quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

A bola girando de mão em mão

Difícil ter algo mais bonito no esporte coletivo do que um time de basquete confiante e ajeitado. Quando os jogadores estão cientes do que podem fazer e quando devem fazer. A bola vai movendo de mão em mão até que se desenha a melhor jogada, não necessariamente rabiscada em uma prancheta. Você percebe que todos estão na mesma batida, e a diferença no placar só vai aumentando a favor deles, a despeito de um ou dois pedidos de tempo do técnico adversário.

Vimos isso há algumas semanas numa exibição marcante dos reservas do San Antonio Spurs. Ontem, nosso querido Phoenix Suns seguiu essa linha em boa parte do confronto com o Milwaukee Bucks. 

No fim, terminou como qualquer jogo de NBB termina, com cesta no finzinho depois de o clube do Vale do Sol ter aberto até 19 pontos de vantagem e se safado no fim. A diferença foi o modo como se construiu esse marcador. Nada de pontos forçados por erros tolos dos rivais no meio da quadra, ou de chutes de três pontos com cinco segundos de posse de bola e sem nem seus pivôs terem chegado ao garrafão.

Era o aniversariante Steve Nash, 38, quem comandava a festa, mas dessa vez com um quarteto confiante ao se redor. De repente, Jared Dudley e Channing Frye redescobriram que podem matar bolas de média e longa distância. Se eles estão acertando esses arremessos, o jogo de pick-and-roll de Nash com Marcin Gortat anda que é uma beleza. Agora, para essa redescoberta acontecer, algo surgiu antes: o resgate de um jogo coletivo há tempos perdidos pelo time. A movimentação de bola rápida e precisa no perímetro, girando de um lado para o outro, procurando aquele que está mais bem posicionado para o chute. Com mais liberdade, era só uma questão de confiar na munheca. Aos poucos, vai aparecendo.

Os amigos Nash e Hill decidiram apostar no Suns nas últimas duas temporadas

Durante a partida, acabaram pecando por excesso de confiança, esquecendo o que os havia levado até ali. Especialmente no caso de Michael Redd, que vale um post extra ainda nesta quarta: uma vez que todos os chutes caíam – foram 67 pontos apenas no primeiro tempo, contra uma das defesas mais chatas da liga! –, os atletas passaram a crer que tudo daria certo, que bastava atirar uma modinha para o alto que ela se transformaria em cesta. Acomodados, pararam de se movimentar sem a bola, deixando seus passes óbvios e dependendo de arremessos contestados em posições desconfortáveis, como o grandão Robin López, aquele que rivaliza com a cabeleira de Anderson Varejão,  tentando um gancho, na passada, a uns cinco metros da cesta. Aí voltaram aos tempos de mazela. 

Quando os campeões de Dallas estavam apanhando de todos no início dessa temporada alucinante, discutimos aqui e dessa vez, por algum milagre, não erramos. Tanto o Mavs com o Suns dependem de um entrosamento, de uma sintonia muito mais fina para render seu melhor basquete. Embora Jason Terry, Dirk Nowitzki, Steve Nash e Marcin Gortat possam pontuar com eficiência, cada um ao seu modo, todos eles dependem, no fim, de um time azeitado ao seu redor e de muito ritmo de jogo, ao contrário de uma aberração como LeBron James que, mesmo nos dias ruins, vai conseguir atropelar um ou outro defensor para concluir seu lance acrobático perto do aro. 

Sem a preparação adequada na pré-temporada, esses dois clubes agora vão encontrando suas fórmulas, com mais de um mês de temporada completado. No caso do Suns, é algo ainda mais imperativo, porém, dada a disparidade de talento em seu elenco se comparado com a turma de Herr Nowitzki. Nash ainda é um armador com toque de Midas, que melhora aqueles que estão ao seu redor. Mas, se os Suns não acreditarem,  não vai ter jeito. 

Agora com três vitórias seguidas, duas fora de casa, eles dão sinais de que voltaram a acreditar em suas capacidades.. Antes de tudo, porém, eles precisam confiar na beleza de um jogo solidário.


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