quarta-feira, 23 de maio de 2012

Alô, você


Arte do Território LNB, blog da liga

Todo árbitro vai dizer a mesma coisa, e com razão: errar é humano. Foi o que Renatinho reiterou hoje no Twitter, e não há como contestar isso de modo algum, assim como o fato de que os homens do apito e goleiros estão fadados a uma pressão descomunal no esporte.

Então me diga você: se ouvir os gritos de chorões, torcedores e corneteiros antes, durante e depois do jogo já é um pé no, digamos, talco, para que arrumar ainda mais pressão e atenção para eles?

Agora vocês sabem do que estamos tratando, não? Os microfones de lapela nos playoffs do NBB.

Resgatando o questionamento: se a vida de juiz é complicada desde o princípio, com dois ou três profissionais em quadra, se o resultado de suas marcações já são controversos por natureza, não há razão para atrair mais atenção para eles. E o que vemos no momento vai em direção oposta a esse raciocínio: com som ambiente durante todo o jogo, resolveram transformá-los em estrelas do espetáculo.

O comentarista babão vai falar em “aula magna” em quadra do árbitro. Esse é o argumento por trás dessa decisão: que os juízes ajudam o “leigo” (eu mesmo) a captar, assimilar os detalhes e nuanças do jogo. Podem dizer também que é um chamariz, uma atração especial – não sei se houve alguma pesquisa nesse sentido, ou se foi apenas a 'sacada' de alguém. Se é disso que o NBB precisa para se firmar e conquistar audiência, lascou.

Capacitados para isso os juízes precisam estar. Para apitar, você deve realmente conhecer os fundamentos do jogo para poder avaliar o que é uma carga ofensiva ou falta do defensor e processar esse conhecimento rapidamente para definir suas marcações. Afinal, você fiscaliza o jogo.

Mas as obrigações do árbitro se encerram basicamente por aí. Árbitro não tem de ensinar nada a ninguém, muito menos ser cômico – e, se for, isso deveria ficar restrito a quem está em quadra. Existem comentaristas e locutores para dar conta dessa tarefa.

Vamos além: me desculpem colocar deste modo, não era para ser notícia, mas árbitros não nasceram no esporte para serem estrelas. Simples assim.


Dupla pinheirense quetiona Renatinho, aparelhado com microfone
Acontece que, diante da carência olímpica e de títulos expressivos por que o basquete nacional passou nas últimas décadas, além da rapaziada na NBA, os únicos protagonistas brasileiros em Mundiais e Olimpíadas que estavam na TV eram justamente nossos árbitros. Então, a cada transmissão de Campeonato Paulista ou Nacional masculino, lá estavam os milhões de elogio, tapinhas nas costas e mimos – quem não se lembra do chute de três pontos e assistências deles no Jogo das Estrelas? Tem limite pra festa. Parabéns a esse pessoal, que chegou até lá. Certeza que eles têm muitas histórias para contar de bastidores. 

Mas fica o reforço sobre como termina o parágrafo: bastidores, o espaço que cabe aos homens do apito, assim como a jornalistas.

E ainda há um terceiro ponto, mais subjetivo, mas que merece ponderação: de certa forma, o microfone em um árbitro não funciona como uma interferência antiética (não sei se é o melhor termo, mas sigamos com ele) na condução da partida?

O microfone em um árbitro não influencia diretamente a relação dos donos do apito com os jogadores? Mesmo que inconscientemente, acredito que sim. Não se trata de um mero detalhe, enfeite. É como se fosse uma câmera escondida às avessas: escancarando tudo, e todo mundo sabe que o apetrecho está lá. E ele não blinda árbitro de nada. Muito pelo contrário: só os expõe.

Por fim, no mesmo bate-bola fulminante com o Renatinho pelo Twitter, perguntei se o microfone lhe ajudava em algo em relação a uma condução técnica na partida.

O que ele respondeu foi o seguinte: “Giancarlo, em termos técnicos não ajuda em nada, mas nesse momento é uma solicitação com um objetivo específico…” 

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