sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Para o Lakers não pode

Chris Paul agora tem de se desgrudar de Kobe Bryant: David Stern não tolera ver os dois juntos
Depois do lenga-lenga, intrigas, verborragia e pânico do lo(u)caute, quando todos acreditavam que pior não ficava para a NBA, David Stern se superou.

Impulsionado novamente por proprietários de clube bilionários – e chorões (começo a suspeitar que seja pré-requisito: se Malcom Gladwell escreve em Outliers que, para alguém ser bem-sucedido em seu ramo, deve se dedicar a essa atividade por cerca de 10.000 horas, os Dan Gilberts da vida tenham chorado muito desde criancinha) –, ele vetou uma troca que basicamente mandava o armador Chris Paul para o Los Angeles Lakers.

Entendamos: para impedir a falência da franquia ou sua desvalorização completa, a liga comprou o Hornets no ano passado, controlando suas operações de modo provisório. Na ocasião, o comissário assegurou a todos os envolvidos que não havia conflito de interesse algum em jogo, que o time poderia seguir sua vida normalmente, independentemente.

Mais uma vez, a palavra de Stern ficou pelo caminho. Dell Demps, gerente geral do clube, negociou durante toda a semana, horas e horas, até chegar ao negócio que enviava Paul para Hollywood, envolvendo o Houston Rockets na parada. Pau Gasol iria para o Texas. E o Hornets receberia praticamente um time inteiro com Goran Dragic, Kevin Martin, Lamar Odom e o infalível Luis Scola. A transação estava acertada entre todas as partes. Na última hora, a NBA cancelou tudo.

O motivo oficial: "por razões esportivas". O motivo real: algo posicionado entre "inveja de alguns chorões em relação ao Lakers" e "Stern e esses chorões vão fazer de tudo para mostrar aos jogadores que são eles que estão no controle e, locaute resolvido ou não, ainda vai dar muita m. daqui para a frente".

Não há explicação basquetebolística que aponte uma injustiça nessa negociação. O Hornets não recebeu nenhum prospecto para o futuro, mas ganhou um time prontinho para competir pelos playoffs no Oeste. O Rockets apostou  muito em Pau Gasol (e numa possível parceria entre o espanhol e Nenê), e o Lakers implodia sua atual equipe e seguia sonhando em enfileirar Paul, Howard e Kobe.

(Na verdade, até acho que o negócio era uma fria para os angelinos, que dificilmente conseguiriam tirar Howard do Orlando Magic oferecendo Andrew Bynum e esmolas, o que deixaria o garrafão da equipe devastado).

Foi, sim, uma decisão de negócios – e rancor (para eles, é um absurdo que Chris Paul queira jogar aonde quiser jogar e que o Lakers seja forte por ser o Lakers) – por parte da liga, com diversas implicações:

- Lamar Odom já declarou que não se apresenta ao Lakers neste fim de semana (Gasol, Martin, Dragic, todos jogadores que já se revelaram sensíveis no passado, também devem estar arrasados; o curioso é que Luis Scola se mostrou inalterado, entendendo tudo. Grande Scola).

- Chris Paul procurou a direção do Sindicato dos Jogadores para avaliar se é possível recorrer a alguma medida legal.

- Demps provavelmente perdeu o sentido de vida – se a liga veta uma negociação impecável de sua parte, elogiada por toda a concorrência e ainda diz publicamente que achava que o Hornets estava se dando mal na negociação, o gerente geral deveria pegar suas trouchas, mandar tudo para o espaço, e eles que se virem.

- O Hornets agora vai carregar o peso morto de Paul durante toda a temporada e perdê-lo de graça em julho, de mãos abanando?

- Como vai reagir o Hornets nas próximas negociações? Ou o técnico Monty Williams será obrigado a conduzir o atual elenco até que a morte os separe?

- O quanto essa medida de Stern ajuda a valorizar o clube para sua venda?

- E o Lakers? A franquia agora, então, encara uma situação de "nós-contra-todos"? O Lakers é um inimigo da NBA?

- Dwight Howard deve se manifestar em breve na Flórida afirmando que não pretende ficar em Orlando. E aí, gente? Vamos vetar também?

- As teorias da conspiração ganham força.

Dan Gilbert: LeBron não pode, Miami não pode, Knicks não pode, Lakers não pode, Cleveland pode
E não para nisso. A mídia especializada nos EUA está bombardeando a liga no Twitter, sites e jornais, com piadas, questionamentos e muita informação: Adrian Wojnarowski, prêmio Esso de jornalismo pelo Yahoo!, tá loco, conseguiu uma cópia de um email enviado por Dan Gilbert, dono do Clevaland Cavaliers, para Stern, copiando outros comparsas, reclamando de montes da troca, preocupado com os efeitos ela, mas ignorando uma parte que certamente estava mais interessada naquilo tudo: o próprio Hornets.

Enfim, ironicamente, no dia em que resolveu oficialmente o perrengue do lo(u)caute, a NBA arrumou um modo de se complicar e estender uma nuvem negra por sua temporada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário