Cuban e Stern não se bicam. Até que encontram uma luta em comum... |
Considerando o volume dos seus negócios e a franquia que ele
reconstruiu, não é muito esperto questionar as ideias de Mark Cuban, o
proprietário do Dallas Mavericks.
Mas nesta quarta-feira o milionário usou seu tino comercial para
tocar em alguns assuntos um pouco mais complexos do que a simples necessidade
que ele tem de fazer dinheiro e conduzir um bom negócio. “É o maior erro que a
NBA comete”, ele costuma falar.
Ao ser informado sobre a cada vez mais forte propensão da NBA a
tornar as Olimpíadas uma competição sub-23, tal como faz o futebol, Cuban se
entusiasmou e falou um monte ao ESPNDallas.com.
Sua declaração que mais me chama a atenção:
“Ficaria ainda mais empolgado se a NBA começar seu próprio
campeonato mundial. Deste modo, as receitas do torneio poderiam ser compartilhadas
com nossos jogadores. Quando as receitas vão para a Fiba, eles ganham quase
nada. As equipes não ganham nada”.
Difícil saber por onde começar:
1) a NBA organizar seu próprio Mundial, então? Como uma entidade que
funcione concorrendo com a federação internacional? E assim a NBA faria mais
dinheiro ainda com o basquete internacional, certo?
2) depois da briga de foice que foi o loucaute da NBA neste ano,
qualquer argumentação sobre a divisão de lucros e receitas entre atletas e liga se
torna bastante suspeita – e um argumento bastante malandro de Cuban nessa
altura da vida.
3) qual campeonato conta mais no mundo do basquete ou em cada país:
seu Mundial, que agora será chamado de Copa do Mundo, ou os Jogos Olímpicos?
Quem é David Stern ou Mark Cuban para julgar o que é mais interessante?
Interessante apenas para a NBA, claro. Esporte hoje, então, é puro lucro e só? Não há mais espaço para um Kobe Bryant, quebrado, querer defender os EUA? Ou um Luol Deng que posterga uma cirurgia no pulso porque seu sonho é defender a Grã-Bretanha e ganhar um título pelo Bulls também no mesmo ano?
4) serviu para resgatar o prestígio do país na modalidade, sim, mas
a investida do “Dream Team” americano nos Jogos de Barcelona 1992 serviu também
para consolidar a NBA como um torneio de chamariz internacional, aproveitando a
presença de ícones como Magic, Bird e Jordan. Ali, então, seviu?
5) Cuban contesta também que os jogadores que emendam uma temporada
de NBA com as competições pelas Seleções ficam esgotados, mortos, sem condição
de jogar 100% por aqueles que pagam seus salários. O que seria injusto. Tem
certa razão, mas reduzir a enfadonha e maratonística temporada de 82 partidas
da liga norte-americana... Nem pensar?
Esse tipo de discussão ainda vai aumentar no futebol, com a
inquietação cada vez mais barulhenta dos grandes clubes em cederem seus atletas
para as seleções nacionais. A NBA está ligada, atenta, como sempre.
E pode ter certeza: se a turma de Stern está mencionando isso
publicamente por uma segunda vez é porque, grosso modo, eles já tomaram a
decisão e, depois de Londres, vão bater na porta da Fiba para tentar aprovar a
pauta.
“Vamos dar um passo para trás depois, juntos com a USA Basketball e
a Fiba (...), e junto com um comitê de competições dos proprietários (das
franquias), temos de avaliar profundamente, numa visão de longo prazo, o que
faz sentido para a NBA e para o jogo”, disse Adam Silver, braço direito de
Stern e cotado como o próximo comissário da liga.
Será que completaremos o círculo? No Rio 2016, uma Olimpíada sem
atletas da NBA? Agora... Por que só sub-23, então? Os EUA que se virem com o que
podem oferecer, conforme discutido aqui já.
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