quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Tubo de ensaio

Não é para diminuir de forma alguma a vitória brasileira, mas a baixa de Andrés Nocioni logo no início da partida também foi determinante para o surpreendente e magistral resultado desta quarta-feira. 

Nocioni não é apenas o jogador mais emotivo e aguerrido da esquadra que é a Argentina, como seu melhor defensor no mano-a-mano, o segundo melhor reboleiro e o segundo melhor chutador de três pontos. 

Na teoria, os campeões olímpicos não dependeriam excessivamente de um atleta – que não seja Luis Scola, claro. Afinal, em 2007, sem Ginóbili, Nocioni, Oberto, Herrmann, Pepe Sánchez e Magnano, não foi essa mesma Argentina que derrotou o Brasil, ali com Leandrinho e Nenê, na disputa pela vaga para Pequim-2008?

Aí recorremos a um fator importantíssimo, que muitas vezes pode ser considerado como uma bobeira, um clichê tonto: a química de uma equipe. Talvez não haja esporte coletivo que dependa mais do entrosamento, tático ou fraternal, do que o basquete. Por sua dinâmica, a constante movimentação em quadra no ataque e, em resposta, na defesa, ou vice-versa, claro (ao contrário do vôlei), em um espaço que fica pequeno (ao contrário de um campo de futebol) para acomodar tantos atletas, tanta envergadura, o jogo pede uma atenção redobrada, um coletivo muito forte e treinado. 

Nesse sentido, a perda da presença física de Nocioni mexeu com o equilíbrio argentino em quadra. Sem ele, a defesa ficou mais frágil e o ataque também – cresceu a responsabilidade de Scola e Ginóbili para pontuar, por exemplo, e o ala do Spurs está claramente maneirando no torneio. Em formações passadas, Federico Kammerichs e Pancho Jásen cumpriram a função de homens de liga na posição, e foram muito bem. Mas eram quintetos preparados desde seu início sem a presença do Chapu, que não defendia a equipe desde 2008. 

Na derrota para o Brasil, os dois alas encontraram maneiras de contribuir para suas equipes com a habitual dedicação aos pequenos detalhes em quadra, seja em corta-luzes sólidos, a captura de bolas perdidas e o ataque nos rebotes ofensivos. No segundo tempo, Kammerichs salvou diversos ataques. O problema é que seu arremesso irregular acabou sendo um fardo em muitos momentos. A defesa brasileira fechou seu garrafão, forçou tiros de fora, e o ala, um novo flamenguista, hesitou no chute e forçou passes para seus companheiros, deixando muitas conclusões no estouro do cronômetro. Seriam bolas que Nocioni arremessaria sem dó, e provavelmente nem estaria livre para tanto, o que poderia abrir mais espaço para Ginóbili e Scola operarem. 

O mérito aqui é todo de Magnano e de seus jogadores, no entanto, que souberam explorar a deficiência de seus adversários nesse jogo de gato-e-rato. Se Kammerichs coletou alguns rebotes ofensivos (três, num total de oito), por outro lado a seleção brasileira fez a Argentina pagar de outra forma por sua presença em quadra, ainda mais em uma jornada pífia de Carlos Delfino, que terminou com 12 pontos em 14 arremessos, mas seis deles saíram em bolas de três desesperadas, e sortudas, nos 20 segundos finais.

Além disso, com a dedicação redobrada imposta por Magnano na defesa, jogadores como Marquinhos, Giovannoni e Machado, em maior ou menor grau, se tornaram pontos menos vulneráveis, o que contribui muito para uma química melhor de sua equipe em quadra. Hoje, eles precisam trabalhar mais no ataque (passar mais a bola, muito mais) para que a seleção consiga subir mais um degrau. Esse é o próximo passo, e talvez o maior desafio para o técnico argentino. 

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