domingo, 3 de junho de 2012

Os tricampeões do jogo de sempre

Alguns passinhos para a frente: em meio ao caos, Giovannoni destoou e foi eleito o MVP
Na final de partida única do NBB4, quem sentiu o baque foi o São José. Era esperado que os nervos estivessem pressionados, ainda mais com a exposição em TV aberta, mas foi decepcionante ver o estado psicológico do time em paulista, na real, em frangalhos.

Não dá para atirar a culpa para cima de uma tabela supostamente injusta, com o clube privado de jogar em seus domínios, com uma só chance de confirmar sua melhor campanha na fase regular pelo título. As regras eram essas, sabidas há tempos. Considerando o início desastroso diante dos tricampeões de Brasília, faltou ao time de Marrelli um melhor preparo emocional para o que estava por vir, não há dúvida.

De sua parte, os candangos fizeram aquilo que lhes cabia: deram um senhor empurrão nos adversários para jogá-los ladeira abaixo. Nezinho adiantou sua marcação para o campo de ataque e cafungou no encalço de Fúlvio, sem deixar o armador confortável. Seu velho rival não soube responder e se encolheu. Teve dificuldade, inclusive, para efetuar seu primeiro passe em alguns ataques. (Na hora, lembrei de suas partidas pela Seleção em 2008, com Moncho, em Atenas, em que penou barbaridades diante de Diamantidis, Zisis e tropa de choque grega, mal passando da metade da quadra).

Sem ter seu condutor num jogo minimamente razoável, São José, então, se atrapalhou todo em quadra. Murilo, melhor jogador do campeonato, não foi acionado do modo como prefere, se viu obrigado a jogar de costas para a cesta – algo que nunca foi o seu forte, uma fragilidade técnica (foram seis erros, com um drible muito mole) que fica ainda mais exposta quando confrontado por homens tão grandes como ele ou até maiores, caso de Alírio e Tischer. Depois de algumas tentativas frustradas no primeiro quarto, o pivô passou a se omitir no ataque, inclusive abrindo mão de alguns arremessos após ter apanhado o rebote ofensivo (oito no jogo), passando a bola para a fora um tanto amedrontado.

O gaúcho só deslanchou no segundo tempo, quando o confronto já estava praticamente decidido. Daí que seu double-double de 20 pontos e 14 rebotes parece um monstro de estatística, mas não conta de modo algum o que foi sua atuação. Nesta final, Murilo deu muita lenha para seus críticos que o julgam “um leão para o NBB”, incapaz de produzir lá fora.

Do ponto de vista tático, há de se lamentar apenas a inacreditável demora que São José e seu astro tiveram para entender que seria melhor que ele investisse de frente para a cesta, aproveitando seu arranque, em vez de tentar na trombada.

De modo geral, se o pick-and-roll estava anulado pela partida sofrível de Fúlvio (lembrando: 0/7 nos três pontos, três assistências e cinco erros, numa valoração de -3, argh), o time e o técnico falharam em se ajustar no decorrer da partida. São José não encontrou outros meios de buscar a cesta, com jogadores estagnados em quadra, para não dizer sorumbáticos.

O resultado? Uma chuva de tiros de três pontos, uma enxurrada de falta de bom senso, da qual Brasília foi um cúmplice perfeito, diga-se. Juntos, os times cometeram 49 bolas de longa distância, das quais apenas 11 foram convertidas. Aproveitamento de 22,4% horrendo. Não há desculpas para um número absurdo desses, então. Foram mais de 12 arremessos de três por quarto, o que dá mais de 1 um arremesso de fora por minuto, o que dá mais ou menos a média de um pombo sem asa a cada duas posses de bola. Ninguém joga deste jeito lá fora, a não ser na liga de Porto Rico. E olhe lá.

São José contou apenas com a lucidez ofensiva de Dedé em alguns momentos para não perder a partida logo nos primeiros 20 minutos. O ala foi dos poucos que não se mostrou abalado e conseguiu criar boas oportunidades com sua movimentação astuta, que equivaleu ao que Arthur fez do outro lado. 

Mas era muito pouco para fazer frente a Giovannoni e Alex neste sábado, dois sujeitos que desta vez justificaram na quadra suas insígnias de cardeais (autoforjadas). Guilherme , com justiça, foi eleito o melhor da final, por ter sido aquele que destoou em meio ao caos total, não apenas por ter acertado 11 de seus 15 arremessos, mas pelo modo como pensou o jogo. Nove de suas cestas saíram no perímetro interno, o que demonstra consciência e concentração reforçadas do veterano para a decisão: fez bom uso de seu jogo de pés para buscar os melhores e mais eficientes arremessos.

No fim, foi o mesmo jogo brasileiro de sempre, com os mesmos caras de sempre vencendo no final. Tricampeões merecidos: nesse tipo de jogo, por cá, parece que não há melhor, mesmo. 

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