Não deixa de ser irônico que, no jogo de definição da vaga olímpica, a mão certeira tenha sido a de Marcelinho Machado, inclusive cabendo a ele colocar os últimos pontos no placar, já lutando para segurar as lágrimas.
Eleito por torcedores enfezados o inimigo público número um do basquete brasileiro – imagine se tanta raiva fosse canalizada para os vilões de fato, e alvo aqui não falta –, ele anotou 20 pontos contra a República Dominicana, convertendo cinco de oito arremessos de longa distância (vale reforçar aqui o fato de que, descontados os seus chutes, o aproveitamento brasileiro foi de pífios 27% na semifinal). Foi a melhor atuação do veterano flamenguista, disparada, no torneio: ele ainda deu quatro assistências em 25 minutos, sem nenhum desperdício de bola. Tudo bem acima de sua média no torneio, de 9,0 pontos, 1,3 assistência e mira de 38,3% nos três pontos.
Ao passo em que os anos vão pesando (36 anos), algo que às vezes pode passar despercebido devido ao seu porte físico esguio, seu jogo vai se centrando cada vez mais nos tiros de fora. Em Mar del Plata, apenas 72,3% de seus arremessos vieram em bolas de três pontos, o que é muito (47 de 66 chutes).
A boa notícia, nesse caso, é que, por sua altura incomum para a posição, a habilidade de arremessador de Marcelinho vai se sustentando, fazendo John Calipari pagar caro por um longo período no terceiro quarto em que decidiu inverter os marcadores e colocar o longelíneo Francisco Garcia na pressão em cima de Huertas e o armador Ronald Ramon na perseguição a Machado, um jogador 19 centímetros mais alto. Era muita coisa para ser contestado.
Ramon, aliás, assim como Pascoal Roeller em 2008 pela Alemanha, se aproximou perigosamente daquele status de carrasco inesperado contra a seleção brasileira, tendo marcado 13 pontos em quadra e algumas bolas de três pontos completamente descontroladas.
O dominicano teve uma jornada exemplar para ganhar a alcunha crazy shooter, aquela que já rendeu mais de uma bíblia de páginas virtuais em fóruns dos basqueteiros brasileiros para esculhambar Machado, como se ele fosse o único cardeal (a bem-humorada e precisa definição do professor Paulo Murilo era obrigatória aqui) a viver desta maneira na seleção nos últimos anos.
Ninguém julgou Machado como um maluco neste sábado.
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