segunda-feira, 14 de novembro de 2011

O inverno nuclear de Stern

David Stern não deveria estar, mas parece bem à vontade ao anunciar o cataclisma nuclear para os próximos meses. Nuclear foi o termo usado por vossa excelência, depois de receber a notícia de que os jogadores recusaram a última proposta de acordo da NBA, decidindo levar esse rolo todo aos tribunais.

Os prazos ainda são incertos, mas tudo leva a crer que a temporada 2011-2012 vai ser cancelada. Uma temporada de 72 ou 82 jogos já dá para esquecer. A não ser que a trucada do Sindicato dos Jogadores funcione e atemorize a maioria dos proprietários dos clubes. A julgar pelas declarações de Stern nesta segunda, não parece o caso.

Vamos trocar as jogadas de Steve Nash pela retórica nuclear de Stern
A capacidade do comissário da liga como negociador é notória. Ele é um mestre em manipular a opinião pública. Os menos curiosos podem cair na lábia desse ex-advogado que ajudou a transformar a NBA de uma clínica de reabilitação para drogados no monstro que é hoje. Dessa vez, suas bravatas enfrentam forte resistência em tempos em que os atletas e os meios de comunicação têm muitas ferramentas online à disposição.

Aqui, à distância, sem apuração própria, fica difícil de cravar. Mas parece que Stern mete o pé pelas mãos ao ironizar os atletas, seus advogados e propagandear o caos. Ao que tudo indica, depois de centenas de páginas lidas nos últimos dias, ele mesmo já havia perdido o controle da situação em seu próprio quintal, deixando um grupo radical de proprietários antes minoritário tomar a liderança na elaboração das propostas nas negociações. A pauta por parte desses bilionários passou do prejuízo (suposto) de US$ 300 milhões anuais da liga, a despeito de o campeonato ter vivido seu melhor ano em números de audiência e faturamento no último ano, para algo muito maior. Esses donos (o curioso é que o grupo ainda não foi inteiramente identificado pelos jornalistas de lá) resolveram enfiar a faca mais fundo, com certo sadismo, e, não obstante, decidiram girar o aparato sem parar. Imagine uma cena trash-cool dos filmes de Tarantino e seus filhotes. Talvez menos cool. Mas sangrenta igual.

(Por mais a fundo, segundo o divulgado, entendam: restringir a mobilidade dos jogadores agentes livres, já que os times mais ricos e gastões ficariam praticamente imobilizados em investimento; redução do salário mínimio da liga e dos novatos; retirar 1% dos ganhos dos jogadores no caso de a renda bruta de cada temporada não atingir uma meta específica; ameaça de mandar os jogadores à D-League por um período maior, pagando seus salários em nível consideravelmente inferior; e mais...)

Do seu lado, o sindicato dos jogadores falharam de modo alarmante em antecipar essa marcha sedenta, que eram declamados pela imprensa especializada há meses, por parte da liga. Saíram falando em termos como "justiça", algo que LeBron James talvez tenha esquecido de tratar com seus fãs de Cleveland, o mesmo valendo para Carmelo Anthony em Denver e New Jersey. Num mercado de bilhões de dólares, "justiça" soa tão velho quanto "escravidão". Para Deron Williams e outros tantos atletas putos da vida, a decisão de levar a disputa ao tapetão deveria ter sido tomada com pelo menos três meses de antecipação.  Segundo esse raciocínio, a essa altura a parada já estaria resolvida.

Mas, não. Com calos doloridos, egos inflados, orgulho,  ganância desmedida, o que nos resta agora é torcer por advogados. E aguentar as criativas elaborações sintáticas de Stern.

PS: Há muito mais o que se escrever sobre o inverno nuclear da NBA. Vamos cuidando disso aos poucos.

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