sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Oito anos depois

(Texto feito para o iG, adaptado aqui)


Depois de oito anos, Leandrinho volta a disputar uma competição naciona neste sábado, contra o Paulistanol. Sua última participação havia acontecido no 14º campeonato organizado pela CBB (Confederação Brasileira de Basquete), em 2003, defendendo o Bauru.
O clube paulista havia sido campeão em 2002, com veteranos como os alas Vanderlei, hoje coordenador da seleção, e o norte-americano Jeffty Connely (marido da jogadora de vôlei de praia Ana Paula) e o pivô Josuel, mas acabou passando por uma reformulação, apostando em um renovado elenco na temporada seguinte. 
A experiência ficava por conta do armador Raul Togni, pai de Raulzinho, que joga na mesma posição e está na lista de selecionáveis de Rubén Magnano para disputar os Jogos de Londres 2012. O resto da equipe, dirigida por Guerrinha (ainda em Bauru, era basicamente formado por uma série de promessas, como o pivô Murilo Becker e o ala Jefferson Sobral, que tentou a sorte no basquete norte-americano, mas sem sucesso. Nesse grupo, porém, não havia dúvida de que o paulistano era a grande aposta. 
Leandrinho, pré-Brazilian Blur, 19 anos, bate pra cima no
Nacional da CBB em 2002, em campanha do título do Bauru
Leandrinho terminou o campeonato com médias de 28,2 pontos em 20 partidas, sendo o segundo certinha. Na ocasião, aos 20 anos, ficou atrás apenas do meu, do seu, do nosso Oscar Schmidt, que anotou 33,1 pontos pelo, vejam só, Flamengo. Além disso, ele foi o quarto melhor em assistências, com 7,0 por partida, atrás de Valtinho (ainda em atividade pelo mesmo Uberlândia) e dos já aposentados Demétrius (atual técnico do Limeira) e Ratto (treinador do Uberlândia no ano passado). Sim, houve um dia em que Leandrinho fez sete assistências por jogo.
Em termos de recordes individuais, Leandrinho marcou 48 pontos em um confronto com o Limeira no dia 14 de fevereiro de 2003, tendo atuado por todos os 40 minutos. Foi a melhor marca daquele campeonato. Nesta lista individual, também dividiu o topo com Oscar, que anotou 46 e 45 pontos em dois jogos, enquanto, o jovem do Bauru teve teve uma atuação de 44 pontos contra Araraquara, que valeu como a quarta melhor do Nacional.
Foi neste mesmo ano em que o jogador optou por se aventurar nos Estados Unidos, então agenciado pelo advogado Michael Coyne, o mesmo que havia emplacado o pivô Nenê na NBA em 2002. Leandrinho fez treinamentos particulares orientado em Ohio por Ron Harper, tricampeão pelo Chicago Bulls, e partiu para o tradicional giro de testes pelas franquias da liga antecedentes ao Draft – em um deles, em Memphis, por sinal, bateu de frente com o então pouco badalado Dwyane Wade, que chegou a pedir para o "rachão" ser encerrado devido ao estilo agressivo do brasileiro, choramingando com Jerry West, que adorava tudo o que via em quadra. 
No fim, Wade foi selecionado na quinta posição do processo de recrutamento de novatos pelo Miami Heat (três posições abaixo de Darko Milicic! Uma atrás de Bosh!). Leandrinho, ainda menos conhecido, era muito bem cotado para o finado Seattle Supersonics, que acabou optando por Luke Ridnour. No fim, o brasileiro foi o 28º da lista, pelo San Antonio Spurs, a pedido do Phoenix Suns, para o qual foi imediatamente trocado.


No Arizona, lembremos, Leandrinho foi lançado inicialmente como armador, sendo reserva de Stephon Marbury por boa parte de sua primeira temporada, até assumir o posto de titular quando o astro foi despachado em mala direta para o New York Knicks. Depois, na primeira encarnação do "Seven Seconds Or Less", jogou como substituto do canadense Steve Nash até ser deslocado, aos poucos, a uma função mais de finalizador.
Foi jogando ao lado de Nash que ele viveu seus melhores momentos na NBA, os anos de Brazilian Blur, especialmente na temporada 2006-2007, quando teve médias de 18,1 pontos e 4,0 assistências, vencendo o prêmio de melhor sexto homem da liga. 
Após sofrer uma queda de rendimento em 2009-2010, lutando contra uma série de lesões e perdendo espaço considerável para Goran Dragic, que também já não está mais por lá, acabou negociado com o Toronto Raptors.  Pelo time canadense, ele anotou 13,3 pontos por jogo em 2010-2011, com apenas 24,1 minutos de média, lidando durante toda a campanha com uma lesão crônica no punho direito. Foi por essa lesão que pediu dispensa do Pré-Olímpico de Mar del Plata.
Assim que a Fiba liberou os atletas da NBA a procurar novos clubes no exterior, Leandrinho foi o ligeirinho de sempre para fechar com o Flamengo. Em suas primeiras partidas pelo clube carioca, vem sendo aproveitado pelo técnico argentino Gonzalo Garcia como... Armador, claro. 
Vamos todos observar com muita atenção, e ansiedade, se Garcia vai conseguir encontrar um equilíbrio entre o estilo bastante ofensivo (eufemismo, gente) de seu novo astro e Marcelinho Machado, até então o dono do pedaço. O ala David Jackson também se destaca por ser um bom pontuador. E o Duda vai ter de se virar de outro jeito.
Leandrinho tem despedida marcada do Flamengo: assim que o lo(u)caute da NBA se encerrar. O que pode ser em dezembro, ou depois da Copa do Mundo de 2014. Vai saber. 
O desafio para o brasileiro vai ser, no tempo em que estiver com a camisa rubro-negra, justificar as expectativas por sua condição de atleta estabelecido na NBA. Talvez ainda mais difícil seja, quem sabe, superar seu rendimento de oito anos atrás. Como o da bandeja aqui:

Dois pontos contra o Vasco do cestinha Leandrinho, em 2001

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