Confira abaixo notas e comentários (nem tão breves) de um leigo sobre os 12 jogadores que ajudaram o Brasil a se classificar pela primeira vez para uma Olimpíada desde as peripécias de um já trintão Oscar Schmidt em 1996. Todos os números levam em conta o rendimento dos atletas até a semifinal do torneio:
- Marcelinho Huertas: o principal jogador da seleção brasileira hoje, tanto por viver sua melhor fase – e, a cada ano, a fase parece melhorar –, como pela dificuldade em se encontrar um substituto que lhe dê alguns minutos de descanso sem que o rendimento do time despenque em quadra. No total, teve 20 minutos de tempo de jogo a mais do que qualquer outro atleta da equipe. Foi muito mais agressivo ofensivamente durante o torneio, algo que é apreciado nestas bandas, abusando de sua habilidade nos arremessos em flutuação, entendendo que precisava ser o dínamo a fazer a equipe jogar. A partir de suas infiltrações que os arremessos de fora se abriram. Nas bolas de três, é clara a diferença de rendimento quando chuta com os pés plantados em comparação com os chutes em movimento.
>> Rumo a Londres: no Barcelona, Huertas verá seu tempo de quadra cair drasticamente devido ao volumoso elenco do clube catalão, embora também seja certo que sua temporada vá durar mais, já que é hábito do time freqüentar as decisões da Liga ACB e da Euroliga. Em sua nova equipe, ele deve ter um trabalho muito mais de maestro do que de finalizador.
- Rafael Luz: muito jovem, aos 19 anos, Rafael sentiu a pressão na Copa América, apesar de ter jogado uma temporada inteira na elite do basquete espanhol. A diferença é que lá ele atua muito mais como escolta do que como principal condutor de bola da equipe, função que tinha de desempenhar na Argentina para dar algum descanso a Huertas. Chegou a discutir em quadra com Rúben Magnano em uma partida e acabou vendo seu tempo de quadra se reduzir no decorrer da competição, mas foi usado pelo argentino em minutos importantes na decisão em um importante teste. Tem boa capacidade atlética e força considerável para a posição e pode se tornar um grande marcador. É também um bom arremessador. Afinal, isso é coisa de família.
Rafael Luz: torneio de calouro pela seleção - CBB |
>> Rumo a Londres: "Rafa Freire", como é conhecido por lá, vai jogar o campeonato espanhol pelo Luncetum Alicante, pelo qual vai poder desempenhar com mais tempo à armação, atuando como substituto do veterano Pedro Llompart. Seu progresso deve ser acompanhado de perto pela comissão técnica brasileira, lembrando que Jogos Olímpicos não abrem espaço para experiências.
- Nezinho: foi o que menos jogou no Pré-Olímpico, apenas 42 em nove partidas, 15 deles contra Cuba. Ele marcou apenas quatro pontos no torneio, todos eles nos instantes finais da sacolada para cima de Porto Rico, tendo acertado dois em dez arremessos. Seu nervosismo na hora da definição de jogadas era evidente, numa situação de pressão tanto por ter perdido o posto de primeiro reserva para o jovem Rafael, como pela constante desconfiança em torno de seu nome a cada convocação. Teve o mesmo número de erros e assistências (sete).
>> Rumo a Londres: parece o jogador mais ameaçado a perder seu espaço no grupo olímpico, pois não faz sentido levar um jogador de sua experiência para apenas esquentar o banco. No Brasília, mais do mesmo: vai brigar pelo título do NBB, mas o quanto seu jogo será diferente?
- Vitor Benite: jogou mais como escolta e mesmo um lateral do que como armador, que é a posição esperada para ele no desenvolvimento de sua carreira. Foi o substituto de Alex na rotação. Fez dois ótimos jogos contra Cuba (café com leite) e Uruguai, no qual fez chover da linha de três pontos, mas teve tempo limitado de quadra nas partidas decisivas. Foi o melhor gatilho da seleção, com média de 55,6% de três pontos e 81,8% nos dois pontos, sem sentir a pressão. Porém, podia ter ajudado mais Huertas nos momentos em que esteve em quadra para aliviar a pressão sobre nosso maestro. Restam dúvidas sobre sua capacidade para a função.
>> Rumo a Londres: vai estrear pelo Limeira neste ano, tendo defendido sua saída de Franca pela perspectiva de atuar mais na posição de armador do que como ala, como acontecia ao lado de Penna e Helinho. O acordo teria sido selado com a anuência de Demétrius, assistente na comissão de Magnano. Basta saber se ele vai conseguir se impor na posição com a forte concorrência de Eric Tatu, Ronald Ramon, Neto e do novato Deryk. Creio que esse é um dos pontos mais importantes e interessantes para se observar durante a temporada nacional.
- Alex: um cachorrão na defesa. Teve atuações implacáveis contra os astros Manu Ginóbili e Carlos Arroyo, com uma agressividade assustadora – se a impulsão não parece a mesma dos tempos de Ribeirão Preto, seu vigor físico e velocidade ainda impressionam, não importando sua baixa estatura. É isso: quando está focado, é um dos melhores marcadores de perímetro do mundo. Mesmo, e sua temporada pelo Maccabi Tel Aviv, como titular de um time de Final Four de Euroliga, foi a prova disso. Fez o serviço sujo na defesa de modo louvável, mas não se furtou de arriscar demais em seus chutes de longa distância injustificáveis. O resultado não é feio apenas em sua mecânica, mas também em seu resultado (23,1% de aproveitamento, tendo matado apenas seis de 26 bolas). Algo que precisa ser corrigido. É uma força no contra-ataque.
>> Rumo a Londres: no Brasília, Alex tem a liberdade para arremessar de onde quiser, quando quiser. Para qualquer chance de seleção na Olimpíada, o desempenho defensivo do ala será vital.
