Daniel Alemão x Morro: dois casos de talentos subvalorizados e subaproveitados |
O VinteUm reclama do campeonato até agora. Foi criado, em algum lugar, o discurso de que era um novo campeonato, que o esporte estaria dando a volta por cima, que seria outro mundo se comparado ao que tivemos anos atreas, mas a opinião sincera é de que a revolução não parece tão intensa assim. As coisas mudaram? Claro. Só que não tanto como se propagandeia ou acredita.
E quer saber? Não acho que os jogadores tenham parte nisso. Se tiverem, é uma parcela muito pequena – talvez pudessem estudar por conta própria, passar mais tempo no ginásio arremessando lances livres com os olhos vendados, seja o que for. Mas, não, não acho que estejam tão envolvidos assim na qualidade das peladas, embora isso possa parecer um contra-senso, já que são eles, afinal de contas, os executores.
Faça o seguinte: pegue um confronto como Minas x Limeira na semana passada, em BH: havia uma quantidade abundante de talento em quadra. Porque, na verdade, há uma quantidade abundante de talento natural em quadra.
Os mais cínicos, habituados a comparações com Kobe Bryants e Tim Duncans, podem engasgar na hora de falar de atletas nacionais. O problema, porém, é também a subdivisão interna que se faz predominante, separando aqueles considerados 'selecionáveis' (por quem e com qual interesse?) de jogadores menos laureados. Na hora da convocação, muitos páraquedistas tossem quando esses nomes sem o carimbo CBB são apresentados: mão-de-pau!, Magnano pirou!, esse aí não ganha nem o 21 (tcha-ram!) lá no clube do bairro!
Agora... Quanto tempo levou para um Olivinha ser reconhecido pelo formdiável jogador que é? Certo que ele evoluiu de modo considerável dois ou três anos atrás. Mas os atributos físicos e técnicos e a dedicação sempre estiveram ali, aguardando uma observação mais atenciosa. E quanto tempo levou? Muuuito tempo.
O pivô Morro, desde os tempos de São Caetano, fez o técnico Bob Donewald (atual comandante da seleção chinesa) salivar quando assumiu sua preparação para o draft da NBA, ao lado de Marquinhos. Enfornado nos ginásios do Pinheiros, ele trabalhou seu corpo e seu jogo (fazia exercícios de dribles, apsse e arremesso sem parar, todo santo dia): ambos cresceram consideravelmente, ampliando suas qualidades básicas: a capacidade de proteger o aro, o chute e algumas jogadas incomuns para alguém de seu tamanho. Precisou de um título de campeão paulista para ser reconhecido?
Voltemos ao Minas x Limeira.
Você pega um jogador como o pivô Daniel Alemão, aquele que chegou a abandonar o basquete e por algum milagre foi resgatado. Ninguém vai dizer que está diante de um Tiago Splitter ou Nenê. Mas estamos dispostos a parar e gastar alguns minutos para entender o quanto ele pode oferecer para a equipe de Demétrius, ainda mais como um dos poucos pivôs de ofício de sua equipe? O quão atlético é o jogador, com um timing de rebote ótimo e a facilidade que tem para se deslocar no jogo de pick-and-roll cortando para a cesta. E mais: ele ainda tem uma mira confiável no chute de média distância.
É um jogador perfeito? E quem está pedindo isso?
No mesmo time, outro caso de um atleta pouco mencionado, mas cujos atributos físicos não podem ser ignorados: o armador Neto. Existe algum jogador mais leve ao avançar com a bola 'dominada'? As passadas do cabeludo parecem nem tocar na quadra. Sua estatura também é ótima para a posição. Talvez falte mais confiança em se arriscar com a mão direita. Mas será que não falta um voto de confiança maior, aliás? Como aconteceu com Eric Tatu no penúltimo título paulista? Quando se viu com um papel de protagonista, o Tatuzinho se agigantou e foi talvez o grande diferencial daquela equipe. Antes, como acontece agora, aliás, passava muitos minutos no banco de reservas.
A lista vai longe, e dos meninos do Minas falamos mais tarde. Ainda em Limeira, temos o ala Jhonatan, que, desde que se transferiu do Paulistano para a Espanha e regressou ao país, não é cogitado por uma alma viva como uma opção de defensor atlético para a Seleção e não recebeu uma chance sequer. Calma: nem todos cabem num elenco de Pré-Olímpico, ou de Pan-Americano. No fim, são sempre apenas 12 vagas, e Magnano também não pode pré-convocar 75 atletas.
Mas o ponto aqui é cobrar um trabalho mais atencioso com uma porção desses jogadores, seja por parte dos homens responsáveis pelas listas finais ou por seus orientadores no dia-a-dia. Não precisa ter um carimbo de CBB para que sejam considerados bons, o basquete brasileiro não pode viver apenas de uma panela, ou de Liga ACB, ou de NBA. Ainda não estão completamente formados também. É importante apenas ajudá-los a melhorar em alguns fundamentos, a minimizar falhas. Mão-de-obra não falta.
Está faltando, então, o quê?
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