Depois daquela pergunta, a outra frase mais ouvida nesses dias em que o basquete voltou a ganhar manchetes é como a vaga olímpica pode mudar tudo para a modalidade, recentemente apontada com a quinta preferência esportiva no Brasil, com 16%, bem atrás do vôlei, que tem 46%.
Muda mesmo? A campanha em Mar del Plata gerou muito mais cobertura num espaço de três dias do que no ano inteiro. Mas não é só isso que vai mudar um quadro esquálido em que o jogo se encontra no país. O NBB avança aos poucos, traz boas novidades no mercado, mas há um problema estrutural muito maior para ser resolvido, que não pode nunca ficar nas costas de um Tiago Splitter ou de um Nenê.
Há um trabalho volumoso a ser realizado pela confederação brasileira, que já vem se vangloriando de bons resultados obtidos em quadra nos últimos meses (tendo o pódio no Mundial Sub-19 feminino como destaque). Mas não é só isso, claro.
Um retrato triste de como estamos muito para trás enquadrou a própria seleção masculina de Ruben Magnano há algumas semanas, em São Paulo.
Em seu primeiro amistoso depois de mais de um mês de preparação, contra o México, a equipe foi tratada como um nada pelo marketing da CBB. N-a-d-a, como testemunhei no clube A Hebraica, em bairro nobre da capital paulistana.
Qual era essa fotografia? Vocês desculpem a repetição de alguns termos como "não houve" no relato abaixo, foi inevitável:
1) Para quem segue o basquete paulistano, já foi muito estranha a decisão de fazer a partida na Hebraica. Estrutura para treinos eles têm, claro, trata-se de um ótimo clube. Para receber um jogo de seleção? Se você tem alguma ambição de promover a equipe, tenho minhas dúvidas. O ginásio apresenta ótima quadra, mas a formatação das arquibancadas é péssima. Os assentos são meio que inexplicáveis: como se fossem bancos de pátio escolares gigantes, de madeiras paralelas, divididos com braços de ferro soldados, reservando assim o espaço de uma 'cadeira'. O pior é o tamanho da área dos assentos: qualquer sujeito de mais de 1,80 m de altura ficou espremido. Pensando num público (alto) de basquete, essa foi uma situação bizarra -- a nota positiva é que ao menos os bancos se adequavam ao tamanho dos caçulas do Nosso Clube de Limeira, que formavam uma volumosa excursão no ginásio. Além disso, era no mínimo curioso ver que o clube seguia com sua vida social ativa, como se nada estivesse acontecendo ali. Da arquibancada, você via os sócios se matando na esteira de uma grande academia ou um treinamento de judô no andar inferior do edifício que fica ao lado da quadra, com seus largos e altos vitrais.
2) Não só não houve uma ação de marketing durante toda a estadia da equipe em São Paulo – tirando o camp pessoal do Tiago Splitter, que também só foi divulgado pelo jogador em seu Twitter – , como não havia nada de especial no próprio ginásio na noite do jogo. Incrível. Não houve distribuição de flyers, guias, pôsteres, ou mesmo cartazes de cartolina pintados com giz de cera. Patrocinadores presentes? Com exceção da propaganda básica rodeando a quadra, para as câmeras do SporTV, não havia nada. Tampouco houve venda de nenhum material da Nike sobre a Seleção. Somada essa seca ao fato de que os treinos foram fechados em sua grande parte – dificultando o trabalho de divulgação por parte da mídia –, o baixo público no jogo foi facilmente explicado. E pode ter certeza: na Hebraica, a esmagadora maioria do público presente era formado de basqueteiros , gente que iria ao ginásio mesmo por um Pinheiros x CETAF. Nada de errado com esses espectador, claro. O ponto é que o 'novo'público' não esteve presente para conhecer a seleção, ou mesmo o basquete.
3) No jogo disputado na Hebraica, não houve nem mesmo um locutor oficial ou um mestre de cerimônias. O resultado é que nem os jogadores brasileiros, muito menos os mexicanos foram apresentados ao público presente (maior que o da segunda partida no Paulistano, o que foi inexplicável, considerando que estamos falando de um sábado ensolarado em São Paulo, num clube de acesso muito mais fácil, com uma estação de metrô a dez minutos a pé). No sistema de som local, uma seqüência manjadona de rap, e só. Considerando que tínhamos um grupo renovado, cheio de jovens atletas que atuam na Espanha há tempos e que realmente precisavam de uma introdução, essa foi uma falha capital. Para os poucos presentes, você podia imaginar exclamações fictícias e bizarras como: "Toca para o 11!", "Esse 7 pula muito", etc. Não seria legal, talvez, ter colocado um Splitter, que não jogou mesmo, no microfone para conversar com a platéia ou fazer um discurso mínimo antes da partida?
4) Nem o protocolo foi respeitado. O hino nacional mexicano começou a ser tocado quando os jogadores estavam no finzinho do aquecimento. O resultado? Tanto brasileiros com os estrangeiros tiveram de correr pra se alinhar, já com a música em andamento.
5) Havia apenas um placar eletrônico tímido no ginásio, posicionado na parede atrás de uma das tabelas (a outra tabela é margeada por uma grade). Dependendo do ângulo do torcedor na arquibancada, você não poderia saber o tempo de jogo ou o resultado, já que o placar ficava encoberto por uma tabela erguida.
Agora uma constatação extra que está indiretamente envolvida com isso tudo: é muito difícil se acostumar com esse uniforme branco da Seleção. Foi minha primeira vez vendo o time em ação de modo tão pálido, digamos. Dessa impressão tiramos ao menos uma constatação: novamente, a fraca divulgação da equipe – as imagens da seleção vestida de branco ainda não estão gravadas na nossa cabeça, não se cria uma identidade. Diante de um México jogando de preto, num jogo sem divulgação, poderíamos pensar que estávamos de uma partida entre Uzbequistão e Nigéria, ou qualquer confronto imaginável.
José Carlos Brunoro muitas vezes se pronuncia com um todo-poderoso na CBB e também é defendindo como um segundo-em-comando. Seria bom que ele se dedicasse ao cargo ao qual foi atrelado na campanha de Carlos Nunes: o marketing.
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