pela qual em se destacou na Espanha. Enfim, é preciso utilizar Splitter – e o mesmo vale para Huertas e Marquinhos – em movimentações harmônicas, e, não, em bolas estáticas no garrafão. 

Se não bastasse, o pivô brasileiro vinha atuando de modo sobrecarregado no combate com o peso pesado Jack Martínez, dez pontos e dez rebotes, quatro deles ofensivos, e o incrível Al Horford (alguém que Joe Johnson, Jamal Crawford e Josh Smith deveriam tratar com mais generosidade e somou 22 pontos e cinco rebotes). A dupla dominicana, um de cada vez ou em ação conjunta, foi um tremendo desafio para o catarinense, que, num jogo desses, realmente pode dizer que sente as ausências de Anderson Varejão – Varejão, e só, já que Alex nem conta mais com Nenê. Não havia como Giovannoni cobrir um dos dois, e essa desvantagem foi devidamente explorada pelos dominicanos, sendo que os brasileiros demoraram a se ajustar com as dobras obrigatórias nas imediações da tabela. Quando começamos a forçar os arremessos de fora, os caribenhos já tinham o controle do placar e a vantagem emocional em quadra.

Desta forma, o Brasil já perdeu o jogo extra que tinha para perder, sem contar a Argentina, claro. Para evitar um confronto com os amigos de Ginóbili nas semifinais sem depender dos outros confrontos, agora virou obrigação ganhar de Porto Rico. E isso já está além da opinião, virou fato. 

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