sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Nova York a seus pés

A máquina do oba-oba pode atropelar o bom senso com uma facilidade que impressiona. Na cultura de produção de astros movida pela NBA, as chances de se pagar gato por lebre são enormes. Mas não é necessariamente sobre isso que vamos nos arriscar agora. 

Apenas começa nessa seara. Tem a ver com o Carmelo Anthony, que recebe em Manhattan seus ex-companheiros de Denver Nuggets neste sábado, Nenê entre eles.


Papel de parede para o desktop de Spike Lee
Todo mundo se lembra sobre o verão de 2011, com aquela histeria toda em torno do futuro de LeBron James, Dwyane Wade e Chris Bosh (e Amar'e Stoudemire, e Dirk Nowitzki, e Steve Nash, e Carlos Boozer, e Ronnie Brewer… Ops, esse não). Pois bem. Foi acesa a chama, e o pessoal gostou tanto que decidiu carregar esse sentimento adiante para o ano seguinte, tratando o então ala do Denver Nuggets em pé de igualdade com a trupe anterior, em especial LeBron e Wade. 

Mas para onde o Melo vai, gente? Vai deixar o Denver mesmo? Só aceita jogar em Nova York? Nossa, tudo isso é tão, mas muito importante. A gente sabe no que deu: sim, Melo forçou a barra e se juntou aos Knickerbockers, em troca de meio time, Central Park, Queen's e, só não foi o Brooklyn, porque o Mark Cuban Mutante Russo já havia abocanhado essa. 

O que talvez a gente não tenha notado, porém, mas que o jornalista Royce Webb, editor do ESPN.com fez questão de apontar é que, desde que contratou o suposto superastro, o Knicks mais perdeu do que venceu: são 26 reveses em 46 jogos, incluindo a varrida diante do Boston nos playoffs. A badalação – ter Woody Allen e Spike Lee aos seus pés –, os acordos publicitários, tudo isso vai bem. O basquete? Nem tanto. 

Mas pera lá: que história é essa de "suposto superastro"? 

Sim, sim. Mantemos a palavra. Anthony pode ser um jogador ofensivo incrível e extremamente popular, desde a conquista do título universitário de 2003 por Syracuse. Mas… Nas contas do VinteUm, ele pegou uma carona indevida – ou foi conduzido nessa – devido a sua amizade com LeBron ou Wade. 

Ao contrário dos superamigos da Flórida, Melo é jogador de uma metade da quadra só, aquela em que está de frente para a cesta. É um terror nos rebotes ofensivos, tem facilidade para sair dos dois lados no drible, criando um arsenal de movimentos ofensivos. Muito sólido no jogo de pés. Forte, aguenta o tranco próximo da tabela. E, ainda só nessa meia-quadra, encontramos severas restrições. "Ele é um jogador fenomenal no um-contra-um. Ele é um dos melhores jogadores nisso. Então isso conta a nosso favor nos oito segundos finais do relógio. Mas, para o resto de nossos caras terem médias de 10 a 12 pontos por noite, temos de movimentar a bola para que eles sejam envolvidos", disse Stoudemire sobre seu parceiro. "Acho que isso (o conceito de jogo mais coletivo) é novo para ele."

(…)

Todo mundo sabe que Amar'e é um dos grandes fominhas da NBA. Acostumado que estava em receber a papinha de Steve Nash.

(…)

Então, não precisa acrescentar muito depois dessa, né?

(Mas, se for preciso reclamar segue o técnico Mike D'Antoni falando sobre a incapacidade de o time passar dos 85 pontos contra o Phoenix Suns nesta temporada: "Caramba. Nunca poderia imaginar que não conseguiríamos isso. É de ficar perplexo. E quando falo sobre crise, essa é a crise".)

Como Stoudemire se sente agora em segundo plano?
Melo sempre teve o time nas mãos em Denver, onde podia mandar e desmandar. Os números dizem que ele seria um dos jogadores mais decisivos da liga na hora de matar uma partida. A mesma estatística usada pela atual patrulha caçadora do Kobe Bryant – na linha dos caçadores de ovnis, fantasmas e lendas urbanas –, que insistem em dizer que o ala não teria autorizaçãopara entrar no clube dos melhores (mais sobre isso na semana que vem, ok?). Agora respondam:  a despeito de participar de um elenco sempre muito bem ajeitado, quantas vezes Carmelo Anthony passou da primeira rodada dos playoffs? Uma. Tracy McGrady e Kevin Garnett quase foram crucificados por rendimento semelhante.

A intenção também não é despejar toda a caçamba de um caminhão em cima do ala. Falta um armador decente e em forma ao clube, D'Antoni, mesmo, não consegue se reinventar, Stoudemire também anda perdido em quadra. O banco é uma desgraça.

Boa parte destes problemas, porém, têm uma decorrência bem clara: a própria troca por Melo. O Knicks pagou muito caro pela afobação. Stoudemire e Melo também pagam caro pela ganância – enquanto LeBron, Wade e Bosh assinaram com desconto para poderem jogar juntos, num time competitivo, a dupla nova-iorquina enforcou James Dolan, tornando qualquer cenário que previsse a contratação de Chris Paul inviável. 

Então é o que temos: dois certinhas comprovados, mas que não se entendem em quadra. 

Enquanto isso, o Denver Nuggets, com seu ataque pulverizado, se ainda não tomou a liga de assalto, ao menos vai muito bem, obrigado, com 29 vitórias em 55 partidas desde a troca, mesmo com a perda (momentânea) de um talento explosivo como o de Wilson Chandler, testemunha dos atos insanos de JR Smith na China. 



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