sábado, 26 de novembro de 2011

O projeto Fabrício Melo

Toco de Fabrício Melo por Syracuse: envergadura na cobertura do lado contrário
Para os agraciados com a ESPN HD (culpado!), a noite desta sexta-feira, usualmente reservada para a NBA, nos ofereceu um intrigante tira-gosto no basquete universitário: o pivô Fabrício Melo ao vivo em ação pela universidade de Syracuse, em duelo muito equilibrado com os CDFs de Stanford, no Madison Square Garden.

Foi a primeira vez que pude assistir ao pivô gigantesco, menina dos olhos de milhares de seguidores fanáticos de box scores online, a patrulha do futuro, essa rapaziada que sonha longe em ver Lucas Bebê, "Fab Melo" (gente, vamos deixar isso para os americanos, que tal?) e seja qual garoto mais for a promessa da vez com a camisa da Seleção, embora todos sejam muito crus e pivôs, a posição em que talento não falta para Rubén Magnano.

Segundo consta, Fabrício teve uma das melhores partidas de sua jovem carreira – está apenas iniciando sua temporada de segundanista na NCAA –, arrancando muitos elogios do comentarista Fran Fraschilla, da ESPN, ex-treinador do basquete universitário e figura muito experiente no trabalho com atletas de sua idade, participando de campos de treinamento como instrutor nos EUA e na Europa. Fraschilla celebrou especialmente a mudança radical no físico do jogador, um tanto gordinho em seu ano de calouro.

Um corpo mais atlético para Fab Melo... Ops, Fabrício Melo
Porque é assim: um seven-footer autêntico, o brasileiro é daqueles que deixam os técnicos e entendidos salivando, com um talento natural cada vez mais raro (a altura não lhe atrapalha a movimentação, uma envergadura impressionante, que o tornam um gigante diante de tantos pivôs baixos no basquete universitário). Ao mesmo tempo, ele precisa de muito desenvolvimento. Um loooongo desenvolvimento. Ele ficou 32 minutos em quadra e somou seis pontos, nove rebotes, três tocos, três roubos de bola e uma assistência.

Destes números, o que deve ser mais celebrado são os 32 minutos de jogo. Explicamos por um fator cíclico: 1) quanto mais tempo ele puder jogar em partidas de alto nível, melhor para seu progresso; 2) trabalhou bem na pré-temporada, afinou o corpo e ganhou em durabilidade – antes, jogava cinco minutos seguidos, e já estava mortinho de almeida; 3) com melhor condicionamento e mais experiência, tende a cometer menos faltas (foram apenas duas) e aí fecha-se o ciclo: ele não precisa ser retirado de quadra.

Fabrício, como se diz, "ancorou" a defesa de Syracuse no Garden. Seu técnico, o veteraníssimo Jim Boeheim, é uma autoridade no que se refere a marcações por zona, tanto que foi convocado pelo Coach K para ser seu assistente em suas aventuras pelo mundo FIBA com a seleção norte-americana. Pois Boeheim vai ter ainda mais facilidade para aplicar seus sistemas se o seu pivô se mantiver com esta forma. Com seus atributos físicos, o jogador é uma figura ideal como ponto central de uma defesa 2-1-2 e, ainda mais importante, numa 2-3, quando colocado mais próximo do aro para protegê-lo em cima da bola e no lado contrário. Ali ele fez um estrago contra Stanford, alterando uma série de arremessos e fechando espaços para infiltrações dos adversários (daí os três tocos e três roubos de bola).

Fabrício vai buscar a bola lá no alto
Mas ainda há uma caminhada paciente pela frente. Em uma ânsia de impor seu tamanho em quadra, o brasileiro por muitas vezes perde seu posicionamento com facilidade, é fintado e aí fica sob o risco de cometer muitas faltas bobas, atrapalhando o ciclo ali de cima. Desta forma, também se afasta muito da tabela e permite uma série de rebotes ofensivos às suas costas. O tamanho, por fim, lhe permite a captura de alguns rebotes sem o bloqueio adequado dos oponentes – o que nunca deve ser feito, pois, se tiver de lidar com um adversário mais forte e inteligente, acaba abrindo caminho para que o rebote escape de seu time.

Essa é a parte defensiva. No ataque, a paciência precisa de uma escala budista. Syracuse tem tantas opções, especialmente com o ala senior Kris Joseph, que tem o jogo completinho, e com o ala-armador Dion Waiters, um craque em formação, que uma jogadinha para o Fabrício é coisa bem rara. O grandão também não estabelece posição próximo ao garrafão com facilidade. Desta forma, não sabemos o quão bem ele pode jogar de costas ou frente para a cesta, embora o percentual de lance livre (41,7%, uuugh) deixe bem claro que o chute não é seu forte. Por fim, para alguém que participa tão pouco do ataque, a média de 1,7 erro por jogo é muito alta, especialmente se levarmos em conta que contribui com apenas 0,7 assistências por jogo.

Se ainda temos uma longa temporada pela frente, o mesmo vale para a curva de aprendizado de Fabrício Melo. Os primeiros sinais, em números, são bem positivos (sua média de tempo de quadra subiu de 9,9 minutos do ano passado para 22, os rebotes de 1,9 para 5,7 e a de pontos de 2,3 para 6,2). Mas estamos diante, inegavelmente, de um projeto de longo prazo. Seleção? NBA? Tudo muito longe. É bom pensar nisso antes de detonar a convocação de um Caio Torres.

Um paredão para a zona de Boeheim. Trocadilho infame, ok
PS: Deliberadamente, nenhum comentário aqui sobre os problemas extraquadra do brasileiro, acusao de agredir uma ex-namorada. O que rolou de fato? Não sei. Tá no Google para quem quiser ler. 

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