quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Be like Mike?

Com tantas agendas envolvidas no fogo cruzado que é o locaute da NBA, é difícil apostar muitas fichas no que vem sendo publicado. As fontes anônimas nunca estiveram mais em alta -- nem mesmo durante na época de mercado aberto para trocas e agentes livres vimos essa chuva de matérias baseadas em gente que não dá a cara a tapa. É spin atrás de spin: a NBA oferecendo informações sigilosas em seu próprio benefício para pressionar os atletas, os agentes colocando fogo na questão ao (tentar) devolver a pressão à liga, e grupos dissidentes de jogadores em busca de acordo ou do caos total.

Em meio a cobras, lagartos, cachorrõers e ratos, um arco que se destaca é o envolvimento de Michael Jordan nesse barraco todo, agora como proprietário do Charlotte Bobcats.

As tais fontes vêm enquadrando His Airness ao lado dos donos dos clubes mais radicais nas negociações, uma facção que quer reduzir em 10% os ganhos dos atletas e ainda impor um sistema de administração da liga restritivo, para não dizer proibitivo: os contratos atuais seriam revisados de acordo com os novos e menores valores, os times mais ricos seriam praticamente proibidos de gastar seu dinheiro, o que deixaria o mercado murcho, o que resultaria em menor demanda, o que resultaria em ainda menos dinheiro para os jogadores, e por aí vamos.

Jordan, agora do outro lado da mesa
Não custa lembrar: 13 anos atrás, Jordan estava do outro lado da mesa durante o primeiro locaute dos proprietários contra os jogadores, e naquela ocasião se destacava por sua posição ferrenha e agressiva em prol dos (ex-)companheiros de classe. Durante as negociações, quando o finado Abe Pollin, dono do Washington Wizards, alegou que proprietários solitários como ele não conseguiriam mais manter seus clubes, MJ recomendou que ele se desfizesse do Wizards. (Jordan depois jogaria pela mesma equipe e seria sócio de Pollin na capital dos EUA).

Não custa reforçar: Jordan é aquele que ainda ganha mais grana no mundo do basquete, acima de Kobe Bryant e LeBron James, 13 anos depois de seu último título. Sua linha de calçados AirJordan funciona como se fosse uma marca de vida própria, alheia à Nike. Ele foi a capa dois últimos dois games da série NBA2K. A marca segue muito forte, e acho que não seria ousadia nenhuma dizer que isso ocorre mais devido aos seus feitos acrobáticos e instinto assassino dentro de quadra do que por suas decisões como executivo, não? Adam Morrison e Kwame Brown que nos desculpem.

Parece que não é só um Kwame que vai arranhar o legado do número 23
Para os jogadores de hoje, então, não está pegando nada bem para o legado desse craque as notícias que dão conta de que Jordan está bastante interessado em reduzir drasticamente o faturamento deles. Disse o ala Nick Young, do (mas claro!) Wizards: "Não vou calçar mais Jordans nunca mais. Não acredito no que acabei de ver e ouvir sobre MJ. O Elvis subiu no telhado" (Elvis = rei = Jordan). O jovem ala Paul George, promessa do Indiana Pacers: "Caramba, MJ, é assim que você se sente?", via Twitter. Ao que o ala novato Klay Thompson, do Golden State Warriors respondeu: "Você acha que o MJ de 1996 faria uma dessas? É um puta hipócrita, mano". George concordou: "É um puta hipócrita mesmo, mano. Ele devia ser o primeiro a nos apoiar".

Segue a lista, então, de jogadores que fazem parte do Team Jordan da Nike, usando os caçados com aquele famoso logo: Carmelo Anthony, Dwyane Wade, Chris Paul, Ray Allen, Joe Johson, Kevin Martin, Gerald Wallace, entre outros. Como esses astros estão encarando esse impasse? Amigos, amigos, negócios à parte? De modo bizarro, em texto no próprio site da NBA, um agente fala (em anonimato, frise-se) que jamais, mas jamais mesmo vai levar um de seus jogadores para o Bobcats no futuro, reforçando as críticas sobre um Jordan hipócrita, que teria tentando sugar até o último dólar dos proprietários em seus dias de jogador e agora está fazendo justamente o oposto.

Nesta terça-feira, depois de se reunir com os representantes dos jogadores de 29 dos 30 times da liga, o armador Derek Fisher, presidente do sindicato dos atletas, não quis falar diretamente sobre o ex-ala do Bulls, mas não pôde evitar de espetar a agulha: "Ele é um proprietário, eu sou um jogador. Não nos vemos olho-no-olho". Já Billy Hunter, diretor-executivo do sindicato, foi mais ácido: "Daria a ele o mesmo conselho que ele deu a Abe Pollin".

O que seria: não dá conta? Então venda seu clube.

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