A linsanidade marcou a temporada 2012, até que LeBron diga algo ao contrário |
Como se fosse realmente um fenômeno da natureza, excepcional, um tornado avassalador, com a mesma velocidade que Jeremy Lin emergiu em Nova York para dominar e fabricar centenas de manchetes, elevar o valor do Knicks a um patamar inimaginável, colocar o grupo MSG em choque com a Time Warner Cable, forçar sua avó em Taiwan adotar táticas de contra-espionagem para poder sair de casa sem que hordas de repórteres a seguissem e, claro, virar chamariz para todas as marcas corporativas do mundo e todos os roteiristas de cinema que já existiram, ele acabou saindo do mapa. Ao menos momentaneamente.
A Linsanidade durou só 25 jogos, se tanto. Uma lesão no joelho das mais desagradáveis acabou por encerrar sua campanha incrível, a segunda na liga, mas a primeira de verdade, depois de ter treinado e treinado e apenas treinado por Golden State Warriors em 2010-2011. Mas, quando esse economista de Harvard parou de jogar, a configuração da equipe já era outra. A correria de Mike D'Antoni havia sido trocada por um time mais balanceado com Mike Woodson. Carmelo Anthony começava a (re)assumir o controle da situação.
De todo modo, tirando, talvez, um primeiro título (dos sete? hehehe) de LeBron James na Flórida, nada do que acontecer nos playoffs daqui para a frente deve apagar que a marca da atual temporada foi Jeremy Lin. "Ah, em 2012 foi quando aquele sino-americano (serão tempos ainda mais politicamente corretos, não?) conquistou o mundo!", é o que estará na Wikipedia e fóruns de pergunta e resposta. É isso. Dá para acrescentar: "Ah, e foi também o ano que o LeBron, finalmente…". Mas no máximo isso.
O interessante é que Lin não foi o único jogador a desafiar tabus e preconceitos bestas do mundo esportivo nesta temporada. Não foi o único a se destacar depois de ter ouvido que "não pode, não dá, não rola" a vida toda:
1) Nenhum sino-americano pode ser um jogador de basquete que se preze.
2) Nenhum bom jogador de basquete que se leve a sério escolheria Harvard na universidade;
3) Nenhum jogador de Harvard pode jogar na NBA;
4) Ok, ele foi chamado para jogar Summer League pelo Mavs, encarou o John Wall por alguns minutos de igual para igual, mas isso não quer dizer que ele seja um jogador de NBA de verdade;
Mavs foi o primeiro a apostar em Jeremy Lin. Se serve de consolo |
5) Ok, ele conseguiu uma vaga no Golden State Warriors, mas era só um golpe de marketing dos novos proprietários do time, cientes da grande colônia asiática na Costa Oeste californiana.
6) Ele mal jogou em sua temporada de calouro, é só uma mascote, mesmo. Daqui a um ano vai estar na liga chinesa esquecida, já que foi cortado para o time tentar a contratação impossível de DeAndre Jordan;
7) Veja só. Mal o Houston Rockets o contratou, já o dispensaram, porque não compensava bancar seu salário mínimo quando o time precisava do reforço de Samuel Dalembert no garrafão e tinha até um Johnny Flynn como terceiro armador;
8) Em Nova York, os técnicos mal sabiam seu nome na hora de chamá-lo para o final do coletivo. Ele esteve a poucos dias de ser dispensado pela terceira vez em menos de seis meses e só sobreviveu devido a uma lesão inesperada do novato Iman Shumpert e porque Mike Bibby, mesmo saudável, ainda perdia na corrida para Baron Davis em recuperação de uma hérnia.
9) Ele fez 53 pontos nos dois primeiros jogos como titular, mas foram confrontos com o Nets e Wizards. Quê? Deron e Wall? Coitados, só jogam com pangarés.
10) "Afemaria, ele fez 38 pontos, sete assistências e quatro rebotes contra o Kobe e o Lakers em rede nacional???"… Bem… Mas… Vai passar. Deixa só o Carmelo voltar.
Contra o Lakers, a oficialização da Linsanity |
11) Sem o técnico Mike D'Antoni, ele não é nada. É só produto de um sistema fictício.
E por aí fomos e vai. Claro que o contexto de Lin é particularíssimo e ele derrubou muita coisa para se tornar uma das 100 personalidades mais influentes do mundo (segundo a revista Time). Nem todo jogador vai ganhar cartaz global, nem mesmo aqueles de quem se espera nisso.
