quinta-feira, 17 de maio de 2012

As ausências do NBB


Na ordem de temas polêmicos, após a convocação de Leandrinho e Nenê, aparece na pauta da reunião do QG 21 a questão de ordem que envolve os três seguintes nomes: Murilo, Fúlvio e Olivinha. São os três jogadores mais comentados por aí, então por isso se tornam emblemáticos em relação a uma questão maior que diz muito a respeito de nosso NBB.


Dupla de São José é preterida depois de ótimo NBB. Simples assim
Por partes, então, e comparando nomes diretos mesmo porque isso deixa as coisas mais claras: é difícil de aceitar que Luiz Felipe e Elinho tenham merecido mais uma convocação do que Fúlvio, de acordo com o que fizeram durante toda a temporada. Se a opção pelo armador do Paulistano pode ser justificada pela idade – não que sejamos obrigados a concordar com esse argumento, e usamos o parágrafo abaixo para avaliá-lo –, a comparação direta entre Fúlvio e Luiz Felipe é meio que desproporcional. De todos os fatores que podem ser levados em conta, a altura seria, ao meu ver, o único que pesasse a favor do jogador de Joinville.

Sobre Olivinha, a questão é bem complexa, e passa pela coisa da idade. Há pelo menos dois modos de se encarar a parada. Seleção é feita para os melhores, e não importa o resto. Neste critério, o ala-pivô do Pinheiros não poderia ser ignorado de modo algum. Agora, se a intenção é usar o Sul-Americano como uma espécie de laboratório, aí haveria espaço para conversa.

Então conversemos: com Lucas Bebê, Augusto Lima, Cristiano Felício e o fantasma de Fabrício Melo entre os pivôs, mais o enigmático Jefferson Soccas e uma pancada de estreantes convocados, será que não estamos apostando em muitos projetos de uma só vez?

São todos garotos que estão longe de serem jogadores formados, prontinhos para tudo. Precisam ser trabalhados, orientados com calma e esmero, e não sei bem se uma Seleção principal é o lugar certo para isso, seja pelo período de treinamento, o peso da camisa, o nível de competição que venha pela frente etc.


Olivinha produz, mas é lento, baixo e blablabla para o "jogo internacional"


Ok, não quer dizer que todos também chegarão ao grupo final do Sul-Americano, já que Murilo, JP Batista, Marcus Vinícius Toledo, Rafael Mineiro e Gruber tenham algo a dizer a respeito.  E é isso que encafifa tudo: tendo em vista esses nomes aqui, me parece bem injusto ignorar Olivinha. Afinal, Marcus, Gruber e Mineiro já não podem ser vistos como “promessas”, por favor. Todos têm chance de evoluir, assim como o irmão do Olívia fez durante sua carreira. Mas, no momento, Mineiro é o que é: reserva no Pinheiros, e um cara que deixa por muitas vezes Claudio Mortari atordoado fora de quadra, por cometer uma série de lapsos daqueles.

Por fim, fica também muito difícil de entender a distinção de Murilo como um jogador para o Sul-Americano. Resgatando o que escrevemos lá atrás: “Dispensa comentários, completamente dominante em quadras brasileiras, só vai ao Sul-Americano, imagino, para garantir a vaga na Copa América – assim como fez em 2010”.

Só isso, mesmo: é esperar que ele arrebente os rivais locais, como há dois anos, e seja, então, chamado de imediato por Magnano para treinar com os olímpicos, e com chances reais, supondo que vá acompanhar o Sul-Americano, vai ver os treinos de perto.

Em sua coletiva desta quinta, o argentino afirmou que todos daquela lista têm chances de chegar a Londres. Por outro lado, a mera segregação formal de grupos já deixa claro que os de lá, do time B, vão ter de remar muito. O que quer dizer que Murilo realmente larga atrás de Caio Torres. O que nos leva a questionar o quanto a comissão técnica da Seleção leva a sério o que vimos durante toda a temporada no NBB. São vários atletas convocados, mas, sinceramente, a maioria deles é incluída na categoria de “a turma de sempre” (não me venham falar que Marquinhos, Marcelinho ou Alex jogam lá, né?) e “apostas do futuro”, incluindo aqui os dois convidados Ronald e Ricardo Fischer, que vão para descansar a tropa de elite nos treinos.

Sabemos que Magnano adora Caio desde os tempos de base. Em 2004, em Ancud, cidadezinha chilena na ilha de Chiloé, a mil quilômetros de Santiago, lá embaixo no continente, o treinador já via o pivôzão fazer estragos, mesmo sendo dois anos mais novo que a concorrência num Sul-Americano de base. Estava lá e via o quanto ele se divertia em falar “The Big Man”, de boca cheia, subindo as escadas, em minha direção depois de ver o brasileiro atropelar os adversários no garrafão. Ao ver seu nome novamente incluído na relação principal, não tem como esquecer a cena.


Caio, grande em 2004 até mesmo para a seleção adulta e Herrmann

Há muito o que apreciar no jogo de Caio. Mesmo mais fino, ele ainda tem um corpanzil que ocupa bastante espaço debaixo da tabela. Apesar de seu tamanho, está longe de ser um mero brutamontes, com mãos muito habilidosas para converter ganchos dos dois lados. Também tem um chute que pode chegar até a linha de três pontos. Pensando, no entanto, que já temos Nenê, Varejão e Splitter para atuar no perímetro interno, em primeiro momento não sei nem como Caio se encaixaria nessa rotação, se seria apenas um 12º homem, um corpo realmente extra para o caso de excesso de faltas da trinca.

Mas aqui, sim, o ponto é maior: de que adiantou, então, Murilo detonar no NBB? (A pergunta, por extensão, vale também para Fúlvio e Olivinha). Se encararmos esses e todo jogador com base em preconceitos, opiniões pré-estabelecidas, ignorando a produção em quadra, fica muito difícil de explicar para grande parte dos nossos jogadores de que ainda há alguma chance para eles, mesmo que uma vez que você não tenha recebido o “selo de aprovação de sei lá quem”.

Ou isso, ou talvez o campeonato de Murilo realmente não seja algo que impressione Magnano. E aí, minha gente, por mais que seja educado em elogiar a competição, em dizer que testemunha uma evolução, se na hora-do-vamos-ver o treinador pretere aquele que supostamente foi seu melhor atleta, isso não cai nada bem para sua avaliação técnica.  

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