quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Indianápolis-1987, Mar del Plata-2011?

O objetivo final é a vaga em Londres, restando duas partidas para defini-la. 

Então é hora de muita concentração.

Mas como evitar a empolgação depois de uma vitória marcante dessas? 

Brasil 73, Argentina 71. 

Um de seus maiores rivais históricos. Os algozes da década passada. A estelar equipe que sempre serviu como um parâmetro cruel diante de anos e anos de fracassos, fiascos e frustrações. Na casa deles. Um ginásio calado, pasmo. Sem aqueles três jogadores. Com apenas um ponto de Tiago Splitter e 19 de Rafael Hettsheimeir. Afe.

A seleção conseguiu um triunfo histórico e, com a vitória arrasadora de Porto Rico diante da República Dominicana, a chance é enorme de o time de Ruben Magnano evitar uma revanche com os argentinos na semifinal. 

Sim, ganhamos hoje. Só não dá também para abusar da sorte. 

O principal mérito para o resultado chocante desta quarta-feira, um ano preciso depois da eliminação pelos arquirrivais nas oitavas de final do Mundial 2010, foi o brio e a determinação que os jogadores tiveram em quadra, acima de qualquer tática ou técnica. 

As duas vitórias das vésperas, contra os frágeis Uruguai e Panamá serviram para a seleção erguer a cabeça e se livrar da má sensação deixada por uma primeira fase sofrível. Os jogadores também entraram em quadra pela primeira vez sem obrigação alguma de vitória. No fim, o emocional pesou bastante para o nosso lado. 

Um fator que, por incrível que pareça, abalou os argentinos – o desfalque de Andrés Nocioni, que torceu o tornozelo logo no tapinha inicial, deve ser levado em conta aqui. Craques consagrados como Manu Ginóbili e Luis Scola estavam estranhamente travados em quadra, com movimentos atípicos, abalados por uma evidente tensão e, não, apenas pela combativa defesa brasileira. Especialmente nos primeiros dois quartos, Scola teve algumas bolas livres em posições que aprecia e simplesmente não as aproveitou, em um desempenho bem diferente do que apresentou quatro anos atrás em Las Vegas e no ano passado em Istambul. 

O Capitão Argentina terminou a partida com 24 pontos e 11 rebotes, mas esteve longe de ser a máquina eficiente e inclemente de outras batalhas, com seis desperdícios de bola e 11 arremessos e quatro lances livres perdidos. Desestabilizado, terminou o jogo com cinco faltas, as duas últimas cometidas de modo tolo no ataque, deixando seu time na mão na hora mais crucial. 

Com 14 pontos em 33 minutos, Ginóbili, perseguido por Alex e até mesmo Marcelinho Machado, foi uma figura omissa em quadra, destacando-se muito mais por sua habilidade em, digamos, cavar faltas para, depois, se contorcer em quadra daquele modo irritante de sempre. 

Carlos Delfino, 5/14 nos chutes de quadra, foi um jogador egoísta no ataque. Depois de matar suas duas primeiras bolas com arremessos de média e longa distância, passou a forçar arremessos a torto e a direito, se comportando como se fosse um super-astro que não é. Um desastre. 

De seu lado, apesar de ainda forçar bolas de três pontos desnecessárias (25 tentativas e apenas sete convertidas ), o Brasil conseguiu se manter no jogo no início com muitas bolas em contra-ataque e, quando a Argentina passou a recuar seus homens com mais pressa para evitar essas investidas, Rafael entrou em cena de modo brilhante e chocante, carregando o ataque em meia-quadra no terceiro quarto. 

Huertas diminuiu o número de erros, Marquinhos fez sua melhor partida no torneio, a defesa apertou no quarto período, e o máximo que a Argentina chegou no placar foi a um ponto de desvantagem, e à medida que Hettsheimeir seguia pontuando de modo inesperado e o relógio corria, a pressão foi se tornando insustentável para os medalhistas de ouro, que somaram 15 erros. Algo totalmente inesperado. É curioso, pensando longe, recuperando mesmo o confronto entre os dois países no Mundial de Indianápolis-2002, como o duelo com o Brasil costuma atrair um basquete ruim para os argentinos, que acabavam vencendo, no fim, por conta de sua superioridade técnica e personalidade.

Dessa vez, ao contrário das panes do Mundial, o Brasil foi o time a manter a compostura, sem síndrome de vira-lata. Algo que por si só já é notável, e palmas para Magnano. 

Mar del Plata e Indianápolis pertencem a realidades diferentes. Uma tem a economia baseada no turismo litorâneo e a outra, em atividade industrial. Mas agora elas estão interligadas por alguns jogos e façanhas memoráveis de basquete. Foi na cidade norte-americana que o Brasil ganhou o ouro do Pan de 87 com uma virada incrível (e louvável, apesar da famigerada conotação que esta partida ganhou no decorrer dos anos, por reforçar uma cultura de "matar de três") e que a seleção local formada por profissionais da NBA sofreu sua primeira derrota, pelas mãos argentinas. Agora o balneário sul-americano viu os seus heróis levarem a adaga, e a vitória brasileira pode estar a altura daquela de 24 anos atrás.

Agora o ponto a ser frisado desde já: foi uma vitória para se orgulhar, mas que, para ser inesquecível para valer – sim, foi a nossa maior desde o ouro pan-americano em 87 –, precisa ser validada com a vaga olímpica. 

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