terça-feira, 29 de maio de 2012

Você de novo

Um jogo de basquete jamais pode ser definido pelo confronto direto entre dois jogadores. LeBron x Kobe. Magic x Bird. Alex x Marquinhos x Marcelinho. Nem mesmo o Fúlvio x Nezinho que teremos na final do NBB neste sábado.

Mas se essa última é uma contraposição no mínimo interessante de se observar em Mogi das Cruzes?

Ô, se é. 

Para não dizer imperdível, por diversos fatores.

O mais imediadista e instigante – além da disputa pelo título, claro – é o fato de um seguir prestigiado, de certa forma, ao ser incluído na pré-lista da Seleção que vai para o Sul-Americano, enquanto o outro, já sabemos quem, aparentemente não fez o bastante nos últimos dois anos para ser lembrado nem mesmo numa convocação tão vasta como a recente.

Hoje mais calmo, Fúlvio liderou o NBB4 em assistências
Os dois armadores são de 1981. Já devem estar cansados de se enfrentarem. Franca x Ribeirão, Mogi x Ribeirão. Se não me engano, jogaram até juntos na última temporada do COC e talvez em Brasília, quando o armador se recuperava de uma lesão no joelho. Corrijam o que tiver de errado aqui, por favor.

Cada um chegou até aqui por caminhos diferentes. Nezinho rodou bem menos: jogou um tempão em Ribeirão até o clube fechar as portas em 2006. Desde então, passou por Brasília, Assis e Limeira até voltar ao Distrito Federal pra ficar. Fúlvio viajou muito mais. Entre Franca, aos 20 anos, e São José agora, foram oito escalas, três fora do país, duas na Europa. Aos 31 anos um, aos 30 o outro, respectivamente.  Mas maturidade fora de quadra nem sempre se traduz para dentro.

Mesmo nos jogos em que as pessoas julgam que ele foi “impecável”, Nezinho ainda apronta muito em quadra para justificar sua convocação – como no quinto jogo contra o Pinheiros, para selar a classificação para mais uma decisão. Em cerca de 39 minutos (só um de descanso, então), ele teve 20 pontos e oito assistências. “Impecável” seria se não fossem os cinco erros acumulados no jogo e os seis chutes de três pontos desperdiçados na quadra.

Nezinho, nem sempre fácil de assimilar
Aí você pode mandar o blogueiro parar de ser ranzinza, chato, ou sei lá o quê – como se fosse nossa obrigação ser o boa praça da praça que nem é nossa. Que só enxerga o lado ruim da coisa – como se apenas jogar confete fosse o ato legítimo também. Que nhe-nhe-nhém demais. A defesa é que, no domingo, tiramos o traseiro do sofá já castigado do QG 21 para ir ao ginásio.

No primeiro quarto, na cara, estava lá o Nezinho infernizando (o oponente): acertando tudo de três pontos, voando baixo no contra-ataque. Ele pode dar um sacode daqueles nss defesas com sua ainda excepcional velocidade e agilidade. Então, pronto: cheio de confiança, peito estufado pronto para derrubar o adversário, batendo a mão no peito a cada cestaça, a cada “bolinha” maluca que caía: 15 pontos de vantagem, caramba!

Depois... Você bem que sabia que teria uma continuação a história. Seu desempenho a partir dali faz do termo errático algo que até beira o eufemismo. Quanto mais ouriçado no jogo, mais perigoso Nezinho fica para os dois lados, tomando decisões com a bola altamente questionáveis – como seu chute de três pontos ao final do segundo período, meio que na passada (ou “off the drible”) resultando num airball. O detalhe? Faltavam dez segundos no cronômetro de jogo, coincidentemente os mesmos nove ou dez segundos no seu relógio de posse de bola. Seu time estava quatro pontos na frente do placar.

Percebe? Se não, vamos deixar bem claros: por que um armador de 31 anos, com um currículo vencedor e que se diz maduro, ainda se permite chutar uma bola sem nexo algum, com o cronômetro a seu favor, correndo o risco de seu adversário reduzir (ainda mais) a sua vantagem no placar, num quinto jogo de semifinal do NBB? Uma bola daquelas? Contestada e em movimento? Francamente: não tem como defender essa. 


Mas só uma bola? Não, como exemplo desse microcosmo peculiar do espevitado armador também tem o passe de Tom Brady que vara a quadra e bem que podia cari na mão do mascote, quando seu time, já no quarto período, está novamente só precisando administrar uma vantagem no placar para carimbar a vaga. Ninguém está pedindo a perfeição. Mas existem meios e meios para se cometer um erro, uma violação. No caso de Nezinho, o grau de inconsciência que um jogador com sua experiência chega a atingir preocupa e tem de ser questionado.

"Ah, mas o Fúlvio já teve chance...": já faz tempo que ele não é chamado, desde 2009
Fúlvio também já viveu seus dias de jogadas “And 1”, com chutes de três pontos mal preparados “na cara” dos marcadores. Muita gente vibrava com isso, ele incluso. Era mais um terrorzinho nos Campeonatos Paulistas. Hoje está mais sossegado e paciente.

Hoje, ainda queima muita bola de longa distância, mas, aí, sim, com resultados que são difíceis de criticar. Seu aproveitamento na liga foi de 44,4%, algo excelente – inferior ao que se consegue na zona de dois pontos, mas há de se levar em conta que o chute de fora também conta mais no placar. Nas semifinais contra o Flamengo, esse percentual subiu para 50%, encaçapando 15 de 30 tentativas (três a cada seis por jogo, em média).

De novo: é um número elevado de arremessos do perímetro. Por outro lado, o percentual mostra que eles vêm em condições mais equilibradas dos que  arrisca seu adversário finalista. Na semi contra o Pinheiros, Nezinho chutou 9/34 (26.4%). Cada confronto é uma história, jogar cinco vezes contra o Pinheiros não é o mesmo contra o Fla, mas deu pra sacar, né? Para tirar qualquer dúvida, segue a pontaria do brasiliense na temporada: 32,2%.

Em termos de volume ofensivo como um todo, Fúlvio sobra nas assistências por jogo, com 8,2 assistências contra as 5,6 de Nezinho – além do mais na média de passes para a cesta e desperdícios de bola, o são-joseense, que ainda pode acelerar, mas funciona bem melhor em meia quadra ofensiva, também leva a melhor com 2,53 contra 1,67. 

Sem ser tão inocente ou tendencioso, há de se dizer que Nezinho faz mais pontos (16,4 a 12,1). O time de Vidal, na verdade, concentra seu ataque: tem quatro jogadores com duplos dígitos em pontuação (três acima de 16 por jogo) e apenas mais dois acima dos 5 pontos (Tischer e Cipriano, a turma da rebarba). São José, por sua vez, tende a espalhar mais as cestas por seu elenco: são os cinco titulares acima dos 10 pontos por jogo e mais três reservas com pelo menos 5.

Nezinho ainda está entre os selecionáveis
O plano de jogo, então, influencia esses números todos. Um time aposta mais em seus atletas tarimbados, enquanto o outro confia num elenco mais homogêneo, e seus  armadores são os condutores designados – e contratados – para bancar essas ideias em quadra. Hoje, são dois tipos diferentes de basquete que praticam esses dois já veteranos nacionais. 

Um só duelo ganha jogo?

Não.

Mas, neste caso, vai ser inevitável a comparação no fim.

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