quinta-feira, 31 de maio de 2012

Vai virar pauta, preparem-se

Cuban e Stern não se bicam. Até que encontram uma luta em comum...
Considerando o volume dos seus negócios e a franquia que ele reconstruiu, não é muito esperto questionar as ideias de Mark Cuban, o proprietário do Dallas Mavericks.

Mas nesta quarta-feira o milionário usou seu tino comercial para tocar em alguns assuntos um pouco mais complexos do que a simples necessidade que ele tem de fazer dinheiro e conduzir um bom negócio. “É o maior erro que a NBA comete”, ele costuma falar.

Ao ser informado sobre a cada vez mais forte propensão da NBA a tornar as Olimpíadas uma competição sub-23, tal como faz o futebol, Cuban se entusiasmou e falou um monte ao ESPNDallas.com.

Sua declaração que mais me chama a atenção:

“Ficaria ainda mais empolgado se a NBA começar seu próprio campeonato mundial. Deste modo, as receitas do torneio poderiam ser compartilhadas com nossos jogadores. Quando as receitas vão para a Fiba, eles ganham quase nada. As equipes não ganham nada”.

Difícil saber por onde começar:

1) a NBA organizar seu próprio Mundial, então? Como uma entidade que funcione concorrendo com a federação internacional? E assim a NBA faria mais dinheiro ainda com o basquete internacional, certo?

2) depois da briga de foice que foi o loucaute da NBA neste ano, qualquer argumentação sobre a divisão de lucros e receitas entre atletas e liga se torna bastante suspeita – e um argumento bastante malandro de Cuban nessa altura da vida.

3) qual campeonato conta mais no mundo do basquete ou em cada país: seu Mundial, que agora será chamado de Copa do Mundo, ou os Jogos Olímpicos? Quem é David Stern ou Mark Cuban para julgar o que é mais interessante? Interessante apenas para a NBA, claro. Esporte hoje, então, é puro lucro e só? Não há mais espaço para um Kobe Bryant, quebrado, querer defender os EUA? Ou um Luol Deng que posterga uma cirurgia no pulso porque seu sonho é defender a Grã-Bretanha e ganhar um título pelo Bulls também no mesmo ano?

4) serviu para resgatar o prestígio do país na modalidade, sim, mas a investida do “Dream Team” americano nos Jogos de Barcelona 1992 serviu também para consolidar a NBA como um torneio de chamariz internacional, aproveitando a presença de ícones como Magic, Bird e Jordan. Ali, então, seviu?

5) Cuban contesta também que os jogadores que emendam uma temporada de NBA com as competições pelas Seleções ficam esgotados, mortos, sem condição de jogar 100% por aqueles que pagam seus salários. O que seria injusto. Tem certa razão, mas reduzir a enfadonha e maratonística temporada de 82 partidas da liga norte-americana... Nem pensar?

Esse tipo de discussão ainda vai aumentar no futebol, com a inquietação cada vez mais barulhenta dos grandes clubes em cederem seus atletas para as seleções nacionais. A NBA está ligada, atenta, como sempre.

E pode ter certeza: se a turma de Stern está mencionando isso publicamente por uma segunda vez é porque, grosso modo, eles já tomaram a decisão e, depois de Londres, vão bater na porta da Fiba para tentar aprovar a pauta.

“Vamos dar um passo para trás depois, juntos com a USA Basketball e a Fiba (...), e junto com um comitê de competições dos proprietários (das franquias), temos de avaliar profundamente, numa visão de longo prazo, o que faz sentido para a NBA e para o jogo”, disse Adam Silver, braço direito de Stern e cotado como o próximo comissário da liga.

Será que completaremos o círculo? No Rio 2016, uma Olimpíada sem atletas da NBA? Agora... Por que só sub-23, então? Os EUA que se virem com o que podem oferecer, conforme discutido aqui já.

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