quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Ciclo olímpico

Lucas e Fred Varejinho: duas promessas que precisam de desenvolvimento
Parabéns ao Flamengo, campeão da Liga de Desenvolvimento Olímpico, nesta quinta, no Tijuca. Entusiasma ver a torcida rubro-negra abraçar a, digamos, causa do basquete, mesmo em um torneio de base. O time se aproveitou do apoio desses espectadores, de mais energia e de uma marcação por pressão quadra inteira que causou estragos diante de uma organização tática equivocada por parte de Bauru, incapaz de reagir diante desse quadro (algo que, pior, já havia acontecido no segundo quarto), além da deficiência no drible de seus armadores, em especial aquele que saiu do banco, Bruno. 

Agora um breve pitaco sobre alguns dos garotos protagonistas da final. É torcer para que tenham a exigida instrução (trabalho técnico atencioso), dedicação em quadra (muita hora extra) e oportunidade (tempo de quadra no NBB, estaduais, amistosos, treinos, o que for) para se desenvolverem nos próximos anos e, quem sabe, sonhar com uma vaga na Olimpíada do Rio 2016:

- Alexandre Paranhos, ala-pivô do Flamengo, 19 anos: a grande surpresa da partida, em termos de prospecto, já que boa parte dos outros destaques já são conhecidos de NBB e outras temporadas. Afilhado (ou sobrinho?) de Leandrinho, só carrega do padrinho (tio?) o movimento antes da cobrança de lances livres, segurando a bola com a mão direita espalmada sob ela. Um jogador atlético, que sai do chão com facilidade e rapidez, ótima envergadura e um físico magro, mas largo, que lhe permitirá progredir nos próximos anos, podendo ganhar ainda mais explosão. Com um chute razoável de longa distância, força que os defensores se aproximem no perímetro, o que lhe permite a cortada com a bola dominada rumo ao aro, em um tipo de lance que foi muito eficaz nesta decisão. Apesar da observação corriqueira do comentarista, um tanto desavisada ("precisa melhorar na defesa", um mantra), foi bem na marcação em cima da bola, com uma postura adequada e braços longelíneos que impediam o avanço dos adversários. Um talento a ser desenvolvido com atenção. Seria interessante que suas habilidades de perímetro fossem ainda mais trabalhadas, e talvez pudesse já ser trabalhado na próxima temporada com os adultos, já que no atual elenco qualquer tempo de quadra parece praticamente impensável. 

Andrezão, pivô do Bauru, 21 anos: Um ou até dois anos mais velho que seus companheiros, mostrou um jogo maduro ofensivamente, com preciso chute de média distância e uma finta convincente para limparar a quadra. Batalhador nos rebotes, por vezes falhou no bloqueio defensivo, cedendo algumas novas oportunidades de ataque aos flamenguistas. Ainda carece de um trabalho especial para aprimorar o físico, especialmente para jogar alguns quilinhos fora, para ganhar em mobilidade, já que atua praticamente plantado ao chão, com poucas interferências na altura do aro. Por isso, também precisa treinar mais movimentos, evitando ser uma presa para os marcadores que vêm babando do lado contrário para lhe pregar na tabela, como ocorreu na final. Contra uma competição mais alta, forte e atlética, precisa-se de ajustes. 

- Fred "Varejinho" Duarte, ala-pivô do Flamengo, 20 anos: a sensação da equipe durante o hexagonal com números assustadores, mas um jogador que vai precisar evoluir muito para se encaixar entre os mais velhos. Seu jogo ainda é muito restrito aos arredores da cesta. Na final, teve muitas chances de chutar de média distância, mas sempre hesitou, preferindo a finta e a aproximação da tabela – o que não é má ideia, especialmente buscando uma boa angulação, mas não pode ser a única arma. Além da cabeleira, lembra Anderson Varejão por sua raça, combatividade e tino nos rebotes (4,83 ofensivos não é para qualquer um), embora muito mais baixo. Os instintos defensivos do capixaba também são iningualáveis (e isso vinha desde os tempos de base, em que o ala-pivô parecia se multiplicar em quadra).

- Gegê, armador do Flamengo (Tijuca no adulto), 20 anos: típico jogador da posição formado pela base brasielira nos últimos anos, com uma volúpia ofensiva muitas vezes incontrolável, queimando sem dó bolas de longa distância, ou mesmo chutes de dois pontos com apenas um pé dentro do perímetro interno – seu aproveitamento dos três pontos no torneio foi de pouco mais de 25%, o que não o impediu de arriscar 6,3 por partida, um exagero. De modo incoerente, possui uma boa visão de jogo, distribuindo assistências naturalmente como se fossem panfletos e o arranque necessário para pressionar a defesa adversária.

- Gui, ala do Bauru, 19 anos: são poucos os jogadores de perímetro brasileiros em atividade, de todas as idades, que dispõem da capacidade atlética como a deste jovem atleta. De impulsão e elasticidade raras, ele pode executar lances de um grau dificílimo sem muito esforço, parecendo fácil. Sua elevação o ajuda a matar arremessos de longe (41,30% de rendimento). Mas isso acaba sendo um problema também, já que Guilherme tende a se contentar sem reticências com esses chutes, sem procurar diversificar seu jogo, que causa muito mais impacto quando mais ativo e próximo da cesta. No primeiro tempo da decisão, quando não se contentou em forçar de fora e bateu para dentro, criou diversas oportunidades de cesta para os companheiros ao se desmarcar e quebrar as defesas. Um fundamento que ele deveria trabalhar, e muito, nos próximos meses é o arremesso de média distância, uma arte solenemente ignorada (mas não por um de seus companheiros – leia abaixo), precedido por um ou dois dribles frontais, aproveitando-se, novamente, de sua ótima condição física. Também precisa se movimentar mais longe da bola, em busca de melhor posicionamento ofensivo. Na defesa, tem a atitude, que é meio caminho andado. Com o tempo, deve ficar menos afoito, esperando a hora certa para o bote. 

- Lucas Avelino, armador do Bauru, 21 anos: mais uma espécie rara fisicamente, com velocidade impressionante com a bola – em algumas ocasiões, lembra o jovem Leandrinho nos tempos do mesmo Bauru quando desce a quadra de ponta a ponta e só para na hora de colocar a bandeja no quadradinhou de sofrer a falta. Tem melhorado sua bola de três pontos, mas é outro cujo repertório ofensivo se reduz ao chute de longe ou a bandeja colada ao áreo, sem o jump-shot de média distância ou o arremesso em flutuação útil para qualquer jogador da posição. Com as jogadas orquestadas de sempre, acaba exercendo a função protocolar de "ar-ma-dor", mas hoje ainda parece muito mais um finalizador disfarçado. Precisa trabalhar bem o drible, especialmente com a mão esquerda e em situações de mudança brusca de direção. 

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