- Marquinhos: começou o Pré-Olímpico com um rendimento muito abaixo do que pode render, mas foi ganhando espaço à medida que que o time evoluiu no torneio, não por acaso. Quando partiu para a cesta, em vez de se limitar aos chutes de três, causou muito mais trabalho para as defesas adversárias, com seu tamanho e envergadura. Era algo que deveria fazer mais, não? Muito versátil, superou Carlos Delfino em dois confrontos diretos, mostrando seu potencial. Foi outro que também surpreendeu na defesa, tendo encarado até mesmo Al Horford no mano-a-mano no primeiro quarto da semifinal contra a República Dominicana e se saído muito bem.
>> Rumo a Londres: talento não falta. Parece ter chegado à maturidade também. Seu desafio pelo Pinheiros agora é carregar o time um degrau acima no NBB, tentando desbancar Brasília ou Flamengo. Para isso acontecer, seu time precisará de um Marcus Vinícius muito agressivo e intenso, nos dois lados da quadra.
- Marcelinho Machado: mais sobre sua dependência dos tiros de fora aqui. Seu tempo de quadra foi limitado a 19 minutos durante o torneio, na função de sexto homem, revezando com Alex e Marquinhos.
>> Rumo a Londres: no final de sua carreira, será premiado com a primeira Olimpíada, numa redenção bem-vinda a um jogador que já fez muita besteira em quadra (muitas brigas), mas também apanhou demais e de modo injusto durante uma década, como se o presidente da CBB fosse ele. É muito respeitado pelos treinadores adversários. No Flamengo, enquanto o locaute da NBA durar, todos os olhos serão voltados para sua dupla com Leandrinho. Na seleção, o ala aceitou a redução no seu volume de jogo. Na Gávea, com o vai ser?
- Guilherme Giovannoni: Dos 72 arremessos que tentou na Copa América até a decisão, 36 (50%) vieram de longa distância. Matou 44% delas e cumpre uma função tática para abrir a quadra. Mas talvez dependa em demasia desse tiro de fora, abrindo mão de infiltrações. Seu jogo ofensivo já foi mais versátil. De todo, foi combativo como nunca na defesa, se empenhou nos rebotes contra rivais mais fortes e maiores e ganhou moral com Magnano.
>> Rumo a Londres: entra no NBB como seu atual MVP e é novamente um dos candidatos ao prêmio. Com Varejão, deve perder o posto de titular e minutos e arremessos.
- Augusto Lima: Foi usado por Magnano em situações pontuais, na conclusão de alguns quartos, para poupar seus titulares de faltas, ou com o jogo já vencido. Nos amistosos, teve mais oportunidades e mostrou que é um talento que pode contribuir para a equipe no futuro devido a sua capacidade atlética especial (ele parece feito de borracha), velocidade e impulsão, atacando os rebotes ofensivos e em tocos do lado contrário, na cobertura. No ataque, já se arrisca com chutes de média distância sem temor, podendo desenvolver esse aspecto de seu jogo ainda mais.
>> Rumo a Londres: essa temporada na Espanha é vital para o seu desenvolvimento. Augusto tem a expectativa de elevar sua produção em relação ao já promissor rendimento da temporada passada. Ele será analisado de perto pelos scouts da NBA e pode ser mais um a cruzar o Atlântico em um futuro próximo.
Hettsheimeir pega Scola de surpresa em Mar del Plata |
>> Rumo a Londres: Hettsheimeir já é uma figura estabelecida na Espanha, com tempo de quadra e função importante no Zaragoza. O desempenho em um curto período na Argentina (15,1 minutos) praticamente lhe garante na Olimpíada e deve lhe dar muita confiança para a próxima temporada. Poderia refinar mais seu jogo de pés, para basear seus movimentos menos em força e envergadura.
- Tiago Splitter: não pareceu certo que o melhor jogador brasileiro disputasse o seu pior torneio pela seleção justamente na ocasião da classificação olímpica. Fora de forma, sem confiança e ritmo de jogo depois de uma loooonga temporada no Texas, Splitter esteve irreconhecível em quadra. Só conseguiu lidar com os times mais baixos, como Venezuela e Porto Rico (sem Santiago, Ramos e Reyes). De resto, sofreu muitos tocos, alguns deles humilhantes e seus ganchos não funcionaram. Terminou com apenas 8,3 pontos por jogo e aproveitamento abaixo dos 50% de quadra, algo muito incomum em sua carreira. Seu desempenho no lance livre, que nunca foi o seu forte, caiu ainda mais, deixando Shaquille O'Neal e Dwight Howard orgulhosos. Por outro lado, sua presença física e sua inteligência foram fundamentais na defesa, tanto nos rebotes como no fechamento de espaços.
>> Rumo a Londres: a torcida é para que o catarinense consiga ficar afastado das lesões e ganhe mais espaço no Spurs – sua performance nos playoffs foi um ponto positivo nessa direção. Isto é, se houver temporada da NBA, claro. Caso o locaute se estenda, certamente terá propostas europeias e brasileiras, e ele precisa de cada minuto em quadra para retomar a técnica que o consagrou no País Basco.
- Caio Torres: o pivô mais técnico da equipe de costas para a cesta, perdeu peso e fez um bom campeonato na Espanha no ano passado. Em uma seleção brasileira que priorizou a velocidade em transição, porém, seu jogo acaba destoando. É grande, mas pouco ágil para acompanhar esse ritmo.
>> Rumo a Londres: sua posição é a que apresenta a maior concorrência por uma vaga no time. Atuando no Flamengo, vai ser observado com maior facilidade, mas corre o risco também de ser muito pouco municiado em uma equipe com muitos pontuadores no perímetro.
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