Mas, se cortarmos a espetacularização em torno do promissor armador, pensando apenas no mundinho pequeno do basquete, houve mais casos nesta temporada de jogadores que desafiaram os prognósticos para construírem sua carreira na liga mais concorrida mesmo com a insegurança de contratos de apenas dez dias de duração:
- Greg Stiemsma (Celtics): o pivô de 2,11 m de altura se formou em Winsconsin em 2008, o que já foi um feito e tanto para o "russão", considerando que ele sofreu de uma gravíssima depressão em seus primeiros anos na universidade. Quando concluiu uma carreira de pouco impacto em quadra, deslocou alguns trocados na Turquia e na Coreia do Sul até entrar na D-League em 2011 e ser contratado para testes no Boston Celtics, aos 25 anos. Com uma habilidade fora do comum para dar tocos, muito empenho e inteligência para absorver bagagem tática e fundamentos de uma comissão técnica laureada, encontrou seu nicho, jogando em torno de 15 minutos saindo do banco para cuidar da retaguarda dos ex-campeões do Leste, papel antes reservado ao aposentado Jermaine O'Neal.
Toco para o russão: timing perfeito na cobertura |
- Danny Green (Spurs): o ala tinha o pedigree, mas lhe faltava o apelo. Formado pela prestigiada e badalada UNC, pela qual foi campeão em 2009, Green tinha os números e as referências para entrar bem na NBA, mas ainda enfrentava resistência dos scouts e cartolas. Não era o cara que saltava mais, que corria mais, que pontuasse mais, que… O problema é que ele sabe fazer de tudo um pouco. Passou batido pelo Cavs em 2009-2010, pelo Spurs em 2010-2011, freqüentou a D-League por um tempo. Durante o loucaute da NBA, acertou contrato com o Union Olimpija, clube esloveno com participação em Euroliga e lá assumiu um papel de protagonista. Quando retornou ao Spurs, se aproveitou de uma lesão de Manu Ginóbili para mostrar serviço e se tornar titular da equipe texana, defendendo desde um Chris Paul a um Dwyane Wade. Acabou entrando para a galeria dos "típicos jogadores do Spurs de Popovich".
Danny Green precisou legitimar seu basquete na Euroliga |
- Gerald Green (Nets): fenômeno no high school, o ala pulou a etapa universitária para ingress direto na NBA em em 2005. Saltava até a lua, mas não tinha muita noção do que mais poderia fazer em uma quadra de basquete e não entendia bem o que os críticos queriam dizer quando lhe apontavam isso. Com base em seu talento puro, Timberwolves, Rockets e Mavs ainda investiram em seu talento. Em 2009, porém, estava fora da liga. Foi para a Rússia, passou pela China, jogou na D-League, foi dispensado pelo Lakers antes de a atual temporada começar e só retornou para valer no meio do campeonato e, quando achava que as portas estavam fechadas para valer, foi chamado pelo Nets. Num time de perímetro remendado, teve uma chance verdadeira e a aproveitou. Bem mais empenhado na defesa, mais consciente no ataque, maduro, conseguiu um contrato e dificilmente vai tornar a vagar por aí.
Gerald Green ainda pode saltar muito. Mas não é só isso |
- Lester Hudson (Grizzlies): graduado por Tennessee Martin – pela qual foi o único atleta a somar um quádruplo-duplo na história da elite universitária, com 25 pontos, 12 rebotes, dez assistências e dez roubos de bola em partida contra Central Baptist College – em 2009, o ala-armador foi o penúltimo jogador do draft daquele ano a ser selecionado, ingressando no Boston Celtics. Foi dispensado em janeiro de 2010, assinou com o time de sua cidade natal, Memphis, mas a primeira passagem não durou mais de cinco meses. Hudson, então, também prestou serviços na D-League, competiu com Gerald Green na China e aterrissou na NBA no dia 30 de março e, do nada assim, na reta final teve médias de 12,7 pontos em 24,2 minutos pelo Cleveland Cavaliers, surpreendo a lacuna criada pela lesão de Kyrie Irving. Teve uma seqüência de 93 pontos em quatro jogos digna de Jeremy Lin. Com era em Cleveland, poucos notaram. No fim, foi ousado e optou por não estender seu vínculo com a franquia. Preferiu fechar novamente com o Grizzlies.
Lester Hudson migrou para ser cestinha na China |
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