É uma época promissora e, ao mesmo tempo, perigosa para Fabrício Melo e seus tocos |
Na ascensão de Syracuse ao posto de equipe número um do basquete universitário nesta temporada, desbancando as badaladas Kentucky e North Carolina, duas instituições estocadas com futuros jogadores da NBA, o progresso do brasileiro Fabrício Melo foi fundamental.
Em boa forma física (um longo verão de academia), mais aclimatado (literalmente também, pois em Juiz de Fora não se neva tanto assim, e ele achando que conseguiria levar a vida por lá numa boa, sem um felpudo par de luvas), com menos pressão (muitos já o consideravam basicamente um caso perdido), o pivô se firmou como um sustentáculo de uma defesa sufocante. Sua presença em frente ao aro permite que os jogadores de perímetro atuem de forma agressiva pressionando a bola, cientes que têm uma cobertura. E que cobertura: num só jogo, em 28 de dezembro, "Fab Melo" deu dez tocos contra Seton Hall, recorde da universidade. Sua média é de 2,9 por por jogo, em apenas 22 minutos.
Gigante que é, jovem, ágil, brilhando em um time de ponta, pronto: já temos mais um prospecto para a NBA, não? Está tudo tão claro.
Mas calma.
Nesta quarta fomos agraciados pela ESPNHD com mais uma partida de Fabrício, contra Villanova, e a história foi um pouco diferente. Jogando contra um time extremamente atlético e forte fisiamente, o brasileiro teve trabalho para se impor na defesa. Aí ficaram evidentes as falhas de fundamento do jovem atleta, sem efetuar bloqueios para o rebote (já que, com sua mobilidade e tamanho, é fácil demais capturar um rebote diante de tampinhas). Talvez empolgado com suas raquetadas, o mineiro estava ávido em contestar qualquer bandeja que viesse em sua diressão, mas não do modo mais correto – ele por vezes deixava seus oponentes escaparem para então tentar o toco, em vez de ficar com os pés plantados e bem posicionado, usando inicialmente sua envergadura absurda para atrapalhar o atacante.
Nada deu muito certo. Ele acabou cometendo quatro faltas, ficando a uma da exclusão, e terminou a partida com cinco pontos e cinco rebotes, números que não estão muito distantes de suas médias gerais, e aqui vai mais um exemplo de como as estatísticas não contam toda a história. Contra Villanova, o pivô foi um defensor menos eficiente.
No ataque, mais do mesmo. Tem hora que dá agonia de ver Fabrício, o bração direito estendido, pedindo a bola, ele pronto para recebê-la, com o defensor escondido atrás de sua envergadura, e o passe nunca vem. Mas nunca mesmo. São armadores e alas fominhas? Ou eles simplesmente não confiam no atleta como uma referência ainda? Ou um pouco dos dois?
Nenhuma das ressalvas, porém, vai servir para conter a empolgação em torno do brasileiro. No fim, é desta forma que as coisas acontecem. Estamos a uma campanha marcante de Syracuse na "March Madness" com números consistentes do jogador para vê-lo flertando com o processo de recrutamento de novatos da liga norte-americana, embora o técnico Jim Boeheim pessa no mínimo mais um ano para trabalhá-lo e desenvolvê-lo.
Talvez fosse o mais recomendado, mesmo, mas a decisão de se juntar aos profissionais não é tão simples, não se limita a estar pronto ou não. O importante é que Fabrício lembre sempre de ter os pés no chão antes de saltar.
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