quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Hettsheimeir

Os dois foram descobertos no interior de São Paulo, ao norte, vindo de pequenas cidades do norte do Estado, um em Araçatuba (180 mil habitantes e 1,1 mil km² de área) e o outro da ainda mais tímida Monte Aprazível (21 mil habitantes e 500 km²) . 

Foram lançados para o basquete nacional no hegemônico Ribeirão Preto de Lula Ferreira. Ganharam títulos estaduais e se mandaram cedo para a Espanha, o primeiro com 19 anos, em 2005, e o segundo em 2006, com 18. Contratados por clubes da Liga ACB, foram emprestados para ganhar cancha nas divisões menores, começaram a produzir, tiveram sérias lesões e entraram para valer no campeonato dos grandões, onde ainda tentam se firmar. 

O filho de Araçatuba é Rafael Hettsheimeir, o de Monte Aprazível, Paulão Prestes, ambos convocados na pré-lista de Rúben Magnano.  As similaridades entre eles de certo modo cerram por aqui. 

Depois do excepcional Mundial Sub-19 que fez em 2007, no qual carregou a seleçãozinha nas costas até o quarto lugar, Paulão virou uma vedete da comunidade basqueteira nacional. Fóruns e fóruns foram alimentados com os sonhos de vê-lo na equipe principal. O Nenê não vem? Que importa? Temos Paulão para dar um descanso a Splitter. Não que fosse – seja? – descabido, como você pode ler aqui (em inglês, os scouts estonteantes de Jonathan Givony, companheiro do Draft Express). Bem pago pelo Unicaja Málaga, mas emprestado para o lanterna da liga em Murcia, acabou draftado pelo Minnesota Timberwolves no posto 45 em 2010, como um investimento futuro do time de Rick Rubio. 

No seu canto, Hettsheimeir passou distante dessa badalação, desenvolvendo seu jogo, sem atrair muita atenção da legião on-line de seguidores de estatísticas. Em 2009, cedido pelo CAI Zaragoza por empréstimo pelo Obradoiro CAB, e tomou a liga de assalto (leia aqui, em galego, imperdível!!). Vinha impressionando, mas sua campanha foi freada bruscamente por uma ruptura de ligamento no joelho esquerdo. Retornou ao Zaragoza, na segunda divisão e retornou à elite com a equipe, promovida, cumprindo uma temporada sólida, com 10 pontos, 5,4 rebotes de média e aproveitamento de 54% de quadra e 40% dos três pontos, enquanto o outro pivô brasileiro tem em duas temporadas as médias de 8,1 pontos e 6,1 rebotes.

Esses números foram relevados durante a fase de treinos da seleção com Magnano. A expectativa dos fanáticos era muito maior em relação a Paulão, que acabou cortado. No fim, foi o araçatubense o eleito como o substituto de Splitter, enquanto Caio Torres entrou como o terceiro pivô. 

Em uma atuação irrepreensível e decisiva contra a Argentina, Rafael fez valer a aposta de Magnano e dá, de certo modo, uma lição em nossos aficionados – nem sempre o mais novo, o mais promissor é o mais indicado. Porque a impressão que fica é que, aos 25 anos, já teria perdido qualquer  apelo, como se estivesse em um limbo em que não é qualificado como estrela, nem como revelação, e como se nada além disso importasse. 

Em 22 minutos, converteu 9 de 11 arremessos e acumulou 19 pontos, oito rebotes, dois roubos de bola e um toco, desconcertando o mítico Luis Scola. Aproveitou da melhor forma o excesso de faltas de Splitter, que recebeu a quarta com apenas três minutos jogados no terceiro quarto, vencido pelo Brasil por 26 a 19, graças ao desempenho crucial de seu pivô reserva.

A cada cesta, fosse num gancho de direita ou num arremesso de média distância, Scola pegava a bola abaixo do aro, balançando a cabeça, sem acreditar no que via e em como estava apanhando em quadra.

Agora aproveite, Hettsheimeir. O status cult é todo seu. 

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