domingo, 25 de março de 2012

O pato e o cérebro



Kendall Marshall corre um pouco esquisito, sempre com as costas eretas, como se não pudessem ser flexionadas. Parece um pato. Também não é dos jogadores mais velozes, não, nem daqueles que pulam muito.

Bem diferente de seus companheiros de North Carolina e prospectos para o draft: Harrison Barnes, James-Michael McAdoo, John Henson e Tyler Zeller. Todos muito bem encaminhados para a NBA, com biótipos realmente impressionantes de atléticos. Você vê Zeller, de 2,10 m e poucos, por exemplo, descendo a quadra toda a milhão e já fica sem fôlego. Harrison Barnes, 19 anos, e ele já parece um veterano de NBA de tão forte. John Henson, por seu lado, pode provavelmente abraçar uma tabela, com uma envergadura interminável. 

Mas, como colocou Chad Ford, especialista da ESPN na cobertura do recrutamento de novatos, talvez quem mais suba de cotação neste fim de semana seja Marshall. De que adiantam músculos, impulsão, velocidade, sem um cérebro para coordenar tudo?

No ano passado, o rapaz salvou a temporada da UNC quando desbancou Larry Drew the Second (II, hehehe), assumiu o posto de titular, colocou essas máquinas todas para correr e não se cansou de quebrar recordes dali para a frente. Até então, todo o potencial atlético do time naufragava sob o comando do filho do técnico do Atlanta Hawks. 

Agora, no torneio nacional da NCAA, os prodígios de Roy Williams se vêem sem seu principal condutor em quadra, depois de o canhoto armador ter fraturado o punho direito contra Creighton, ao ser derrubado em uma infiltração.

Nas oitavas de final contra Ohio, o baixotinho Stilman – que nome, gente, que nome! Mas não soa como o de um esportista, não? – segurou as pontas, com seis assistências e nenhum desperdício de bola, mas o desempenho de seus companheiros definitivamente não foi o mesmo. Eles somaram 24 erros e apenas 12 passes para cesta, pontaria em 40% e um triunfo sofrido na prorrogação: um time claramente em desarranjo. Barnes foi quem mais sofreu, com apenas três chutes certos em 16 tentativas (algo que os scouts tomaram nota na certa, e o ala, um dia estupidamente comparado a Kobe, vai perdendo prestígio). 

Contra Kansas, neste domingo, diante de dois superatletas sufocantes em Tyshawn Taylor e Elijah Johnson, Stilman vai ter um piano muito mais pesado pra carregar. 

Compreensível que todos os fanáticos torcedores da UNC pareçam um bando de zumbis neste domingo em St. Louis. Ninguém repousou, não: "Todos os olhos seguem focados no punho de Kendall Marshall", mancheta o USA Today

Mas de que adianta? Que durma, oras. O armador operou na segunda-feira. Quem em sã consciência vai querer escalá-lo menos de uma semana depois? Por maior que seja a partida, seria loucura. Ele nem arremessar poderia direito. E só poderia passar a bola com a canhota, sem controlá-la de modo adequado. Com o corpo quebrado, aí não tem a mente mais cerebral que resolva. 

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