Para quem estava esperando, a repórter Danielle Rocha, do GloboEsporte.com, arrebentou esta semana. Depois de Rubén Magnano, ela conseguiu ouvir Nenê numa entrevista que não podia vir em melhor hora.
Dessa conversa saiu não bem um pedido de convocação por parte do pivô do Denver Nuggets, mas a afirmação por sua parte de que sonha em jogar as Olimpíadas pela Seleção.
O problema, no caso desse talentosíssimo jogador, acusado por seus companheiros de equipe de ser generoso demais na quadra, é que, quando o assunto é Seleção, há sempre um senão.
Ninguém precisa apelar para sensibilidade aqui. Um câncer é um drama muito forte para qualquer um, e a superação por parte do sãocarlense realmente é inspiradora. Depois deste baque, nada mais natural que ele queira ver o seu filho nascer – e, mesmo sem o susto anterior, desconfiaria de qualquer um que preferisse jogar basquete, futebol ou se incorporar a um exército a isso.
São motivos mais que razoáveis, gente.
Agora… Não quer dizer exatamente que ele esteja agora disposto plenamente a se apresentar daqui há alguns meses. Leiam com atenção:
"Com certeza é um sonho representar meu país. Mas não adianta eu representar um país nas Olimpíadas ou no torneio que for se não estiver saudável e forte. Você tem que estar feliz e protegido. Se eu vou estar no grupo, não posso responder, porque não sou eu que escolho."
Dá para encarar essa reposta de duas formas, pelo menos:
1) Nenê, já escolado nos EUA, pode ser elogiado pelo pragmatismo. Enfrentando uma dureza de temporada na NBA, em que já está avariado e ainda não fez valer seu contrato (ainda mais) milionário e começa a ser questionado pela imprensa local etc etc. etc., o pivô não vai cravar nada. E quem vai saber se ele estará em condições físicas para se apresentar?
2) Ainda assim, será que a sorridente figura – sem ironia aqui – não poderia ser um pingo mais otimista? "Se não estiver saudável e forte. Você tem que estar feliz e protegido", ele disse. Já estamos falando no condicional. E não dá para dizer que são palavras mal colocadas, porque esse é um Nenê que aparece articulado durante toda a entrevista. É o que ele falou com o gravador ligado, com o seguinte complemento:
"O que sei é que o Rubén Magnano é uma pessoa de caráter, íntegra, que sabe separar emocional e as coisas que tem que ser feitas. Disputar as Olimpíadas é um sonho, sim."
Sobre essas coisas a serem feitas, o VinteUm agora se intromete.
Na hora de se convocar a Seleção, o discurso dogmático é o de que devemos chamar os "melhores". Para o qual há uma resposta pronta bem simples: e são sempre os "melhores" a formar a melhor equipe?
Para selecionar 12 jogadores não é a quantidade de pontos, rebotes, tocos por partida ou milhões em conta que deve pesar. Mas, sim, como esses pontos, rebotes, assistências e tudo mais se encaixam no sistema do treinador e como essa dinâmica toda vai influenciar na química dos jogadores.
Não estamos falando necessariamente de ciumeira. "Ah, mas o Tiago quebrou pedra a década toda e agora, na hora do bem bom, vem o Nenê tirar a posição dele?", podem questionar. Para quem acompanha Splitter de perto há tempos, sabe que ele é o menor dos nossos problemas. Que o digam Gregg Popovich e DeJuan Blair.
Mas que há muita coisa a ser acertada quanto a Nenê, não há dúvida. No ano passado, em Mar del Plata, o escaldado Alex soltou essa para o Rodrigo Alves, do mesmo GloboEsporte.com e que deveria voltar com o Rebote neste instante:
"A seleção se reúne várias vezes, e sempre que chega o ano do Pré-Olímpico temos algumas baixas. Na Copa América de 2009, estava todo mundo, menos o Nenê."
Não estavam esquecendo, né?
E essa, beeeeem mais enfática:
"Eu não considero mais o Nenê um desfalque. Se vier, é um jogador importante, porque nas outras seleções você não tem um pivô como ele, forte, com uma impulsão monstruosa e uma força física gigantesca. Se ele estivesse a fim mesmo, seria uma ajuda muito grande. Leandrinho e Anderson estão sempre jogando com a gente, sempre à disposição. É lógico que a gente não pode julgar, cada um tem seus motivos. Amanhã posso ser eu o ausente. Mas são casos muito diferentes. Os dois, sim, fazem parte do grupo, e eu já não considero o Nenê como parte da seleção."
Lembraram agora? E aí?
Alex pode ter dito isso por conta própria, o que não seria de se estranhar, Brabo que é. Não quer dizer que sua opinião seja a verdade absoluta. Não é ele que dá (todas) as cartas. De certo, porém, é um indício de uma resistência ou desconfiança ao pivô lá dentro.
Sem contar a própria química em quadra. Splitter, Varejão e Nenê não têm no tiro de média distância como suas principais armas ofensivas. Splitter e Varejão atacam muito melhor em um ataque bem movimentado com pick-and-rolls. Nenê opera bem do alto do garrafão, passando a bola com inteligência, mas também faz mais estragos quando está próximo ao aro. Isso para não falar de um certo Rafael Hettsheimeir.
Splitter e Varejão já vimos render bem juntos. Quanto a Nenê, como um dos capitães da Seleção afirmou, não temos base para saber como funciona, já que ele não joga junto com um destes desde 2007 em Las Vegas, quando o catarinense ainda estava emergindo internacionalmente e no grupo. Ter dois superpivôs em quadra ao mesmo tempo não é garantia de sucesso pleno e/ou imediato.
Também não quer dizer que não possa dar certo. Magnano, intimamente, deve desenhar jogadas e movimentos em sua cabeça, imaginando como seria.
Mas vale a pena?
Já foram muitas convocações, muita gente sonhando com muito (ou pouco?), e, na hora do vamos ver, nem pivô direito Lula ou Magnano tinham para escalar, pelos mais variados problemas. Não quer dizer que Nenê seja um desertor, que seja má pessoa. Por outro lado, a Seleção não tem muito a ver com os problemas do jogador. A vida segue.
Agora que estamos de volta aos Jogos Olímpicos, enfim, vamos querer jogar no condicional novamente?
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