quarta-feira, 2 de maio de 2012

Quando o comissário comissaria demais


Depois de Michael Jordan, Larry Bird e Magic Johnson, aparece David Stern na ordem de relevância da revitalização, expansão e dominância da NBA no basquete mundial. Vai ter quem advogue até mesmo que o Dr. Stern venha só depois de MJ. Que diferença faz?

Tamanho poder, porém, pode dar ao ser humano a sensação de que nada do que você fala pode causar qualquer impacto negativo ou encarado como asneira. Tendo em vista a quantidade de puxa-sacos com que o comissário da liga se relaciona em seu dia-a-dia, jornalistas mil incluídos, não é de se estranhar. 

Aqui longe nos trópicos, hoje mais frios que NYC, nos sentimos confortáveis o bastante para ignorar toda essa pompa e dar uma cacetada ou outra nesse gestor – ou ditador, se for perguntar para CP3 e Wade.

Yumi, yumi, nhem, nhem, diz David Stern
Cacetada 1: "Foi uma ótima temporada!", exclamou Stern em uma coletiva nesta terça-feira, ao se defender de críticas por parte de jornalistas da co-irmã ESPN. Michael Wilbon e Chris Broussard associaram as lesões lamentáveis de Derrick Rose e Iman Shumpert ao impacto dos jogos excessivos da campanha regular. 

Olha, não é ciência exata. Pode ter sido mero azar, uma coincidência dos diabos. Mas isso não impede também que qualquer pessoa sã faça a associação, porque os jogadores foram submetidos a um estresse sem precedência em seus joelhos, costas, tornozelos, punho, cabeça, pulmões e coração nos últimos cinco meses. 

Que Stern tenha optado em ironizar os parceiros de ESPN, na verde, só mostra o extremo a que ele tem de apelar para defender o indefensável. 

David Robinson em ação pelas Olimpíadas de Seul 1988 não foi o suficiente pelo ouro

Cacetada 2: cedendo ao lobby cada vez mais crescente dos proprietários da NBA, Stern sugeriu que o COI adotasse, depois de Londres 2012, o mesmo sistema do futebol para o basquete olímpico. Ou seja: seleções formadas com atletas sub-23. 

"É o maior erro que a NBA comete", diz Mark Cuban, dono do Mavs, que cedeu Dirk Nowitzki a vida toda para a Alemanha. Cuban, em seu argumento, tem alguma razão: as TVs, a USA Basketball, o comitê americano e o próprio COI lucram uma barbaridade com a presença de astros como Kobe e LeBron. Esses, teoricamente, não levam nada do bolo, ao contrário do que acontece em seu campeonato. 

A distribuição de fato poderia, e deveria, ser mais justa. Por outro lado, há limite para se pensar em grana. Kobe já comparou seu o ouro a um título com o Lakers. O problema dessa sugestão de Stern, contudo, vai além: e quem disse que o mundo do basquete se resume a representação da NBA? O CEO da Euroliga está de acordo? O NBB? A ACB? A liga chinesa?

Se os EUA quiserem compor uma seleção sub-23, que o façam. Neste ano, teriam escalado gente como Kyrie Irving, Anthony Davis, James Harden, Kenneth Faried e sei lá mais quem. Seria um timaço, de qualquer jeito, para brigar pelo ouro. Mas ganharia? Em 1987, David Robinson, Danny Manning, Pervis Ellison – três escolhas número um de draft da NBA – tomaram a virada histórica diante do Brasil. Em 1988, com a mesma base, foi a vez de sucumbirem diante da União Soviética. 

Sub-23? Fiquem à vontade.

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