sábado, 21 de janeiro de 2012

Deixem Kobe Bryant em paz

O que fazer, Kobe?

Era só um jogo, 48 minutos, mas a surra que o Lakers tomou em Miami mostrava que a franquia angelina, na atual versão, só vai até onde o astro puder liderá-la. O duelo no dia seguinte com o Orlando Magic só serviu para reforçar essa tese. 

Ok, o Heat havia feito mesmo contra o San Antonio Spurs há poucos dias. Mas os vizinhos de Mickey Mouse não haviam atropelado nenhum clube aspirante ao título.  

Quando estão concentrados, confiantes, agressivos, os atletas do Heat formam o melhor time da NBA. Quando as bombas de três pontos caem e liberam Dwight Howard para operar no garrafão – e quando este não é marcado ferozmente pelos árbitros –, o Magic também vale por uma indigestão. 

Nesta dobradinha porém, esses clubes fizeram algo além de comprovar suas qualidades. Todas, ou 'todas', as bolas divididas foram para a equipe da casa. Udonis Haslem, Joel Anthony e Glen Davis, do nada, se tornaram ameaças no garrafão. Jameer Nelson, do nada, pareceu um Monta Ellis. LeBron James, JJ Redick, Jason Richardson se deslocavam como bem queriam. Tudo isso sem Dwyane Wade ou Hedo Turkoglu.

Desta forma, eles expuseram o o quão frágil é o contexto em torno de Bryant para esta temporada. Estamos falando de um Lakers que não só despencou de Phil Jackson para Mike Brown no comando técnico – algo como mergulhar nas cataratas do Iguaçu –, como está um ano mais velho em sua base e ainda mais lento. E sem Lamar Odom, substituído pela nem tão empolgante dupla de Troy Murphy, um cone na defesa, e Josh McRoberts, voluntarioso, energético, mas fora de forma e pouco efetivo no ataque.

Os dois branqueemos saem do banco ao lado de uma turma que pouquíssimo barulho faz, a não ser pela vaia das celebridades classe C no Staples Center. A eles se juntam o finado Ron Artest. Qual será o último arremesso de três que ele converteu? Aquele no sétimo jogo da final contra o Boston Celtics em 2010? Na defesa, esse Metta World Peace já não consegue combater mais ninguém como nos bons tempos, com pés de chumbo se arrastando pelo chão. Tudo na santa paz. Jason Kapono não vale comentários, Steve Blake está lesionado e os novatos Darius Morris e Andrew Goudelock estão mais assustados que a musa teen fugindo de um psicopata hollywoodiano. 

Faz tempo...
Se não bastasse, o fogo amigo continua. Pau Gasol anda com a cabeça nas nuvens, caçando borboletas, ferido pela tentativa frustrada (por David Stern) de troca por Chris Paul. Contra o Miami, ele somou a maioria dos seus pontos no quarto final, tal como Kobe, é verdade, quando o jogo já estava no saco. Aí alguém pode dizer que é porque ele está alienado no ataque. Sinceramente? Se você vê um companheiro parecendo um zumbi em quadra (não precisamos nem de números para nos socorrer), qual a sua motivação ou incentivo em servir? Não nos esqueçamos também da cobrança – física!!! – de Jackson para cima do barbudo nos playoffs do ano passado contra o Dallas Mavericks. A passividade do espanhol tirou até o Mestre Zen do sério.

E não é que Kobe não esteja passando a bola. Na média de posses de bola que ele controla, 33,5% resultam em assistências, o maior número de sua carreira. Reforçando: o maior número de sua carreira, bem acima dos 28,5% de 2004-2005. 

E não é que Gasol ande ignorado no ataque também: ele é envolvido decisivamente em 20,3% das posses de bola de seu time, perante os 21,8%, 21,4% e 20,4% dos anos anteriores na Califórnia. Ele simplesmente tem acertado menos. Quem interfere aqui é o bebezão Andrew Bynum, que subiu de 17,6% do ano passado para 23%, aproveitando também a lacuna aberta pela saída de Lamar Odom. A má notícia é que o maior volume de jogo causa impacto no rendimento do pivô, que perdeu pontos percentuais significativos na pontaria e passou a cometer mais erros. 

Dureza, gente, dureza. 

Se os irmãos Maloof gostariam de trocar de equipe e assumir essa bronca? Claro que assinariam. Se você tem Andray Blatche como um pilar de seu grupo, também toparia. Não dá para colocar o Lakers nesse extremo.

Uma conclusão profuuuunda: Mike Brown não é Phil Jackson

Ainda é cedo para falar em pânico. O time ainda tenta assimilar um sistema completamente diferente de jogo – e Phil Jackson também faz falta para mexer com o brio de algumas peças e, ao mesmo tempo, dar cobertura. Mas é inevitável que essas duas derrotas voltem a aquecer os rumores e a pressionar o time a uma nova investida por Howard. 

Dá para imaginar um inconformado Kobe Bryant, chutando 24,5 bolas por jogo porque aparentemente essa é a melhor solução para a equipe no momento, ruminando, em alguma hora desses solitários dias, em quão tola era sua birra para aceitar alguns conceitos dos triângulos de Tex Winter e Jackson.

Quando ele batia cabeça com o treinador e era forçado, mesmo, a passar bola, a vida era bem melhor, e ele não sabia. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário