Arte do Território LNB, blog da liga |
Todo árbitro vai dizer a mesma coisa, e com
razão: errar é humano. Foi o que Renatinho reiterou hoje no Twitter, e não há
como contestar isso de modo algum, assim como o fato de que os homens do apito
e goleiros estão fadados a uma pressão descomunal no esporte.
Então me diga você: se ouvir os gritos de chorões,
torcedores e corneteiros antes, durante e depois do jogo já é um pé no,
digamos, talco, para que arrumar ainda mais pressão e atenção para eles?
Agora vocês sabem do que estamos tratando, não?
Os microfones de lapela nos playoffs do NBB.
Resgatando o questionamento: se a vida de juiz
é complicada desde o princípio, com dois ou três profissionais em quadra, se o
resultado de suas marcações já são controversos por natureza, não há razão para
atrair mais atenção para eles. E o que vemos no momento vai em direção oposta a
esse raciocínio: com som ambiente durante todo o jogo, resolveram
transformá-los em estrelas do espetáculo.
O comentarista babão vai falar em “aula magna”
em quadra do árbitro. Esse é o argumento por trás dessa decisão: que os juízes
ajudam o “leigo” (eu mesmo) a captar, assimilar os detalhes e nuanças do
jogo. Podem dizer também que é um chamariz, uma atração especial – não sei se houve alguma pesquisa nesse sentido, ou se foi apenas a 'sacada' de alguém. Se é disso que o NBB precisa para se firmar e conquistar audiência, lascou.
Capacitados para isso os juízes precisam estar. Para apitar, você deve realmente conhecer os
fundamentos do jogo para poder avaliar o que é uma carga ofensiva ou falta do
defensor e processar esse conhecimento rapidamente para definir suas marcações.
Afinal, você fiscaliza o jogo.
Mas as obrigações do árbitro se encerram
basicamente por aí. Árbitro não tem de ensinar nada a ninguém, muito menos ser cômico – e, se for, isso deveria ficar restrito a quem está em quadra. Existem
comentaristas e locutores para dar conta dessa tarefa.
Vamos além: me desculpem colocar deste modo,
não era para ser notícia, mas árbitros não nasceram no esporte para serem
estrelas. Simples assim.
Acontece que, diante da carência olímpica e de
títulos expressivos por que o basquete nacional passou nas últimas décadas,
além da rapaziada na NBA, os únicos protagonistas brasileiros em Mundiais e
Olimpíadas que estavam na TV eram justamente nossos árbitros. Então, a cada
transmissão de Campeonato Paulista ou Nacional masculino, lá estavam os milhões
de elogio, tapinhas nas costas e mimos – quem não se lembra do chute de três pontos e assistências deles no Jogo das Estrelas? Tem limite pra festa. Parabéns a esse pessoal, que chegou até
lá. Certeza que eles têm muitas histórias para contar de bastidores.
Dupla pinheirense quetiona Renatinho, aparelhado com microfone |
Mas fica o reforço sobre como termina o
parágrafo: bastidores, o espaço que cabe aos homens do apito, assim como a
jornalistas.
E ainda há um terceiro ponto, mais subjetivo, mas que merece
ponderação: de certa forma, o microfone em um árbitro não funciona como uma
interferência antiética (não sei se é o melhor termo, mas sigamos com ele) na
condução da partida?
O microfone em um árbitro não influencia diretamente a relação dos
donos do apito com os jogadores? Mesmo que inconscientemente, acredito que sim. Não se trata de um
mero detalhe, enfeite. É como se fosse uma câmera escondida às avessas:
escancarando tudo, e todo mundo sabe que o apetrecho está lá. E ele não blinda árbitro de nada. Muito pelo contrário: só os expõe.
Por fim, no mesmo bate-bola fulminante com o Renatinho pelo Twitter,
perguntei se o microfone lhe ajudava
em algo em relação a uma condução técnica na partida.
O que ele respondeu foi o seguinte: “Giancarlo, em termos técnicos
não ajuda em nada, mas nesse momento é uma solicitação com um objetivo
específico…”
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