quinta-feira, 19 de abril de 2012

Eu sei o que você fez em São Carlos



passaram cinco anos, caceta. 

Sem carta de motorista na mão, resta aguentar a gozação do chefe, pegar o busão, mesmo, no Terminal Tietê, sem se esquecer de guardar prontamente o recibo na bolsa lateral da mochila – na calça jeans, não, que lá se perde tudo. Conta de novo a grana da diária: é um lanche, a passagem, e ainda sobra muito para comer, e beber, na volta. Então, vai, filho, pé na estrada para São Carlos. 

Essa cidade que foge um pouco dos padrões do interior de São Paulo com uma altitude um pouco mais elevada e temperatura levemente mais amena do que o que se passa nas redondezas ("um pouco", "levemente", tá com medo do quê?). Ribeirão, Franca, Itápolis, Matão, Araraquara. O sol racha. Em São Carlos, nem tanto? Bem, pelo menos é o que ouço a cada viagem com a namorada, passando pela beirada, e ainda falta um tobogã todo (que o Uninho segurou bem em sua primeira jornada, já com a carteira providenciada), e mais um braço de rodovia vicinal para brecar em Tapinas. O que dá para garantir é o seguinte: no Castelo, na saída do lanche, você pode se pegar desprevenido sem agasalho, com ventania. 

Mas, com frio, pedregulho ou agreste, não importa, já que, lá, a rodoviária está só a três e poucas quadras do destino final, o hotel que é referência na vizinhança. Passa no fast-food no meio do caminho para abastecer e aperta a passada – uma vez paulistano, não se anda de outro jeito. Abre a mochila, tira o tijolo de laptop e espera ansioso, chega até a torcer para que a luzinha azul acenda: que a placa de Internet não falhe.

Agora aqui em 2012 essa desconfiança ainda vale, pelo menos. Sinal de que não envelheceu tanto assim. Mas ah, vá. Sinal falha, gente. O que se para dizer, então, descompromissado que só, é que o progresso – amados progressistas desta terra – ainda  engatinha, por mais que o Times da vez dê sua ocasional manchete em verde e amarelo.

Desencana. O que pega é que, na improvisada sala de convenções daquele hotel, alguns poucos jornalistas da capital se arrumavam – não havia concorrente direto, jogo praticamente ganho –, até aquele gigante todo sorridente, com o cabelo cheio, um black power inédito, entra na sala e todos se calam. Um astro da NBA. Mas que está em casa. O Nenê Hilário de São Carlos. Que não jogava um torneio oficial há quatro anos pela Seleção, mas estava prestes a anunciar o fim do divórcio.

O sorriso colgate de um Nenê e o fim do primeiro exílio
"O basquete brasileiro precisa de socorro. E esse é o momento certo para tentarmos resgatá-lo", anuncia o pivô do Denver Nuggets, muito tempo antes de descobrir e ultrapassar o câncer. "Estive falando com a família e amigos. Refleti e decidi jogar o Pré-Olímpico. Espero uma nova vida. O que passou, passou, agora quero ajudar o basquete e defender a Seleção."

Isso aí. Disse que não havia atrito pessoal com o nosso presente de grego, que só cobrava estrutura, que os "hermanos" estavam enfraquecidos e era a hora crucial para o Brasil sair da UTI basqueteira jogando sua sorte em Las Vegas. "A vontade agora é levar o esporte para cima. O nosso basquete está desaparecendo", disse.

Só faltou combinar com Luis Scola, Carlos Delfino, Kammerichs. Oye.

Hoje estamos fora da UTI, mas ainda não recebemos alta. Digamos que estamos em estado de observação. O aparato de viagem melhorou consideravelmente, a marca não se expandiu tanto. Na época, além de pedir a convocação de Valtinho e Rogério Klafke, Nenê cobrava também a presença de um estrangeiro na comissão técnica. Há dois anos que a comissão é chefiada por um argentino.

O fiasco em Las Vegas foi a última participação oficial de Nenê com a "amarelinha", hoje pálida de branquinha. Cinco anos atrás. Dia desses, nosso intéprido presidente da CBB anunciou – futricou? cochichou? espirrou? – na mesma São Carlos (fica a aposta: no mesmo hotel?) que o Nenê Hilário estava de volta.  

Certeza: nem envelheci tanto.

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