Não era nem para eles estarem aqui, e não só porque os especialistas (oi?) não viam muita coisa neste elenco, ainda mais depois de uma exibição bem triste em sua estreia contra o Brasília no dia 21 de novembro, na qual o time da capital não ajudou muito.
Antes de qualquer análise tático-técnica, porém, não era para o Joinville entrar em quadra nesta quinta-feira com a chance de carimbar, em pleno ginásio do Pinheiros, sua vaga na semifinal do NBB, pelo simples fato de que o clube, por pouco, não participava do campeonato.
Com problemas financeiros, após a perda de sua principal cota de patrocínio, um dos projetos mais bem sucedidos do basquete nacional, considerando sua identificação incomum com seu município, beirava o ostracismo.
Cinco meses depois, eles primeiro vencem o poderoso Pinheiros com tranquilidade em casa – aliás, um item esdrúxulo no regulamento do NBB esse o de a melhor campanha começar um mata-mata como visitante: algo injustificável –, para depois surpreender e abrir 2 a 0 na série, como visitantes.
Minutos depois desse segundo triunfo, paramos Shilton, o capitão de Joinville na saída do vestiário, para tentar entender o que colocava o Joinville a um triunfo de causar uma das maiores surpresas da história da competição. Não há melhor figura para colocar as coisas em perspectiva.
"Sou suspeito porque estou há muito tempo em Joinville. Cheguei antes de diretor, presidente, técnico. É minha oitava ou nona temporada. Meus dois filhos são de Joinville. Fico muito feliz, tenho sentimentos diferenciados pela cidade e por essa equipe. É um marco para a minha carreira", afirmou ao VinteUm.
Capitão, de verdade, Shilton tem a honra de falar ao VinteUm. Coff, coff |
O período de drama, a dura possibilidade de que o time poderia ser desmantelado, pode parecer bem distante da cabeça desses jogadores. Na verdade, está e não está. O time, hoje, exala confiança. Toda a dificuldade enfrentada, contudo, ainda faz parte, de algum modo, parte do que a equipe apresenta neste momento.
"A adversidade deixa um pouco triste, mas na hora que você se compromete e começa o trabalho, isso aí só vem ajudar. A gente realmente traz tudo isso, que foi difícil, para o jogo. Cada jogo é uma dificuldade. Foram 28 dificuldades a cada rodada. Não tivemos nenhum jogo que possa ser chamado de tranqüilo. Nenhum. Agora (o terceiro da série) é mais um. Sabemos que a equipe do Pinheiros é fortíssima, com um ataque aguçado. Mas trabalhamos dia após dia, com a defesa. Vamos ver o que a gente pode fazer", diz o ala-pivô.
Neste ponto, mérito do grupo, que soube perseverar, e do técnico José Neto, que conseguiu canalizar a frustração inicial para o fortalecimento emocional desse elenco. Você não consegue imaginar o discurso? "Depois de tudo o que a gente passou, não é agora que vamos ceder", pode ser uma das enumeras frases de uma preleção. "Quem ficou foi porque quis. Quem veio foi porque acreditou no projeto. Depende exclusivamente da gente", diz Shilton. Temos um ótimo ambiente e todo mundo sabe, a cidade e os adversários."
Pode parecer o maior dos clichês.
Mas, vendo de perto – beeeem de perto mesmo – no fundo da quadra do Pinheiros, a primeira coisa gritante é a disparidade de comportamento entre os dois times. O barulho que o banco de Joinville faz na linha lateral, a vibração desses atletas engole o moribundo agrupamento mais distante, o do adversário, que, pasme, era o anfitrião. Cada posse de bola rival fracassada era aplaudida como se fosse uma própria cesta.
Em ação, a intensidade dos rapazes de preto e vermelho também parece maior. E aqui o Pinheiros sente muita falta do que Olivinha faz de melhor: com uma contratura muscular na perna, o ala-pivô tem sua mobilidade reduzida, limitado muitas vezes ao chute de três pontos, sem poder brigar debaixo da tabela. É como se o coração do time de Mortari tivesse sido arrancado.
Olivinha, lesionado, não vem conseguindo brigar para valer contra um oponente aguerrido |
Para Shilton, essa intensidade, essa vibração de sua equipe é nada mais que natural. "Neste grupo temos uma vantagem: a gente se gosta muito. Somos amigos fora da quadra. Isso não decide jogo, mas dá muita força para a gente", afirma. "A nossa força é o conjunto. O Shilton não é um craque de bola, não temos craques. Kojo e Bishop são grandes jogadores, mas eles não vão decidir um jogo por conta."
A adição dos americanos Kojo Mensah e Rashad Bishop, aliás, é um capítulo à parte. Há casos célebres no NBB de estrangeiros que podem até ser abraçados pela torcida, mas acabam rejeitados pela trepe local no vestiário, ou que sua integração acaba demorando muito mais do que o esperado, sabotando um campeonato. (Alô, Franca). No caso de Joinville, a adaptação dos dois gringos foi muito rápida e teve o efeito contrário: colocou o time na briga.
"São duas pessoas muito boas, dois homens que trabalham em prol da equipe. Jogar bola todo mundo está vendo que eles jogam, que cada um tem sua qualidade, o benefício que eles trouxeram para a equipe", afirma Shilton. "Mas são duas pessoas de grupo, e esse é um grupo que se gosta. Trazendo duas pessoas que vêm somar e querem se integrar, isso foi muito positivo. Porque dentro da quadra a gente se acerta, o basquete tem uma língua universal."
Em termos técnicos, Kojo, extremamente atlético, com um primeiro passo explosivo, o corpo forte que lhe ajuda a finalizar debaixo do aro, era tudo o que o time precisava: alguém capaz de criar jogadas por conta própria, quebrar as defesas e abrir o ataque para seus companheiros ganharem mais liberdade e eficiência no arremesso. (Para saber mais sobre a história do armador e o que ele pensa do que vem acontecendo, clique aqui que o Fábio Aleixo, do Lance!, conta tudo).
Contra o Pinheiros, aproveitando os bloqueios implacáveis de Shilton, o norte-americano se viu por diversos ataques seguidos isolado em quadra com um pivô em sua marcação. Aí os grandalhões viram presas fáceis, sem conseguir impedir o avanço veloz do atleta – demorou muito para o time da casa ajustar a defesa e se livrar do corta-luz no centro da quadra, algo que requer muita concentração e disposição para suportar o tranco.
Essas características, no entanto, de nada adiantariam se Kojo não fosse aceito por aqueles que estavam lá antes, por mais que seu talento pudesse fazer a diferença. Por isso, José Neto procurou diversas fontes para levantar um histórico da dupla norte-americana. Com pouco dinheiro para investir, o clube não poderia errar em suas apostas. "Soube que vários nomes foram oferecidos, mas procuraram saber a personalidade deles", diz Shilton. Numa equipe como a nossa, precisávamos de jogadores que não contribuíssem só dentro de quadra."
Audrei chuta livre, e Shilton já deixa Shamell para trás em busca do rebote |
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