segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Vamos, cabrón!

Bandeja no lado contrário em movimento atlético: morra de inveja, Eduardo Nájera

O basquete do México funciona como uma espécie de mistério para o VinteUm.   

Deu para apreciar tudo o que Eduardo Nájera entregou em quadra nessa última década, brigando por toda bola perdida como se fosse ouro, pelejando (muitas vezes até demais). Sabe-se que Earl Watson, aquele armador eternamente reserva da NBA e que, no fim, sempre rouba tempo de quadra dos titulares, tem avós nascidos abaixo da fronteira do Texas e que ele quase defendeu a seleção desse país. E o Romel Beck Castro? Lembra Kevin Martin fisicamente, mas em nada quando o assunto é eficiência no ataque. O Horacio Llamas, um porcão que defendeu o Phoenix Suns nos anos 90 em um time abençoado com a presença de Kevin Johnson, Jason Kidd e Steve Nash no mesmo elenco e, ainda assim, encontrava dificuldade para pontuar nos cinco minutos que tinha no quarto final.   

Descrevendo assim pode até parecer muito. Mas é muito pouco, na verdade. Pensa a economia mexicana nas últimas décadas, a proximidade com os EUA, a população volumosa, e fica difícil entender por que o baloncesto não pega por lá. Se até no Brasil, com os desmandos, atrocidades e cavalo de Troia dos últimos tempos, ainda temos uma fagulha...  Que pasa?

O basquete mexicano é uma várzea. Que o digam nossos clubes aventureiros pelas Ligas das Américas da vida. Ou a bagunça que quase tirou a modalidade do Pan de Guadalajara. Ou a seleção que nunca prima pelo preparo físico. Bom, deixando o Nájera fora dessa. 

Bem, o Nájera e o Gustavo Ayón.

Gustavo quem?  

O Ayón.  

Esse é o Gustavo Ayón
Novo ala-pivô do New Horleans Hornets, de 26 anos.   

Em meio ao caos envolvendo a saída de Chris Paul de Nawlins, a nota perdida foi a contratação desse mexicano, que vinha concorrendo com Rafael Hettsheimeir como a surpresa da Liga ACB 2011-2012. Quer dizer, nem tão surpresa assim já que havia cumprido uma ótima campanha pelo Fuenlabrada na temporada passada (o mesmo Fuenlabrada de Bismack Biyombo!!!).  

Com muita inteligência, disposição, capacidade atlética e vigor, aquela combinação que deixa qualquer professor com sorriso colgate, Ayón ascendeu na modalidade meteoricamente, algo a que está acostumado graças ao início no esporte nas quadras de vôlei – foi trocar de modalidade só aos 19 (o que nos leva a tramar o seguinte: no próximo locaute da liga, daqui a seis anos, ele vai poder fazer dupla na areia com Chase Budinger, que um dia encantou o Arizona com suas cortadas). Em dez partidas no atual campeonato espanhol, ele tinha médias de 15,9 pontos e 8,2 rebotes, em apenas 28,8 minutos, sem contar os 65,7% nos arremessos.   

Olha, gente, isso aí é número para Luis Scola nenhum botar defeito (confira tudo aqui). Mas, ao contrário do séquito desenvolvido pelos torcedores do San Antonio Spurs na expectativa pela chegada de Tiago Splitter – tal como dirigentes, técnicos e elenco, os fãs das esporas também se comportam por lá como os mais aplicados e sofisticados –, acompanhando qualquer espirro do catarinense em Vitoria, ninguém deu muita bola para nada do que o mexicano fez nos últimos meses.   

Impulsão que veio do vôlei: dá para fazer dupla de praia com o Chase Budinger no próximo locaute
E lá estava Ayón, chegando repentinamente a Nova Orleans, sem o domínio da língua, sem preparação tática alguma, mas com visto de trabalho em dia, à disposição do técnico Monty Williams, que admitiu a dificuldade em integrar o atleta ao seu time com o bonde andando. Lvaria tempo para ele se adaptar à nova equipe, liga, cultura, tudo. Ainda mais tendo  à sua frente na rotação o lenhador Emeka Okafor, o lento, mas ainda talentoso Chris Kaman e o efetivo Carl Landry (pense em todos os alas-pivôs americanos diminutos contratados no Brasil, mas que joga de verdade).   

Aos poucos, esse tempo vai chegando. Nos últimos três jogos do Hornets – três derrotas, diga-se –, o mexicano jogou 53 minutos e começou a arregaçar as manguinhas, com 24 pontos, quatro roubos de bola, cinco tocos, 16 rebotes e sete assistências, matando dez de seus 15 arremessos.   

Com uma produção dessas, a dificuldade com o idioma passa a ser um contratempo bobo, ué – Landry, no momento, já ficou para trás, com nove minutos de ação a menos que seu novo concorrente nesses três jogos. Quanto mais Ayón jogar e render, mais encheção de linguiça nós vamos ter para falar sobre o basquete do México sem apelar para Chicharito ou tequila.

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