segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

A NBA segundo Ettore Messina

"Tenho de admitir que, antes de chegar aqui, como muitos europeus, eu acreditava, erroneamente, que somos muito melhores arremessando a bola comparando com os crase da NBA. A verdade é que, os percentuais de acerto de cá são em grande parte o resultado de uma capacidade atlética fora de série e da qualidade dos defensores. Se você permitir um arremesso livre a um jogador mediano, ele vai acertá-lo com a mesma consistência de um cara europeu"
Ettore Messina
A máquina avassaladora e insaciável do marketing da NBA procura produzir ídolos e marcas de alcance global a todo instante, agentes que, com facilidad, vão se sobrepor a ídolos e marcas de qualquer país em particular. Há mais fás de Kobe Bryant no Brasil, por certo, do que aqueles que vistam a camisa de um Leandrinho. 

Diante dessa imposição comercial, é natural que se desperte em muitos cantos uma completa aversão ao que a liga (aparentemente) representa. Não só pela pura e simples invasão, como também pelo conceito de que o basquete de lá estaria mais perto de uma apresentação do Cirque du Soleil do que de um embate esportivo.

Aí tem o Ettore Messina.

Quatro vezes campeão da Euroliga, uma das mentes mais respeitadas do outro lado do Atlântico e, por vezes, um dos heróis da resistência, daqueles que enxergavam com certo desdém o produto NBA.

Acontece que o meticuloso, genial, genioso, tinhoso, vencedor e veterano treinador italiano tem uma relação de longa data com Mike Brown, comandante do Lakers, que já freqüentou suas clínicas na Europa com assiduidade. 

Em sua complicadíssima tarefa de substituir Phil Jackson, Brown apelou ao mentor e o convenceu a trabalhar pela franquia californiana, com o cargo de "consultor especial", voltado ao sistema ofensivo. Com qual frequência e intensidade, suas ideias são colocadas em prática no time, não se sabe. Durante os jogos, é curioso reparar em sua figura diminuta, sentada logo atrás do banco. Ele se desloca até a roda dos técnicos oficiais durante os pedidos de tempo, mas pouco se pronuncia. De vez em quando, troca uma ideia com Bryant, que sorri, e está tudo ótimo.


Parla: Messina (d) conversa com o assistente-técnico Quin Snyder

Pois então. Agora entrando em seu terceiro mês de NBA, Messina encontrou tempo para blogar e transmitir suas impressões in loco, bem de pertinho sobre a liga norte-americana. Extraímos abaixo algumas observações:

- "A primeira coisa que vem a cabeça é provavelmente o tamanho. É realmente fascinante o quão grandes e atléticos são os jogadores da NBA. As posições que realmente me surpreenderam nesse sentido foram os armadores e os alas-pivôs. É aí que a diferença na capacidade atlética entre nossos caras (euros) e os jogadores da NBA é especialmente vasta. Veja o que Blake Griffin fez outro dia, e você terá uma noção."

Blake Griffin brincando em concurso de enterradas
- "Os caras da NBA, dos armadores aos pivôs, são normalmente muito largos, muito musculares. Isso significa, entre outras coisas, que eles tomam muito espaço defensivamente e, mesmo que exista a regra dos três segundos defensivos, eles podem ainda deixar o lado contrário realmente congestionado quando um jogador está tentando fazer uma penetração rumo ao aro."

- "Essa regra, aliás, é muito peculiar. Basicamente, ela previne que os defensores fiquem parados embaixo do aro, sem marcar ninguém, ou manter contato. Isso leva a uma organização defensiva diferente no lado contrário, que exige uma movimentação muito esperta e rápida para a linha de fundo, para conter as infiltrações com drible."

- "O efeito da regra se torna maior ainda se considerarmos a maior distância na linha de três pontos. Para resumir, faz com que você se preocupe menos com o chute de três pontos de seu oponente do que fazemos na Europa, quando, muitas vezes conter os chutadores no lado contrário é nossa principal tarefa defensiva. Na NBA, o principal objetivo é proteger o garrafão."

Messina, em raro momento de destaque em suas férias pela NBA
- "Outra coisa que chama a atenção é que os jogadores aqui têm mãos muito rápidas. Se você driblar em tráfego, você vai imediatamente entrar em uma grande roubada. Se você é um pivô e receber a bola no garrafão, também é melhor que evite segurá-la abaixo de seu peito ou até mesmo do ombro."

- "E mais: na lista de fatores da NBA que impressionam está a rapidez lateral. Os jogadores muitas vezes encontram soluções para problemas defensivos simplesmente se movendo lateralmente de um modo muito, mas muito rápido para recuperar seu posicionamento. Isso é um fator que interfere muito no jogo."

Esse é o Messina apenas blogando. Imagine a riqueza de detalhes que ele pode discutir, em privado, com Brown e companheiros do banco. Os relatórios que pode elaborar quando sentado no conforto de sua residência hollywoodiana. 

A capacidade atlética de um LeBron James não passa batida pela máquina da liga, e o YouTube não vai nos deixar passar batido. Essa mesma condição física privilegiada oferece outro tipo de espetáculo, cheio de nuanças que podem não valer o highlight, mas também podem encher os olhos daqueles que deixem o babador ou a armadura de lado. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário